Rianny Monteiro
Eu não costumava chorar, não por pessoas. Não por sentimentos. Eu queria ser o estereótipo de “garota forte”. O tempo passou, minhas concepções sobre a vida mudaram bastante. Eu deveria ter deixado o passado pra trás, pedido mais uma dose de uísque e esquecido que você existia. As coisas poderiam ser mais fáceis. Você esteve na minha mente por tanto tempo, que isso agora é normal. E eu me apaixono cada dia mais. Apenas penso no seu rosto, no seu sorriso, no modo como seu cabelo balança no vento. Cada sensação, cada minuto que percorremos juntos. Você simplesmente deixou tudo para trás, deixou-me amando-te sozinha. Eu tinha você, no caso, eu tinha tudo. E agora? Não tenho nada. Estou naquele barzinho que costumávamos tomar alguns drinks no domingo à tarde. O papel de parede desgastado me lembra nós dois, as cadeiras arrumadas em círculo me lembra nós dois. A brisa soprando lá fora, a minha respiração, minha pulsação nervosa, tudo me lembra nós dois. Agora me responde, com sinceridade, se eu podia ter te feito feliz, porque fostes embora? O que seria suficiente pra te trazer de volta? Eu estou disposta, amor. Me diz.
Eu guardo toda a dor aqui dentro. Dor, sentimentos bons, ruins, até os de meio-termo. Os indecifráveis, os memoráveis. Eu tenho medo do dia que eu não suportar guardar sentimento algum. O dia que eu precisar expô-los.
Ainda estou esperando você voltar. Essa tua ida inesperada, tem martelado na minha cabeça, no meu coração.
Ela: Ei amor, - aponta uma estrela cadente – Vamos lá, faça um pedido.
Ele: Quero ter seu coração.
Ela: Eu quis dizer algo que você já não tenha.
Estavam os dois sentados no bar/restaurante da esquina. Lembrando os tempos em que costumavam dividir uma mesa de casal, tomar a bebida preferida dele e falar sobre como a vida estava boa. Agora? Ainda tomavam a mesma bebida, mas, eram unidos apenas pela lembrança do que um dia viveram.
- Desde que você se distanciou, minha “vida” ficou tão incompleta. Tão vazia. – ele inspirou devagar, como se quisesse recolher o máximo de ar possível. Palavras. Ele não era tão bom com elas. A garota sabia disso.
- Ah, vamos lá, pare com esse drama medíocre. Você pode viver sem mim. – ela disse em tom arrogante.
- Eu quis dizer que… Você é minha vida. Sempre foi. E bem… Você me deixou há algum tempo… As coisas têm sido difíceis. E se você não tiver intenção de voltar, apenas devolva meu coração.
Início de verão, setembro talvez fosse o mês. Não me lembro ao certo. Sou péssima com datas. Péssima com a hipocrisia. Ela não se encaixa em mim. E acho que sou péssima nesse lance de levar a vida. Não sei. Talvez eu só não tenha um talento específico. Sou extraordinariamente péssima com palavras. Sinto. Sinto bastante. Sou uma nuvem imensa de sentimentos, guardados, acumulados. E não sei ao certo para quem devo mostrá-los. Sou fechada, fria, arrogante. Talvez seja esse pessimismo todo.