Roberto Matheus da Costa
Existe um mundo cruel tentando nos engolir, e muitas vezes nos colocamos bem diante da sua boca esperando ser tragados.
Não me pergunte se sou feliz, pois minha felicidade está vinculada a outra pergunta: faço alguém feliz?
Não se procure em mim, pois em mim você não vai se encontrar. Se procure em si mesma, para que ao me encontrar você descubra quem eu sou, e não quem gostaria que eu fosse.
A maior blindagem é a emocional: ela nos faz minimizar os impactos do que é ruim nos outros e em nós.
O fato de você acreditar em algo não significa que você é um crente na verdade, apenas um crente convicto.
Crer em algo não torna sua crença verdade, pois é possível crer no maior absurdo como se fosse a verdade mais original.
Os poemas que escrevo são como filhos oriundos de um parto poético, alguns fiz força para surgirem; outros, nasceram suavemente. Todos eles ganham vida ao se misturarem nas experiências diárias de outros poetas, outros leitores(as), outras vidas. Como "filhos", os poemas que escrevo recebem um nome em seu início, uma história em seu corpo, e uma data de nascimento em seu final, não que ele tenha nascido e morrido naquele momento, mas porque a partir de ali ele passa a ganhar vida em outras vidas, e na minha própria, sempre que eu o observo novamente.
Escrever não é uma tarefa inacabada. Independente da conquista de leitores, da crítica, da obscuridade, ou mesmo do sucesso e grande popularidade literária, escrever é uma arte plena, não sendo escrava de outro processo, o de leitura, mas sendo o lindo e completo fruto de uma alma que não se conteve.
A impotência de ter domínio sobre sua própria história é uma das maiores limitações humanas. A impotência de saber que nem tudo depende só de si mesmo, dos próprios recursos, sejam eles materiais ou imateriais. Muitas vidas sem sentido, ou buscando um, ou simplesmente desistindo, ou tendo um sentido ilusório e enganoso.
Minha intensa sede de leitura é desproporcional a minha capacidade financeira de comprar os livros que desejo e ler os que já possuo.
ESTOU ME DESFAZENDO
Estou me desfazendo
Daquelas gravatas,
Que apertam a garganta;
Daquelas bravatas,
Que ao pequeno agiganta
Em uma doce ilusão
E em engano suplanta.
Estou me desfazendo
Daquelas juras de amor
Que não saciam
A alma vazia;
Apenas viciam
Em sabor de um talvez,
Muitos se asfixiam.
Estou me desfazendo
Do que posso obter,
Ou que penso poder.
Quanto custa o prazer?
Para a alma cansada
Da paixão o suplício,
Esquecida ou amada.
Estou me desfazendo
Do que fui anteontem,
Se me lembro do ontem
É para meu martírio.
Entregar-me ao delírio
De uma vã nostalgia?
Sai fibromialgia!
Estou me desfazendo
De tudo que não é meu
Mas que tenta reter-me
Em prisão ilusória
Envolver-me em história
Triste, fantasiosa
Intenção gloriosa!
Estou me desfazendo
Trocando o certo
Pelo duvidoso?
Não! Apenas aberto
Ao que é glorioso
Mas pouco perseguido
Pois é angustioso.
Estou me desfazendo
Do que dizem ser amor
E insiste em ter guarida
Em meu interior
A pessoa preferida
Talvez não seja um amor
Mas somente uma paixão.
06/10/2015 (13h02)
LAMAÇAL DA HUMANIDADE
Envoltos em lama
Na dor da tragédia
Miséria humana
A morte no rio
De nome Rio Doce
Vida por um fio
Como se não fosse
Poder piorar
Depois da secura
Represas, rejeitos,
Lama quem segura?
Arrasta e destrói
Arrasa famílias
Mata pais e filhas
E enterra na lama
Prenúncio de gente
Há muito enterrada
Em meio ao suplício
Não só em Mariana
Mas em todo mundo
Brasil e na França
Em pesar profundo
Pelas explosões
De bombas e vidas
Gatilho das ilusões
E do extremismo
Da fé assassina
Que encontra otimismo
Na carnificina
Matando em nome
De um deus sanguinário
Ou imaginário
De um povo vazio
E cheio de ódio
Muito intolerante
Com o diferente
Pequenos relances
De uma dor latente
Que afeta a vida
E mancha a moral
Ou só evidencia
Que é imoral
E não se preocupa
Com o ser humano
Apenas se ocupa
Em provocar dano
Usando a tragédia
Em seu benefício
Amando o suplício
Para ter vantagem
Querendo que todos
Fiquem agarrados
Na lama, atolados
Ou que se explodam.
15/11/2015 (18h30)
Beto Costa
RIO DOCE
Sou um poeta que ama
Os rios, toda a natureza;
E quando ela reclama
E sofre perdendo a beleza,
Eu também me emociono
Ao ver o estrago da lama.
Ao rio fizeram algo insano
Restando a muitos o drama
De ter a vida atingida,
Trazendo sofrimento e dor,
Com peixes e gente afligida:
Índio, cidadão, pescador.
E agora não tem mais curimba
Cascudo, mandi ou dourado.
Cavar um poço, cacimba,
O estrago será demorado.
E tudo isso pela ganância:
A exploração do minério.
À vida não dão importância,
Não levaram o Rio a sério.
E quando estouraram barragens
Contendo rejeitos de ferro
A seca acabou com as forragens
A natureza dando berro
Gritando, pedindo socorro
E tudo isso deixa tristeza
“Me ajude, ou se não eu morro!”
A fauna e a flora em fraqueza.
Quando será que veremos
A vida em nosso Rio Doce?
E de su’água beberemos?
Achamos que piorar não fosse.
E agora temos que chorar
No velório de nosso rio
E a lama também vai ao mar
Só de pensar dá calafrio.
Agora é viver com os transtornos
Até que tudo isso acabe
Preservar dos rios os entornos
E que mais lama não desabe.
Beto Costa, Baixo Guandu-ES – 19/11/2015 (17h42 e 20h14)
RIO GUANDU
Você merece um poema,
Faz parte da nossa cidade.
Seria maior o problema
Sem água que calamidade!
Depois da morte do rio
O grande Doce, caudaloso,
A vida ficou por um fio,
Mas Deus é muito generoso.
Pois deu-nos grande privilégio
Possuir dois rios que beleza.
Baixo Guandu que sacrilégio:
Ficar sem água que tristeza.
Antes para tudo era o Doce;
Agora o Guandu nos inunda.
Imagina se pior fosse
E em crise pior tudo afunda?!
Meu Deus nosso muito obrigado!
De coração estamos gratos
Por dar-nos esse rio amado,
Como é bom quanto estamos fartos.
Precisamos dele cuidar.
A água é um bem precioso.
Matas e rios preservar,
Isso, sim, é um bem valioso.