Ricardo Maria Louro
O verdadeiro lugar da humanidade é,
de joelhos, aos Pés de Deus!
É lá a verdadeira Pátria de cada
homem!
Não há Sol!
A Lua perdeu-se nos seus poentes ...
Quem me deu a consciência?
Onde está quem ma deu?
Para onde foi?
Do meu caminho se perdeu ...
Eu bem senti mas não parei ... que pena
... que vazio!
Porque dela me perdi eu não sei!
Não sei!
(Para Maria Flávia de Monsaraz)
Não te sintas tão sozinho -
Não te sintas tão sozinho
Porque eu estou aqui
E tenho tanto carinho
Desde o dia em que te vi.
Teus olhos cor das mágoas
Dos silêncios do Senhor
São dois peixes, duas águas
Por onde baila o meu amor.
Entre esperança e tempestade
Baila a nossa união
Em momentos de saudade
Há que aprender a dar a mão.
Porque a vida vai passando!
E abraçados à luz da Lua
Assim vamos caminhando
De mãos dadas pela rua.
- Ó Senhora -
(para Nossa Senhora do Rosário de Fátima)
Ó Senhora dos olhos iluminados
que ao longe estais posta em sossego,
fazei que os meus, por Vós, fiquem marcados,
até naquela hora em que adormeço!
Ó Senhora do semblante enevoado,
dos cabelos que esvoaçam para o Sul
ouvi este pedido tão pesado
sob um mar bravo em Céu azul!
Ó Senhora com dedos cor de Lua
que agitais os destinos de cada um
conduzi nossos passos pela rua
e nossas tristes vidas de jejum!
Ó Senhora com o Manto das Auroras,
feitas de jasmim, em dias brancos,
intercede junto ao Filho a quem Adoras
p'ra que os nossos sofrimentos sejam brandos!
(O poeta com os olhos da Alma postos naquela Senhora mais brilhante do que o Sol)
Pura Ausência -
Afinal é pura ausência
O teu retrato não tem rosto
E o vazio e a demência
Invadiram o meu corpo.
E invadiu a minha Alma
Uma saudade sem ter fim
Uma dor que não tem calma
Que se aninha dentro em mim.
E aninha-se uma angustia
Que me atravessa o pensamento
Um achar, é ousadia,
Que findará o sofrimento.
Mas nesta busca de quem somos
O que acaba por faltar
É deixar de ser quem fomos
E aprendermos a amar ...
Entre Mim e Ti -
Entre mim e ti há uma parede
Há uma muralha de silêncio
Um grito abafado sem direcção
Um prado que devia de ser verde
Um sonho agreste, prolongado e extenso,
Uma estátua fria sem coração!
Entre mim e ti há tantas dores
Há tantas aguarelas por pintar
Que as cores transformam-se em desejos
Os desejos procuram os sabores
E os sabores desejam, quem, ao amar,
Saiba pôr a Alma num só beijo.
Entre mim e ti só há pálidas lembranças
Instantes vestidos de martirios
Águas instaladas em poços virgens
Berços embalados sem crianças,
Pela vida, tantos passos como lirios
A que os nossos dois destinos não se cingem.
Entre mim e ti há ódio e vingança
Há um vento pulmunar agreste e frio
Que nos corre pelas veias sem razão
vai e volta sem parar, perdemos confiança,
Seguimos à deriva como um rio
E abandonamos à sorte o coração.
Nossas vozes perderam a vontade de falar
Nossos olhos não se tocam nem desejam
É tudo tão diferente ao que eu pedi
Mais vale dizer adeus do que chorar
Pois nossas bocas separadas não se beijam
Por haver tanta coisa má entre mim e ti.
O João e a Berta -
Ó João encosta a porta
Não deixes a porta aberta
Se a Berta bate à porta
Levas com a porta na certa.
Mas diz-me lá porque razão
Não te encara bem a Berta
Mal te vê levanta a mão
Não deixes a porta aberta.
João ... a Berta vem ai,
Fecha a porta devagar
Tu não saias, ai de ti,
Olha que vais apanhar.
Toda a gente já percebeu
Que quando a Berta aqui chegou
Olhou, olhou ... correu, correu
E o João lá apanhou.
Nostalgia Pendente -
Há uma nostalgia pendente nos olhos do meu amor
Um agreste silêncio na madrugada de nós dois
Um eco de saudade que se agita com fervor
Nas palavras por dizer n'agonia d'um depois!
Há milhões de estrelas vãs cintilando no seu olhar
Esperanças fugidias feitas de solidão e desespero
Um naufrágio que se adensa em alto mar
Numa eterna indiferença sem tempero!
E o meu amor fica tão longe como
Fica a linha do horizonte, tão distante,
Tão vazio e renegado ... 'inda assim o amo
Mais do que a mim próprio para sempre !
Santa Maria
Mãe de Deus -
Em dia de festa louvamos de forma muito especial o Nome Daquela que foi e é uma das Mulheres mais importantes da história da humanidade - Nossa Senhora!
Os nossos olhos estão postos na humildade que foi a entrega de Maria ao Projecto de Deus. Ser Mãe de Jesus, esposa eleita, Mãe das Mães, Mãe de todos os Homens.
São Bernardo chamou-lhe piissima Virgem que nunca abandonou quem a Ela recorreu. Santa Isabel, sua prima, invocou-a naquela ternurenta visita como a Cheia de Graça que está cheia de Deus, a própria Igreja Católica elegeu-a "Santa Maria Mãe de Deus!" E tantos, que, pelos tempos fora, a invocaram e à Sua protecção recorreram sendo alvos de tantas bênçãos.
Com Maria , os Homens deixaram de ser Órfãos, passaram a ter um regaço onde se agasalhar ... todos passámos a ter uma Mãe! Maria tornou-se Mãe Universal!
Vamos assim reconsagrar as nossas vidas ao Imaculado Coração de Maria de forma plena e inteira e de coração aberto, para que, à semelhança de Nossa Senhora saibamos, também nós, pormo-nos nas Mãos do Senhor neste momento tão dificil para a história da humanidade, tão amedrontada que está com a "peste" que a assola ...
Saibamos entregar ao Senhor os nossos corações aceitando o que Deus queira, como Deus queira, quando Deus queira.
Porque Deus é a nossa Casa!
Que o Senhor por intermédio de Maria nos proteja e guarde de todo o mal, hoje e sempre, amem!
(Texto escrito aquando do Covid-19)
Nossos Sonhos -
Nossos Sonhos vão passando vagarosos,
Dia-a-dia, hora-a-hora, prisioneiros
Que somos do invisivel, temerosos
Que estamos dos instantes derradeiros.
Procuremos Deus nesta ameaça!
Em suas Mãos entreguemos nossas vidas
Frágeis, impotentes - pobre raça -
Não passam de criaturas "mal vestidas"!
Criação que foi rebelde e indiferente!
De Alma eterna por entre "vestes" mortais...
Deuses pequeninos -pobre gente!
O mundo treme diante de uma "peste",
Tudo pára, porque afinal, somos banais
E a morte pode tirar-nos essa "veste" ...
Mil palavras,
Mil beijos -
Mil palavras, mil beijos seriam pouco
Para dizer o quanto por ti chamo,
Por isso, grito ao vento como um louco
Vou gritando pela rua que te amo.
E não haverá no mundo ninguém,
Seja vivo ou morto, que não oiça
O grito apaixonado deste alguém
Que como a ave do silêncio nunca poisa.
E não há vento ou maré que possa
Invadir meu coração, meu pensamento,
Como a história que vivemos que é tão nossa.
Chega a noite, vai-se o dia, passa o tempo,
Como a vida vai passando, minha e vossa,
Tudo folhas soltas que voam com o vento.
Nocturno de Ricardo Maria Louro -
Sinto a sombra dos meus passos
percorrer-me os pensamentos ...
Noite e dia, hora a hora, em meus braços,
levo a Alma embalada em tormentos!
À noite, a morte adormece junto a mim,
vejo-a no espelho, extensa como eu ...
Suas mãos são as minhas, seu leito é o meu,
e em meu peito, JAZ uma cruz sem fim!
É triste este Nocturno!
Ele escorre-me todo o corpo!
Oiço uma voz e adormeço - absorto ...
Mas um dia hão-de dizer:
" - Ah, afinal era Poeta e nós sem perceber!"
Mas será tarde! Estarei Morto!
Que -
Que nenhuma barreira se ponha entre
mim e ti!
Que nenhum obstáculo nos prenda às
tábuas negras da ilusão!
Que nenhuma ventania nos mude a
direcção!
Que nenhum silêncio seja mais forte
que o nosso grito!
Que nenhuma voz fale mais alto que as
nossas vozes! ...
... depois que vieste,
dei as minhas mãos às tuas mãos,
cingi meu ser ao teu, abandonado,
e ficámos parádos sob a vigia cintilante
das estrelas debruçadas ...
... e ... brilhámos ... brilhámos ...
É Inútil -
É Inútil que nos barrem os caminhos!
É Inútil que digam que o amor não vencerá!
É Inútil que os pássaros não venham na Primavera!
É inutil que o dia não avance e a noite não se evada!
É Inútil que o tempo passe ... vá passando!
É Inútil que os homens já não sonhem!
É Inútil que os sonhos não se toquem, que as pessoas não se encontrem, que os corações não se procurem ...
É Inútil! Será p'ra sempre inútil enquanto houver uma poesia ...
Deixa-me -
Deixa-me gritar ao mundo que te amo,
quero gritar todos os sonhos inúteis,
todos os desejos estéreis!
Que estou cansado de estar mudo ...
Deixa-me limpar as lágrimas dos meus olhos humedecidos, cheios de noite e de silêncio!
Que estou cansado de estar preso ...
Deixa-me chamar todos os mortos que ganhei, todos os vivos que perdi!
Que estou cansado de estar velho ...
Deixa-me ver a luz do dia em pedaços destroçados e elos que se fundem!
Que estou cansado de estar cego ...
Deixa-me morrer em paz - na paz do leito!
Que estou cansado de estar vivo ...
Noite -
A sua força vem de longe
os seus olhos estão mortos
suas palavras tristes , frias,
seu toque calmo e sombrio!
Quando chega,
esmaga sonhos no vazio,
encosta sombras na parede
e tudo é vago, tudo é estéril,
quando a noite se aproxima!
Deixem-na passar ...
Traz passos indecisos!
Leva a morte dentro dela!
Não fujam! É Inútil ... é em vão ...
Eu Sou o Último de Mim Mesmo -
Eu sou o último de
mim mesmo
que sucede a outro
que me habitou,
antecipado e frio,
sem vontade de viver!
Eu sou o último de
mim mesmo
que traz nas costas
o peso de um passado,
que ainda me persegue,
longo e rejeitado!
Eu sou o último de
mim mesmo
nascido de uma morte
de um veneno apetecido
de uma escrita indecifrável
vaga e baça!
Eu sou o último de
mim mesmo
o que vivi depois de mim
sem querer nem desejar
a Linhagem dos Poetas,
a rejeitada descendência!
Eu sou o último de mim mesmo,
o último depois de mim ...
O Sangue Apodrecido -
O Sangue apodrecido nas
minhas veias
não me deixa cantar a Alma!
Trago fome nos meus dedos.
O vazio que me veste o corpo
não me deixa amar a vida!
Mas outros dias virão...
Eu sou um moribundo!
Descalço de amarguras,
despido de ilusões.
Sou o batente de uma casa,
a baldraga de uma porta,
o erro de um ditado,
um verso por ser verso
que é tonto e rejeitado ..
À Lareira da Infância -
(EU)
Na casa
do Outeiro,
junto ao lume
que se ateia,
sentavam-se
à conversa,
à hora
da ceia,
meu Avô,
minha Avó
e a Tia
Josefa!
Era eu
uma criança,
jovem entre
velhos,
cheio d'alegria,
Amor e Esperança!
Tanto calor
que me vinha
da lareira
da Infância!
Um leve odor ...
E a Tia
Josefa,
branca,
imponente,
lânguida,
serena,
sisuda,
começava
a conversa!
(PARA MEU AVÔ)
Ó meu irmão,
que fizeste tu
da alegria
que pela
Vida fora
te conhecia?!
Às cores
do teu rosto
que o Sol
ardente
te havia
posto?!
Essa
expressão,
risonha
e calma,
que me alembro,
a força
do teu corpo,
a Vida
da tua Alma!!!
Onde,
meu irmão?!
Onde?!
(EU)
E estoira
a lenha
na lareira
da Infância!
Meu Avô,
atento,
ouve a conversa,
e responde,
fixando
a Tia Josefa!
(MEU AVÔ)
Estou velho
minha irmã!
O tempo
passa ...
Mas como
as bagas
da Romã,
a memória fica
junto ao Coração,
imersa, arreigada,
numa imensa
solidão!
E ai do Coração!
Ai do Coração!
(TIA JOSEFA)
É Verdade
meu irmão!
É Verdade ...
Fica a saudade...
Nossa mãe,
nosso pai,
já estão
na Eternidade ...
(EU)
E a lareira
da infância
ardia,
queimava
a lenha
da saudade ...
Era lá
que em criança
minha Alma
se aquecia!
E minha Avó,
silenciosa
que estava,
ouvia!
Profunda,
graciosa,
sentia Esperança,
junto à lareira
da infância!
E dizia:
(MINHA AVÓ)
Ouve,
meu Neto,
um dia,
nenhum de nós
aqui estará!
E a tua glória,
será escrever
em verso,
aquilo que
nos ouviste,
junto à lareira
da infância!
Mas escreve
com Esperança,
não te esqueças!
E triste,
ou não,
guarda sempre
na lembrança,
a conversa
da lareira,
que ouviste
à hora da ceia,
à beira
de teu Avô,
tua Avó e
da Tia Josefa!
(EU)
Em volta
da lareira,
os três sorriam,
e minha infância,
momento terno,
era quente,
com a Esperança,
de quem sente,
que aquele instante
podia ser Eterno! ...
Mas a Morte
sempre vem! ...
É breve!
E tudo leva!
Fica a memória
na saudade
e a saudade
nos meus versos!
É esta,
minha unica
Glória!!!!
Ricardo Louro
No Outeiro,
em Monsaraz
- GRANDE POVO! GRANDE GENTE! GRANDE TERRA! -
Um Povo sem cultura
É como um rio sem ter água
É um corpo sem altura
É um homem cheio de mágoa!
Pobre povo! Pobre gente! Pobre terra!
É mar estático sem horizontes
Que se acaba onde principia
É história sem ter fontes
Sem poetas nem poesia!
Pobre povo! Pobre gente! Pobre terra!
É Noite fria sem luar
Que a Lua beija por engano
Sobre um povo que é do mar
Aos nocturnos de um piano!
Pobre povo! Pobre gente! Pobre terra!
E Grita povo ... grita!
Porque a Arte não está morta ...
Pois a Alma que te agita
É só ela que te importa ...
Grande povo! Grande gente! Grande terra!
#unidospelopresenteefuturodaculturaemportugal
Sou o que Fica -
Eu sou o que fica parado, contra o tempo,
numa espera inútil e cansada,
num espaço aberto, contra o vento,
onde a Alma está ainda agrilhoada.
Sou o que fica depois de tudo terminar,
calado, ausente de esperança,
num silêncio abrasador, a chorar,
mas com alguma Fé e Confiança.
Sou o que fica vestido de madrugada
com sapatos de silêncio à beira mar
e que caminha numa longa estrada
numa pressa incessante de chegar.
Eu sou o que fica sem ficar
a mágoa apetecida sem razão
o triste barco ao cais pronto a largar
a que o destino deu o nome de solidão.
Meu Canto é de Tristeza -
Meu canto é de tristeza
d'uma tristeza sem fim
Porque nada mais existe
Dentro ou fora de mim!
Meu canto é de tristeza
Vim ao mundo p'ra estar só
Aconchego não tive nenhum
Além do colo de minha Avó!
Meu Canto é de Tristeza
Meu canto é sangue rubro
Mas dos ecos de distância
É que nascem estes frutos!
Ás Vezes -
Ás vezes glorio-me do meu tempo!
Deste estar e não-estar cheio de noite
e de mistério ...
Glorio-me das horas dos meus versos,
'inda que, às vezes, me torturem e
desenganem!
Glorio-me das horas tristes com sabor
a madrugada, cheias de silêncio e de
Vazio ...
E digo-o consciente!
Digo-o de pés firmes no chão!
Benditos sejam os versos que me habitam!
Sem Saber -
Aqui a vida respira-se antiquada e cinzenta,
igual à desses Poetas tristes das românticas madrugadas,
cujos os sonhos a distância não
não matou.
Ali a Alma é grande e os corpos
diminutos,
os olhos extensos e os gestos frios
como a noite ...
A esperança está presa aos versos
e os dedos com que rasgamos
as sombras
são vertigens puras de um amanhã
por conceber!
Há pontes de um destino a outro,
e nós, indecisos, sem saber ...
Sonhos sobre o Mar -
Tantos são os sonhos que persigo,
Com eles, a ilusão de alcançá-los,
Só eu sei, na verdade, porque o digo,
Hei-de um dia, sobre o mar, deixá-los!
Vem o vento! Nas suas asas subo!
E ascendo ao anseio de voar-me ...
O sonho é voar! E isso é tudo.
A alegria de poder cantar-me ...
É longa a viagem do Poeta
Porque vem de fundos, longe de si,
Não sabe o seu destino, a sua meta,
E as suas ilusões não tem fim.
Talvez um dia possa ultrapassar
A vida que vai e vem sem jeito
Talvez possa pôr os sonhos sobre o mar
E guardar os versos no seu peito.