Ricardo Maria Louro

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Perguntaram-me:

- Que idade tem, Ricardo?!

Respondi:

- 31 anos dolorosamente bem vividos!

Inserida por Eliot

- HORA INÍQUA -


A tristeza apodreceu-me as veias,
Calou-me a voz no sangue,
Ficou suspensa nos meus olhos ...

Meus lábios secaram na angústia
Das palavras por dizer ...
E veio a noite, sobre mim, coberta
De punhais! ...
Madrugadas! Tristezas! Vendavais!

Minhas mãos pararam ...
Meu corpo arrefeceu ...
E as horas, passaram, discretas,
Além de mim, p'ra lá dos torreões!

Meus pés, sobre silêncios,
Numa flácida quietude,
Pisaram sonhos, rasgaram ilusões!

Inserida por Eliot

- MANDEI CAIAR A MORTE -

Mandei caiar a morte
Na Luz dos olhos fundos
No suspenso dos meus lábios
Onde a vida não se esconde
Nem se dá a outros mundos!

E das searas ao vento
Que de lágrimas reguei
Mandei colher a noite
Contra mim e contra a vida
A que afinal nunca me dei!

Nada é inútil, nada é vão
Rios de sombra, rios de lume
Nestas linhas do meu canto
Velas de todos os ventos
A que dei o meu ciúme!

Poeira de ventos, apenas
Que desejo mas não ponho
Na raiz de cada espiga
Ao passar por mim o vento
No olhar de cada sonho!

- DO SILÊNCIO -

Há nos traços do meu rosto
Há no brilho do meu olhar
Um não sei quê de saudade
Uma tristeza sem par!

Nos meus dedos levo gritos
De lágrimas cansadas
Levo culpas, levo medos
Levo sonhos, levo nadas!

Há no corpo que me veste
À amargura d'um Poeta
E na dor que não se cala
Uma tristeza concreta!

Do que fui já não me lembro
No que sou não há verdade
Serei sempre do silêncio
Este grito de saudade!

Inserida por Eliot

- Amor Confuso -

Meio morto, meio vivo
Amor perdido, doer calado
Sem passado nem presente,

Ser sofrido!

Meio aqui, meio nada
Amor sem, doer confuso
Ser distante, esvaziado

De tudo!

Meio cego, meio tonto
Ser que sente fora
Meio vazio, abandonado

Em luto!

Amor confuso que não entendo
Tão louco, tão vencido
Repensar pensando, pensamento

Louco!

Inserida por Eliot

- De Súbito -


De súbito, ao luar,
Noite sem abraço!

Cálido sangue
Num pálido olhar
Por mim sentido ...
E num súbito pensar
Em mim perdido
Um doce olhar
De ti esquecido!

... Súbito, foi de súbito!

Num súbito chorar
De mim nascido
Que se me foi a vida
Como um vidro partido!

Inserida por Eliot

Sinto que sou intenso e forte
Como o mar, mas doloroso e frágil
Como um lírio!

- LADAINHA AO SENHOR DO CALVÁRIO -


Ó Bom Jesus do Calvário
Que tem a cruz de oliveira
Pela rua, solitário
Sobre os espinhos da roseira.

O vosso santo cabelo
Mais fino que o fio de oiro
Que tristeza tive ao vê-lo
Baço e sujo esse thesoiro.

A vossa santa cabeça
Coroada de mil espinhos
Não me afaste nem impeça
De seguir vossos caminhos.

Esses vossos Santos olhos
Inclinados para o chão
Deles caem dor aos molhos
Nos caminhos da Paixão.

Essas vossas santas Faces
Cheias de cuspo nojento ...
Ó Senhor porque não fazes
Que se acabe este tormento?!

Nessa vossa santa boca
Puseram fel amargoso
Pobre gente, fria, louca
Pobre filho doloroso.

À vossa Santa garganta
Enlearam uma corda
Vossa mágoa era tanta
Senhor Deus misericórdia.

Esses vossos Santos ombros
Encostados a um madeiro
Pobre Cristo entre escombros
De que fosteis Vós herdeiro.

Esses vossos Santos braços
Estendidos sobre a cruz
Pelos nossos pecados
Perdoai ó Bom Jesus.

Esse vosso santo peito
Foi aberto com uma lança
Durma eu sempre no leito
Cheio dessa confiança.

À vossa Santa Cintura
Cingiram uma toalha
Essa pobre investidura
Foi vossa santa mortalha.

Esses vossos Santos pés
Mais claros que a neve pura
Arrastados nos sopés
Pela rua da Amargura.

Pela rua da amargura
Vai o Senhor a chorar
E uma santa com doçura
Logo acorreu p'ró limpar.

Ó quem fora tão ditosa
Que vira o Senhor Chorando
E numa pressa dolorosa
O abraçou, ficou limpando?!

E há um grito de mulher
Junto à cruz, lá no Calvário
Vossa Mãe, triste, a sofrer
Que abraçou vosso Sudário.

Juntarei os meus pecados
Pô-los-ei aos pés da cruz
Que eles sejam perdoados
Para sempre amém Jesus.


(Quadras inspiradas numa antiga Novena que se fazia para chover)

Inserida por Eliot

Eu não tenho saudades dos sítios onde estive, tenho pena de sair dos sítios onde estou!

Inserida por Eliot

- VIANDANTE -

Ser poeta é meu fado
É tristeza, é solidão
Talvez seja um cansaço
A caminho do coração.

Desisti de saber quem sou
Nesta viagem errante
E não saber aonde vou
Faz de mim um viandante.

Vou dormindo o meu destino
Embalando a dor no peito
Como a vida d'um menino,
Recém-nascido, no leito.

As coisas são como são
E aceita-las sendo assim
É sofrer de mão em mao,
Chorar, chorando só por mim.

Inserida por Eliot

ESTRANHO PALADAR

Lembro-me de ti
Na nossa casa,
Desse lume
Intenso, o teu perfume
Que tanto me abraça!

Tudo nos separa
Tanto nos unia,
E agora, cansada
A minh'Alma parada
Canta, chora, fala!

Amargo o teu olhar
Antes era doce
E na minha boca
Muito me sufoca
Um estranho paladar!

Inserida por Eliot

É TERRÍVEL O DIA

É terrível o dia
Tudo cheira a solidão
Estou cego, perdido,
Sem Pátria nem chão.

E é terrível a hora
Tudo aberto em meu redor
Um fosso d'ilusões,
E o meu cansaço, maior.

E é terrível a vida
Há vozes que me gritam
Mortos que me chamam
Dores que me agitam.

É terrível estar só ...
Ninguém nos sente!
Estranha dor que dói,
Dói hoje e para sempre.

É terrível o dia,
Este que vivo agora,
E é terrível a vida
E é terrível a hora!

Inserida por Eliot

AMOR ERRADO
(soneto)


Na verdade não eras quem pensei,
Talvez um erro a mais na minha vida,
Um erro que não quis! Porque me dei?!
Mal chegaste já estavas de partida...

Hei-de lembrar que nem te despediste...
Que acabou o que não chegou a começar...
Porque vieste? E porque partiste?!
Deixaste-me só, a um canto, a penar!

Mas ouve amor fechado, vento agreste,
Mar bravo que não tolero mas desejo,
Do meu amor por ti, nada soubeste!

Adeus Amor Errado! Silêncio frio!
Corpo que não toco, olhos qu'inda vejo
Nas margens indiferentes do vazio!


P.S./ Dedicado a alguém que já não importa referir. Ficam os versos.

Inserida por Eliot

- PUNHADO DE CINZA -
soneto

Eu sou o punhado de cinza esparso ao vento
que a longitude da vida abandonou
na brancura terna, plácida do tempo,
quando o teu amor tristemente me deixou!

E quantas lágrimas em meus olhos por fim!
Ninguém mas viu brotar dentro do peito
e ninguém as viu cair dentro de mim,
afogado no silêncio do meu leito ...

Trago uma sombra profunda em meus olhos,
um vulto, uma noite, um triste entardecer,
vago e manso, que muito me põe a padecer!

Há gritos no meu corpo, tantos, tantos molhos ...
É quando a tua imagem vem poisar sobre mim
e tantas lágrimas em meus olhos por fim!

Inserida por Eliot

- PALIDEZ -

Eu sou a lava de um vulcão
Sou as noites de pobreza
Sou os versos de tristeza
Que só sabem a solidão.

Eu sou nada e nada quero
Nada tenho e nada sou
Sei que irei e sempre vou
Onde leva o desespero.

Não sou bem e não sou mal
Sou bastardo do amor
Entre um servo e um Senhor
Sou um forte vendaval.

As gentes não me entendem
Nem me vêem como sou
Que só irei e sempre vou
Onde meus passos me levem.

Errarei por minhas mãos
Chorarei pelos meus olhos
Que sobre silvas e Abrolhos
Sou Destino e Solidão.

Inserida por Eliot

- QUINTA-FEIRA DA PAIXÃO -

Esta noite é mais longa do que as outras
É uma noite mais fria do que todas
Nunca uma noite foi tão estranha
Como esta de que falam nossas bocas!

Esta noite cheira a ódios sem destino
É a noite que mergulha o mundo em solidão
E há sombras a espreitar em cada esquina
Com vontade de prender um coração!

Esta noite tudo é podre nos olhares
Só há trevas nos gestos e nos corpos
É a noite que jamais terá retorno
Porque prende na tumba os seus mortos!

Esta é a noite em que o Senhor é manietado
Preso com grilhões de um pé à outra mão!
Que estranha noite é esta cheia de punhais?!
É a noite de Quinta-Feira da Paixão!!!

Inserida por Eliot

Não vale a pena lutar contra a vida!
Devemos estar sempre onde o nosso destino nos põe ...
Abertos! Esféricos! Ampliados!
Deus será nosso auxílio, amparo e protecção ...

Inserida por Eliot

No céu da minha noite as estrelas já não brilham ...

Inserida por Eliot

Piedosas Intenções
soneto

Na verdade há um grito na minha voz,
Um suspiro de saudade em mim a vaguear,
Nos meus olhos , uma vontade de estar só
Que me deixa em cada canto a chorar!

E choro por mim, por ti, por todos nós ...
Choro por tudo aquilo que não vivi,
Por aquilo que não tive de todos vós,
P'lo que tive, não guardei e até o que perdi!

Mas talvez não haja solução, meu amor,
Mãos que não dão o que podem receber?!
E no horizonte apenas vejo dor ...

Vejo espuma, névoa e loucura,
Um barco nos meus olhos a perder
A alegria e tantas ondas d'amargura!

Inserida por Eliot

- À TOA -
(Para o fado das Horas)

Se eu morrer de madrugada
Numa cama só e triste
Não te esqueças minha amada
Nem de mim te despediste.

Se eu morrer em noite escura
Numa casa sem janelas
Não te esqueças, com ternura
Junto a mim, põe duas velas.

Se eu morrer em dia claro
Numa rua da cidade
Esse dia será tão raro
Deixarei em ti saudade.

Mas não vou por ti morrer
Quero mais acreditar
Vou esperar, não vou esquecer
A promessa qu'irás voltar.

Inserida por Eliot

- ESTIGMATISMO -

Eu sou o drama
Sou a solidão
Eu, só, na cama
Sem ter coração.

Eu sou o nada
Eu sou o pó
Eu sou na estrada
Um triste só.

Eu sou quem sou
Que por ser, serei,
A alma que dou
E que nunca darei.

Mas sou do que vês
A vida que foi
E no fundo, talvez,
Seja tudo o que dói.

Inserida por Eliot

- 100 Anos de Fátima -

Foi num vale de silêncio
Numa tarde meiga e quente
Que desceu à Serra d'Aires,
Revestida de Poesia,
A Mensagem que nos trouxe
Os Lábios doces de Maria!

E mais nada foi igual!
Nas mãos trazia a Luz ...
No rosto a Voz de Deus ...
Cada gesto, um abraço ...
Nos olhos uma esperança ...
E um terço no regaço ...

E o mundo ajoelhou!
Na ternura da Mensagem
Vinha o fim do sofrimento.
E p'ra sempre aquela Imagem
Sobre Fátima pairou
Na voz do pensamento ...

Cem anos se passaram
Tanta gente alí rumou
E a noite que era negra
Fez-se branca como as vestes
Daquela Senhora que Falou
Sobre os Braços da Azinheira!

P.S./ Ricardo Maria Louro com os olhos do coração postos em Fátima.

Inserida por Eliot

- O Silêncio do Papa -

Que momento tão doce
Que instante profundo
Que alegria nos trouxe
Aquele Homem+ do Mundo.

Tantos olhos sem miragem
Tanto grito magoado
Que ao ver aquela Imagem
Ali ficou abandonado.

Tanta gente perdida
Que na vida sofreu
Tanta esperança caida
Que da vida se perdeu.

Emudeceu a garganta
Foi Presente o Passado
Frente à Virgem Santa
O Mundo ficou parado.

E aos pés de Maria
Onde nada é Novo
Um gesto de Amor
Um Papa+ do Povo.

Inserida por Eliot

- SÓ EU SEI -

Só eu sei
quantas horas da minha vida
gastei nos versos que escrevi!
As mágoas que senti
a Solidão a que me dei
o vazio de que bebi!
Só eu sei
a tristeza sem destino
que nos versos arrastei,
a amargura, a saudade,
e quanta saudade, Deus meu!
Tantas horas d'infortunio
e malfazeja que me encheram
de medo o coração!
Tudo tão meu. Tão colado
ao meu silêncio. Tão impresso
em meu destino!
Só eu sei ... Só eu sei ...

Inserida por Eliot

- À Mesa -
soneto

Na Solidão da mesa dos meus sonhos
há um hoje tão diferente que pensei viver,
ausência de ternura, d'olhares risonhos,
só há amargura e desejo de morrer!

Há mesa do que sou não há nada do que fui
e a quietude do nada que acontece é fria,
da dor à melancolia, tudo me possui,
tantas vezes que o disseste e eu não via!

Agora é tarde! Não me tenho nem a ti!
E o que tenho afinal não vale nada
porque afinal do teu amor me perdi.

Estou sentado à mesa com a solidão
e na penumbra dos meus olhos consagrada
vou bebendo do meu próprio coração ...

Inserida por Eliot