Ricardo Reis

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O deus Pã não morreu,
Cada campo que mostra
Aos sorrisos de Apolo
Os peitos nus de Ceres —
Cedo ou tarde vereis
Por lá aparecer
O deus Pã, o imortal.

Não matou outros deuses
O triste deus cristão.
Cristo é um deus a mais,
Talvez um que faltava.

Pã continua a dar
Os sons da sua flauta
Aos ouvidos de Ceres
Recumbente nos campos.

Os deuses são os mesmos,
Sempre claros e calmos,
Cheios de eternidade
E desprezo por nós,
Trazendo o dia e a noite
E as colheitas douradas
Sem ser para nos dar
O dia e a noite e o trigo
Mas por outro e divino
Propósito casual.

Ricardo Reis

Nota: Poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

Inserida por CiceroMiguel

Concentra-te, e serás sereno e forte;
Mas concentra-te fora de ti mesmo.
Não sê mais para ti que o pedestal
No qual ergas a estátua do teu ser.
Tudo mais empobrece, porque é pobre.

Ricardo Reis

Nota: Poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.

Ricardo Reis

Nota: Trecho de poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

Nada, senão o instante, me conhece.

Ricardo Reis

Nota: Trecho de poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

Inserida por pensador

Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos.

Ricardo Reis
Odes de Ricardo Reis

Nota: Poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis)

...Mais

Abdica
E sê Rei de ti próprio.

Ricardo Reis

Nota: Trecho de poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

Inserida por pensador

Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.
Nada te pese que não te amem. Sentem-te
Quem és, e és estrangeiro.
Cura de ser quem és, amam-te ou nunca.
Firme contigo, sofrerás avaro
De penas.

Ricardo Reis
Odes de Ricardo Reis

Nota: Poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

...Mais
Inserida por pensador

Ninguém a outro ama, senão que ama
O que de si há nele, ou é suposto.

Ricardo Reis

Nota: Trecho de poema de Fernando Pessoa (heterônimo Ricardo Reis).

Antes de Nós
Antes de nós nos mesmos arvoredos
Passou o vento, quando havia vento,
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje.

Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe
Do que as folhas das árvores
Ou os passos do vento.

Inserida por portalraizes

Nada fica de nada. Nada somos.
Um pouco ao sol e ao ar nos atrasamos
Da irrespirável treva que nos pesa
Da úmida terra imposta.
Leis feitas, estátuas altas, odes findas -
Tudo tem cova sua. Se nós, carnes
A que um íntimo sol dá sangue, temos
Poente, porque não elas?
O que fazemos é o que somos. Nada
Nos cria, nos governa e nos acaba.
Somos contos contando contos, cadáveres
Adiados que procriam.

Inserida por MirzaB