Roberto Auad
Não seguimos aquela cartilha que “o feio é perder eleições”, pois entendemos exatamente o contrário. O feio é ganhar eleições através da compra de votos, das falsas promessas, das ações políticas inconsistentes que transformam o jogo eleitoral só num jogo e em que a participação popular some após o pleito e o eleitor é tratado como consumidor de um ou outro candidato transformado em mercadoria ao sabor das conveniências do momento.
olhei e me dei conta do todo envolto naquele instante
a gaveta estava vazia, um mundo de nadas
cheia de memórias e perdidas lembranças
havia uma certa dubiedade ofuscando os olhos
ali naquele tudo inexato
&
pulsante desespero
corria por todos os poros a morte lenta e derradeira
era só um sentido
era só saudade.
roberto auad
molhei adocicadamente minha boca
por entre lábios delicados e finos
desenhados meticulosamente de carmim.
havia ali um gosto de chuva, daquelas que molham a terra
&
exalam este agridoce teratológico
disseminando um infinito olfativo das enxurradas libidinosas.
por entre línguas, salivas e caninos, restava um aluvião
... de cheiros, aromas e confusão.
sobrevivo... é uma simples tempestade que lava a alma e deixa seu encanto entre destinos opostos.
recebo todos os venenos deste corpo insólito
desta boca que me abarca e exaspera todos meus poros
inundando minhas veias
acalmando os compassos das artérias.
resta deste eu, apenas um olhar sublimado
sobre todo este seu eterno encanto.
roberto auad
Havia naquele olhar um certo pudor
exasperadamente pornográfico.
Era um corpo lascivo a beira do precipício
exalava dali, uma raiva lacinante
entremeados por ódios e rancores.
Foi uma alma tortuosa, acalentada pelo gosto vil da vingança
um ser acorrentado, num mundo só seu.
Acordei desesperado, suando em bicas, a boca seca e uma dor terrível assolava todo meu corpo. Tateei desesperadamente o criado mudo e o som deles estatelando no chão. Era apenas um gesto instintivo, já que eles não mais tinham qualquer valor terapêutico, e sim o tinham não duravam mais que minutos, porém, um alívio. Peguei-o principal deles e num gesto já experiente apliquei-o com calma e suavidade. Sabia que em alguns minutos passaria seu efeito, mas era o tempo suficiente para que me levantasse, tomaria água, iria ao banheiro, acenderia um cigarro, coisas banais, mas de suma importância naquele momento. O tempo passava e sabia que estava chegando a hora, todo aquele sofrimento, aquela dor intangível e inimaginável voltaria. Naquele poucos momentos, pude me olhar no espelho e ver que ali estava apenas uma carcaça, o rosto, os cabelos e impressionantemente havia ainda alguns dentes que relutavam em deixar aquele corpo em extinção. A dor voltou e como tsunami arrasava tudo naquele pequeno grão de areia que ia se desfazendo em milhões de outros. A dor era tanta que sufocava o que ainda restava do que chamamos de ser humano. Sentira que era a hora, já não havia o que fazer e tudo se resolveria, mas ainda me restava intacta outra dor, muito mais forte que aquela, que crescia, conforme esvaia o que restava naquele corpo semi destroçado. A dor da alma que de tão impactante, eu iria sabendo que não há mais qualquer tratamento, a não ser vê-la fluir lentamente, por entre as lágrimas que ainda me restavam.
A vida não passa de instantes absurdos
não passa de seus olhos em minha tela
desejo imensurável de sentir sua pele
não passa... o tanto que é inevitável.
por vezes/ só/ quando me falta o chão/ vejo estrelas por entre automóveis bizarros/ embaralhando loucamente as retinas/circundando pela contorno/ buzinas loucas/entorno de letras semi mortas/fluindo oum breve rufar de vida.
Caberia qualquer coisa naquele canto...
um gesto de carinho
o arrependimento
o ódio de tantas noites silentes.
Caberiam...
sorrisos, mazelas, vícios inconfessáveis.
Cabem, claro que coube todas os registros da morte
fotografias da banalidade
urdida dos intelectos infectados
bestialismo de alegria dormente.
Cabe um olhar, gesto simples naquele canto...
era um poema de amor, mas a dor foi tão grande, que os poucos versos possíveis, ficarão apenas na memória daquele dia.
naquele turbilhão de imagens multicoloridas
há um céu de delírio, perplexo com a loucura
naquele exato instante, mil beijos foram perdidos
há um conserto wagneriano, executado por bocas
entre sonoros acordes do estatelar de lábios famintos.
enquanto tudo acontece, esta bagunça que dislexia as pernas. Me diga como eu irei andar até seu corpo, e me fale e bem alto como ouço sua voz, e ainda chego aos seus sons, seus sussurros, seus lábios... É uma coisa de dois.
quero morrer com todas as manhãs que me pertencem
quero que o mundo escute o meu lamento e festeje toda minha alegria
quero ainda te ver numa tela colorida de cinescope
quero que você que ainda queira que eu queira o que de um que porquê qualquer.
onde que há o que do o quê
quero
por mais que fosse absurdo este o quê
quero que você olhe ao lado e veja o que lhe posso oferecer
quero que você queira este mesmo o quê
o querer que doe um mundo em que este querer seja tão breve. soturno e lúdico como o fim.
Cheguei pontualmente às dez horas, estressado e puto. Os três dias naquele planalto de terras vermelhas e de gente que não sabe o que é o povo, ou seja, uma gente que pensa que vive em Manhatthan , haviam me convencido de que este é um país de uma "elite" de fodidos.
Bom... estava de volta e isso é que importava. Voltava ao meu mundo. Um mundo que estava abandonado, pois a criação, a inovação e a capacidade de argumentação, deixaram de ter qualquer valor. Vivíamos num mundo de CrlT c e CrlT V, ou ainda pior, muito pior, onde o que se julgava não tinha mais nada com a justiça, mas com os interesses daqueles que pouco se lixavam para o país e seu povo. Aquele pequeno espaço, onde ouvia as lamúrias, parecia um consultório freudiano dos anos 30. Estava decorado com mesas de madeira maciça e adornos de cabeças de leões, nos cantos e centro, talhados à mão. Dois armários longilíneos, com funod que refletiam seus corpo, cadeiras torneadas com esmero, bem típicas da época e de uma palhinha resistente ao tempo. Todos de tons castanho escuros - havia pouca luz e ao assentar-me em duas horas, já se sentia o excesso da fumaça dos meus cigarros.
Estava ali, entre todos os que me esperavam, aquele homem. Maltrapilho, queimado pelo são, rugas saltitando do que parecia um rosto. Olhei-o fixamente, e pedi-lhe que apagasse o cigarro, pois não permitia que fumassem em meu escritório. Ele me olhou furtivamente e viu que eu estava com o cigarro aceso, mas mesmo assim o apagou. havia qualquer coisa no ar...
Ao chegar, tomei meu copo d'água - sem ou com ressaca, tornou-se um hábito. Liguei o note e imediatamente comecei. Acendi o cigarro e pus-me a ouvir While my Guitar. Sentei-me, olhei as primeiras coisas do dia e Amanda, como sempre, veio com seu rosto angelical e lábios demoníacos. O bom humor voltava.
Amanda me passou a lista dos casos e causos jurídicos; muitos não passam disto. Perguntei-lhe, timidamente:
- Quem é aquele sujeito de barba?
Espontaneamente me respondeu em um tom quase inaudível, que não sabia, pois este não quis se odentificar e somente dissera que me conhecia.
Amanda era uma mulher de 1 m e 70 e extremamente bela, suave, educada, que exalava um cheiro de cabochard, particularmente o meu perfume preferido. Vestia-se com esmero e de forma conservadora, mas sempre deixando um pouco de seu belo corpo curvilíneo, transparecer mesmo que minimamente. Olhei atentamente para Amanda e voltei a pensar naquele sujeito, que estava ali fora. Não sabia ao certo se o conhecia, não conseguia me lembrar de nada em especial ou mesmo sem qualquer importância. Geralmente eu lembro dos rostos e nunca dos nomes
- Levantei-me e eu mesmo fui lá cerificar-me quem era aquele homem. Olhei fixamente em seus rosto e os olhos me chamaram a atenção, era um misto de sofrimento, dor amargura e ódio. Voltei e sentei-me, pensei um pouco mais e nada.
Respondi para mim mesmo, e em voz alta, sem muita convicção - já que me conhecia, vou até ele.Imediatamente, levantei-me, não sem antes Amanda, me advertir para ter cuidado. fui a passos tementes, até ele.
- Tudo bem! Pois não. O que o senhor deseja? Qual o seu nome?. Ele apenas me olhara, com um certo desprezo. Perguntei-lhe novamente, desta vez com rispidez.
- Respondeu-me quase que susurrando, era inaudível o que havia dito, mas não me havia coragem suficiente, para repetir qualquer pergunta.
cheguei mais perto e quase encostando os ouvidos em sua boca, pude finalmente ouvir um quase nada, que soou como um grito do deserto, ecoando por todos os meus poros.
só...só...
Ouvi e fiquei mudo.
- Quase sem forças, tomei um copo d'água e lhe dei outro que tomou num gole só.
Estava sem ar e não me restara nada a dizer.
Ele de um minuto ao outro começou a dizer coisas totalmente incompreensíveis.
"Tatuo alucinadamente corpos lascivos e tragicamente caio numa trip nauseante. A solidão é uma busca desesperada por qualquer que seja a divindade e de novo parou. Mas seus olhos agora só exalavam ódio.-
Não havia dúvidas: eu o conhecia. Porém, agora, tinha a clareza de que a vida nos prega peças de uma dramaticidade futebolística.
Recuperei-me e senti o rosto queimando, suado e sujo, como se aquele pó do Planalto, estivesse impregnado em minha alma. Os sentimentos não eram os melhores. Tentei de novo.
- Fale!
- Ando entorpecido. Letras completamente sem sentido, pó vermelho. Ando por entre quadras e jardins descuidados. O corpo, seus fluidos, sua morte ora breve, por ora longínqua...
Já não era o mesmo homem, agora, ouvia sua voz rouca, porém poderosa e notara que seu rosto e suas vestes eram outras, finas, provavelmente de vicunha e feitas à mão. Aquilo tudo só mais e mais me assustava. Estava apavorado.
Tentei, num último esforço manter a calma, pois nada mais podia fazer.
- É... alí eu começava a imaginar o que estava a me reservar o destino. É eu bem sei o que me reserva... vida que vai e que fica.
Veio outra frase sem qualquer sentido.
- Passeio com minhas mãos calejadas por seus cabelos ondulados.
Meu Deus!, estava completamente desnorteado, perplexo.
- O silêncio cabe em qualquer canto. É um vício que o vento escancara, este faminto desejo.
Não me restaram palavras, só o olhar de aflição e um pequeno começo de ódio.
Estávamos numa praça de bancos sujos e esterco industrial, me restava pouco tempo. Tinha as piores sensações do mundo, a começar pelas pedras corroendo minha boca e remoendo meus pés. Havia alguma coisa com aquele homem. E não era boa.
O conhecia mas, por certo, não queria saber destes tempos. Eram tempos de noites escatológicas e viagens em que surfava por pesadelos contínuos.
Há ainda em todos nós e na memória quase obsoleta das roletas da morte do trabalhador nas noites do terror.
Eu o olhava e ele me provocava. Eu tinha ali, bem à minha frente, alguém que sempre jurei matar. Mas estava inerte.
- Vivo como quero, posso e só. - provocou-me.
Fiz um gesto rápido. Não poderia permitir que aquele ser (decrépito e que tinha em sua alma tanto ódio, pudesse me levar com ele.
Ele, por fim percebeu, que eu queria matar meus demônios. Ele me olhou sem a mesma confiança e seu olhar me deu a certeza que não haveria mais nada a ser dito. Pela primeira vez, durante aquele diálogo famélico, ele deixou de ter qualquer estabilidade. Definhava, urrava, cada vez mais baixo e compassado.
Não mais havia qualquer dúvida, meus demônios estavam mortos.
cansado...
pode ser do silêncio de ruas vazias das manhãs
pode ser dos sussurrares das vassouras batendo ao chão
pode ser deste eu mesmo, incógnito, meândrico, desleixado.
se for, só me resta finar-me
se não o for
me restarão todos os sabores na boca do beijo que nunca foi eternizado.
não tenho a fé dos fervorosos devotos do vai e vem das ruas entupidas da estupidez canina.
não compartilho meu olhar numa noite de lua cheia, sem saber que existe um ser meu... a espera.
não acredito que os homens sejam solidários, exclusivamente na morte!!!
não quero ter a vida do destino reservada, num beijo gélido, incompreensível
não me quero numa rota suave e sem dores que o amor costuma nos presentear.
não tenho tempo de noites breves, pois estou com muita pressa.
roberto auad
Me sinto partido, diversos portais abertos numa única explosão da percepção, claramente o corpo deixando o ser, os meus corpos estão em diversas dimensões, espaços de tempo altamente confusos, aleatórios, inexistentes... Por vezes, a definição da matéria é outra, mas ainda presentes na espécie, soltei um pequeno olhar sobre todos os tempos em tempos de tempos espasmódicos.É certo que morri por um tempo, tempo que não mais me pertence e de um smpre tempo antes de todos os tempos, atemporal e que me foi expandido. mais que ao simples olhar do futuro, este não existe, é uma espiral, quase que um terno retorno, existindo infinitamente, todos nossos atos, o tempo finaliza qualquer oportunidade de um olhar com acuidade de nossas vidas.
estava olhando sorridentemente o teto encardido
quando ao longe ouvi mansamente uma voz
suave e tão solitária como as paredes que nos aprisionam.
quero deixar tudo...
cair na amarga sarjeta dos dias soturnos
saudade...
lágrima curta dos desejos que se esvaem.