Roberto Auad
Sabe,
sou um cara qualquer, emoção e tentação.
Dúbio, insensato, morrendo por e pela vida,
eu preciso é a aprenderer a lhe olhar
nós nascemos e vivemos cada um do seu jeito.
Embalado pelo seu ardor, o arfar
me desespero;
beijo-lhe a face, despeço-me.
Cada qual para o seu lado...
É o momento que oro para não enlouquecer.
Terminar a noite sem um poema, é nem tê-la começado.
Se não achar o verso certo, a inspiração derradeira,
Será um amanhã, mais turvo, menos criativo, um dia como qualquer dia.
vivo só, meio, cá meio assim, sei lá.
Meio a meio.
não, estou nem ai e aqui, muito menos por aí.
vou só, inteiro. distante por entre nuvens.
calado, ceifado, cifrado, constipado, culpado.
vivendo e só viver`ás vezes,
apenas algumas horas,
num tempo noutro, é que a vida me aperta
é coisa esquisita, diferente
ávida.
um tempo de mudar e ver o vento sobre o rosto.
um espelho multifacetado
um olhar sobre o que me foi e o que vai.
Para que o silêncio
se ele é apenas um pobre inaudível
um espectador das batidas dos corações
um ser abstrato e sofrido das tristezas da respiração
para que
se o barulho da existência é seu eterno retorno
almas fugidias do pulsar ensurdecedor dos globulos
por veias, por vezes maculadas e solitárias.
a arquitetura é minha
há um arquiteto para cada mente
mente a arquitetura ludicamente
minto nas curvas impossíveis do objeto
objeto e loucas tardes vertiginosas.
roberto auad
a cada dia que passo
eu passo por um passo
amores perdidos, doidos, insanos
a cada dia
eu...
eu apenas passo.
É um amor perdido de todas as ruas
escrito nos passeios sujos da vida
esquecido nos paralelepípedos
sugados pelos bueiros da paixão
amargurado, preso nas esquinas da desilusão
amor
um gesto de tresloucados
insanos
perdidos na imensidão do asfalto cotidiano.
Amanheço na madrugado do sol nascente
um gesto pálido de vida
o céu nublado, negro e mesmo assim
era um dia de vida quase que vivida
há um ipê
fora do tempo, de seu eixo, ainda vivo e florido
é a minha rua
vivo. neste mundo sombrio e rosa, ao sol que nasce
vivenciamos
viver para a vida
além da vida das folhas rosas
viver a vida para a vida
mariar
viver o verbo da vida
vivemos o olhar nublado
viverei, vivendo passariando a vida.
roberto auad
O tempo que dura
pouquíssimo
eterno.
o tempo do parco
um espaço alegórico.
eternidade.
tempo do muito, muitíssimo tempo
usar este tão pouco tempo, só um pouco de tempo.
o tempo do inimaginável.
Naquele exato instante, a única coisa que me restava era o silêncio. Queria compactuar minhas dores, expandindo meu senso crítico, pelas páginas do Talmude, mas o absurdo dialético, estampou sobre o que me restava de sanidade, aqueles sons grotescos de gostos amargos, que habitam minhas ruas, sedentas dos glóbulos arrancados na cidade surtatiana.
eu sou assim...
sei do tanto que devo ser
serei isto e é só o que tenho
nunca tive e nem nunca terei, tanto aquele sim que desejas
talvez
dentro em breve, brevemente na próxima reencarnação
este assim, deste jeito, sim
serei um certo alguém sim
como as noites urgentes, assim
bem assim da forma inexplorável deste sim ser assim.
Quem dera se as palavras movessem a dor
pudessem ser bem leves e soltas no ar
&
explodissem todas as cores da penumbra cotidiana.
O tempo que dura
pouquíssimo
eterno.
o tempo do parco
um espaço alegórico.
eternidade
do muito, muitíssimo tempo
usar este tão pouco tempo, só um pouco de tempo.
tempo do inimaginável.
tudo é tão sólido
que explode entre nuvens e estrelas delirantes
nada é tão próximo
que não se acabe quixotescamente
breve é a história pecaminosa das noites longínquas.
roberto auad
Vou pegar o último trem
mas aqui não tem mais maria fumaça
só na língua, mesmo assim...
é uma língua que querem matar
&
enterrar entre o que restou dos mourões carcomidos
ferros retorcidos
eis ai...
toda nossa dor lusitana.