Ricardo Vitti
Desatinadora
Guardou-me o tempo meio as trevas,
minha dita poesia,
ditada por tal alegria,
qual consumia dor em noite fria,
fizera-se em canção,
por entre migalhas morte logrou,
qual glória desbotou-se em jazigos,
ceifada vida desfez,
levadas em cantigas sem dó nem ré...
Não impeças de sorrir
Respeitável mundo louco;
venho até vós;
vos pedir em bizarrices mais amor;
estou perdido e comovido;
falta-me clamor;
pois agora altissonante brado;
flagelas essas flores;
em meu solo;
só por lágrimas em pó;
lhe peço e lhe digo;
perpétuo serás teu nó;
confundem minh'alma;
por tais choram;
aquele tempo embromado;
aos ventos me arrependo;
qual me levas;
dentre as horas espero;
que meu palpitar se encerre.
Quando anoiteceu me recostei nos ombros do vento, deixei-me levar, carregados, porém assim vão nossos pesares, flagelos por tais caminhadas, permeie-se ao sopro da vida, jogues ao chão tuas feridas...
Calabouço das memórias
De longe lhe observo calado,
minhas palavras não lhe seguem,
minha dor me persegue,
junto do desbotar da primavera,
carregado pelo inverno demasiarão,
d'este dia perturbado,
vou sem rumo, me deságuo,
nesse riacho magoado,
nessas neblinas, me embaço,
demasiado, terno, brado,
sou ligeiramente os tristonhos sonhos,
de tal perdurar perfume das rosas, por árduo.
Por tantas notas vida faz canção, nesses meus sentimentos me conduzo, buscando em torno nova interpretação, em acautelado vou em dorida, minha forma pasmado...
Sobre o sol
Antes que se encerre nosso amor,
que desabe minha vida,
se pela dor meu sofrimento por fim não veio,
no flagelar-me rancor vieste por entremeio,
dessa fundida a fogo e ferro nossa paixão,
não és a chuva que permeará essa razão,
difundida pelos pobres e nobres,
nos lábios maldizem minha boa sorte,
se fartarão do veneno feitos áspide,
que em seu fel pernicioso se desvalidam,
germinarás por meu sangue ao solo estéreo,
minhas palavras até que está lápide me engula,
esfomeada por meu amor que por ti não cessará.
Por testemunha
Mesmo que demore,
aqueles sonhos que me embalaram,
são consistentes,
permeiam até no vão de minh'alma,
selar-te-á essas penúrias,
ferrada em mutua morte julgas,
serei aquele bosque baldio,
abandonado no cautelar,
desta morte em clausuras a me levar,
serei teu sopro,
tua vida,
destemidas sombras,
quaisquer em verdes folhas lhe abrigas,
no decorrer me excito,
por tua presença a me velar,
no testemunho, teu sorriso,
sobre a bruma da lua desnuda.
Aclamado vigor
Por mais calada se esquivas,
chuva ao atentado meu corpo sofre,
tua presença benigna,
me levas o douro abraço,
cravado nas rosas me alargo,
neste caminho ternuras rasgo,
desse teu espinho menina rogo,
teu despertar em meus braços,
pétalas despedaçam ao anoitecer,
lhe acomodo,
dentre a minha jovialidade,
são os tempos por remotos,
no clamor das chuvas vos imploro.
Nada fostes em vão
Quando pois-me deparei a sua pequena forma,
me apequeno nesta fala,
suspeito entre medos,
do encontro magistral a nos tomar,
pelas mãos,
ditadas, naquelas tristes canções,
salmodiados cantos, pássaros entoam,
vão-se ao longe sem se despedir,
cultuo aquele canto,
que por inundas,
por fagulhas nos conturbas,
dessa exaurida permanência,
nessa terra, encharcada em lágrimas,
ficam nossos pesares,
naquelas frias lástimas,
qual eu, por ti, desraiguei,
aquarelas plenas ternuras, as quais compenetrei.
Descaso eu as tuas palavras malfadadas, comparadas ao vento, porém tais sopros transgridem, em tesouros as mesmas tempestades se tornam...
Guardarei abrigo mesmo que tenha que morrer por minhas poesias tão pouco rimadas, pois nelas o que rimou foi o amor...