Roberto Auad
uma minúscula tela todos os dias me decepa em vida
jorra sangue e lágrimas de destinos raros
sempre ao longe a lua ilumina aquelas poucas lembranças
rostos esquálidos, parados virtualmente.
As estrelas conspirando, por entre mil galáxias de tempo.
o que faço este eu perdido no portal desta nebulosa espiral
entre todos estes ciclos de tempestades estelares
sabe-se que andrômeda me é o tempo intransponível.
Resta um menino, paradoxo, livre, acalentando um sonho virtual
convertendo-me a sua vida, refugiando nossos corpos tardios.
saudade...
quero viver alguns momentos
parcos, breves, mesmo que raríssimos
viver.
a totalidade deste pouco
entrementes este estar alucinado é meu e único
é
todo o nosso porto seguro.
por vezes/ só/ quando me falta o chão/ vejo estrelas por entre automóveis bizarros/ embaralhando loucamente as retinas/circundando pela contorno/ buzinas loucas/entorno de letras semi mortas/fluindo por um breve rufar de vida.
Me lembro bem, eis que aquele professor, ainda vivo e meu amigo, e só pode ser, pois ele ministro, me coloca a sua sobrinha, para ser estagiária num pequeno escritório para trabalhar comigo e ainda paga o salário da moça brilhante. Penso, exasperadamente o motivo disso tudo, e me vejo ali, nas escadaria que davam a congregação e ele me dizendo: estou lhe entregando o meu livro e lhe digo que sofri muito ao lê-lo. Ele é seu. Tratava-se da fenomenologia do espirito de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, sinceramente, não tive qualquer dificuldade. Na verdade, eu o Ricardo Antônio Lucas Camargo, Braga da Rocha, Vinícius Lima,talvez o Gladston Mamede II que eu tinha pouco contacto, e por certo diversos outros que não tive o prazer de prosear. Naqueles tempos duros na faculdade, que nos exigiam muitas vezes mais do que podíamos, ficou a certeza, que o trabalho intelectual, é árduo, pesaroso e muitas vezes extremamento doído, eis que muitas vezes abandonamos a vida, para embrenharmos na morte e entender o que significa a vida. Hegel como Marx entenderam que este ainda este pobre saber da experiência que faz a consciência, colocando-se contra os critérios de verdade, ali naquele momento, Kant, deixou de ser a priori de ser o único saber e a partir disto vi que a cultura passou a ser um dos pontos fundamentais do saber. è certo que homens, vaidosos como Marx e Hegel, travassem esta batalha histórica por anos luz, iluminando o pouco que ainda nos permite pensar no mundo que vivemos. Creo, que do conta ponto e voltando a Kant, que o paradoxo possível, é como Marx, aleatoriamente escreveu que o homem (capitalismo)chegará ao ponto de consumir ao extremo, que não será mais natural. Traduzo, o homem chegará ao extremo de seu consumismo, que não terá qualquer dádiva que a natureza um dia lhe ofereceu. Creio que com tudo que vivemos, Kant, Marx, Hegel e os citados, nunca seriam adversários nestes tempos de fim dos tempos.
é um destino de uma única nota
este estar só em dó maior
variações que atormentam diatônicas memórias
tensionam as cifras que descansam em sí.
Solitariamente em enredos apopléticos
vagueiam por estradas fúnebres em que vida escolhestes.
aos poucos estou deixando este mundo virtual
o corpo vai
dissipando pelo espaço todas as moléculas que dele nunca foram
teletransporto-me noutra dimensão
reencontro todos os carbonos, átomos e me vejo outro
noutro novo mundo.
roberto auad
só me restará o caminho insólito da escuridão
havia ao longe
entre os grãos de areia, uma nuvem de plasma
uma ameaçava plausível e derradeira
minha loucura se esvaía no confronto certo com a morte
a racionalidade tomava corpo
e eu
apavorado com sanidade
pedia aos deuses que me fosse breve aquela morte de vida.
caminho toscamente sob um sol de chuva negra, amargamente eu sei...
sou um vazio completo de sonhos e dores de um mundo depauperado
passo a passo visito suas curvas por ruas inundadas de rostos uniformes.
corro desconexo, piso lentamente afastando-me da vida, eu sei...
o corpo completamente fatiado, suas partes estão expostas ao delírio cotidiano
escondo os trapos de sua carne alva, sob o céu sombreado da iluminação pública.
religiosamente mostro os dentes amarelados de nicotina, é um sadismo onde acolho meus sonhos, pudicamente num copo de rum e um cigarro vagabundo, eu sei...
A minha dor, é o uivo do vento que se espalha pelo murmurar das folhas que caem no dia a dia das ilusões derradeiras.
sou um vazio completo de sonhos e dores de um mundo morto
toscamente sob um sol de chuva de fuligem e poeira radio-terápica
por ruas inundadas de rostos uniformes, passos que se afastam da vida
o corpo é tedioso, fatiado cirurgicamente para se esconder das luzes públicas
mentes, por fim...
acolho meus verbos instintivamente num copo raso de rum e um cigarro vagabundo.
a vida somente nos permite pequenos momentos de lucidez.
tergiverso o meu amor por ondas eletromagnéticas e inconstantes energias
não passamos de partículas energizadas constantemente em ebulição
vivemos no vazio da causalidade, um espaço disforme por vezes sombrio
por outras expandindo explosões cósmicas ainda indecifráveis.
somos de uma cultura instrumentalista, que nos choca ante a inevitável realidade disforme
é uma luz que se propaga, independentemente de sua massa inconstante
a olho nu, somos apenas um foton, acorrentados no espaço-tempo
um inacreditável encontro do destino, desmistificando toda lógica temporal de nossas vidas.
sou um homem só
sem qualquer limo com a solidão
só
somente...
um só, só em lá menor, só
e
só
... vivo apenas uma vida de viver.
eu preciso lhe encontrar
meu corpo arrupia
e
as lamparinas
não lumiam como as luminárias do nosso eterno destino.
um homem cético
só
alimenta-se da sórdida solidão
disfarçando este seu tanto de querer viver
só
lamenta sozinho o todo que se lhe aprisiona.
temos que ir para o Rio
não é só pelo mar
mas...
pela brisa salgada, que limpa a alma
e
aquece o coração.
há um silêncio no ar
uma quietude avassaladora
tão inquietante, que as nuvens de temor extinguiram-se, deixando um azul celeste apavorante.
emitindo sons inaudíveis,ensurdecedores, congelando os corpos no concreto rarefeito, que se desfazia tacitamente na mudez dos corações um dia aflitos.
desapareceu toda cólera que o rubor do versos marginais declamados numa noite agoniante, acalentava os fluidos despejados por entre, súplicas e angustias, nunca revelados.
restou...
um certo gosto, insalubre e deletério no limiar da insanidade do humano que fomos.
queres saber da vida, não me perguntes
sou um corpo indigente, numa cova rasa, coberta de cal e terra úmida.
queres atinar do amor, não me indague
sou um mero espectador do sofrimento quotidiano, entre almas enclausuradas por este verbo.
queres saber da morte, não me interpele
sou um daqueles, que lhe tem lúdica, certeza demolidora, para cada corpo deste universo.
só me restaram as dores da revolta
eu mudo...
exerço a loucura, que ainda posso expressar
é um último suspiro
derradeiro gesto de uma vida.
algumas gotas
poucas...
desabavam alucinadas do céu
me restou apenas um gesto
olhar delicadamente para cima
e
me molhar todo
com a alegria de uma criança quase perdida.