Renata Fagundes
Eu gosto do que me inquieta
sair da rotina, dos trilhos,
perder o fôlego, a pose, o rumo, o sono
tenho preguiça do sossego, ele me deixa chata.
Quietude só na alma, meu corpo precisa ouvir meus vasos sanguíneos.
Não sei ver o mundo atrás das cortinas, dessa falsa proteção.
Eu preciso do perigo, da incerteza, da alma em festa,
preciso da vida bagunçando meus cabelos
como se eu fosse feita de vento.
Sou feita de gavetas...
lembranças amassadas, vestígios de infância, peças ousadas,
dobradas, perfumadas, bagunçadas, profundas, escuras, trancadas.
Não sou de meias palavras, olhares atravessados, meias verdades, meio quente,
meio lúcida, meia boca...
gente morna me embrulha o estômago.
Se eu, só sei ser inteira, por favor não me venha com metades.
Eu sei que faço bico quando me chamam de ciumenta
e sei que fico brava quando dizem que isso é coisa de gente insegura.
Discordo veementemente e assumo que tenho ciúmes dos amigos, dos sobrinhos, da família, do meu amor, dos meus livros, dos meus vestidos e brincos.
Não é insegurança ou egoísmo....
é a certeza de que ninguém cuida melhor deles que eu...rs
Sou incompleta, inacabada
me descubro e me surpreendo todos os dias
criatura feita de terra e vento
de palavra e reticências...
Era certo que eu me apaixonaria por um poeta, que vive de sonho e de palavra.
Não me vejo ao lado de um executivo por exemplo, muita formalidade, de um médico, muita ausência...
Eu preciso de palavras cristalizadas ao pé do ouvido, gestos melados para lubrificar as dobradiças das janelas da minha alma.
Sempre vejo de forma positiva quando alguém precisa ficar sozinho,
repensar os fatos, se reciclar, se redescobrir em meio aos escombros emocionais
É preciso sabedoria para fabricar a paz
em momentos de guerra interior
para termos a confirmação de que somos feitos de céu, de sonhos
para reencontrarmos nossa essência estrelada.
Me acolha em seus braços, me receba com o calor do seu amor
preciso de atenção, de zelo e muito mimo
prefiro ser orfã que filha da indiferença.
Não sei ser contida, discreta.
Brigo em voz alta, rio em voz alta, sinto em voz alta.
Sou feita de barulho e de verdade.
Murmúrio não faz parte de mim
e quem não gostar, que tape os ouvidos.
"Quero desprogramar a vida, consertar a bússola do coração para encontrar o caminho dos sonhos. Realidade demais endurece a gente. Vou rasgar os mapas, quero férias de agendas e datas. Eu só preciso de caminho para os meus pés."
"Quando meu dia
fica muito apertado
tiro o sapato
descalço
meus pensamentos
correm mais
livremente."
Compreendo perfeitamente pessoas mal humoradas, deve ser muito triste não ter alguém que faça cócegas em nossos corações.
"Cataloguei minhas mágoas, ressentimentos de estimação, rasguei os retratos da minha decepção. O amor chegou, era preciso limpar a casa. Veio decidido mudando tudo de lugar, aspirando a poeira do tempo, abriu as janelas da alma para o sol entrar, invadiu meu mundo, fez dos seus braços minha morada, do seu sorriso minha estrada, ensinou meu coração a dançar."
Aprendi que a humildade mora em corações alados que não carregam o peso do orgulho. Que respeito é par constante da admiração. E que só a generosidade é capaz de descongelar sentimentos frios.
Sumo de idéias
Esqueci a tal exatidão. Dar nome aos bois, colocar os pingos nos "is", bater de frente. Tirei férias disso tudo. Se algum desaforo bater à minha porta, não atendo. Canto ciranda, enfeito minhas tranças, converso com a esperança. Perdi minha mala carregada de ressentimentos na estrada do sossego. Mudei a rota, arranquei as portas que aprisionavam meu sorriso. Me perdi do tempo. Me encontrei em mim.
"Abraço é cuidado mudo. É a forma que encontramos de dizer: tudo vai ficar bem, sem palavras. É proteção para pesadelos infantis, porta aberta para corações fechados. É revelar sentimentos sem fazer estardalhaço. É encontrar o caminho sem pedir informação. Aconchego, morada, calor que vem do tum tum tum do coração e acalenta a alma. Eu sou grude, todo mundo sabe e aqueles que meus braços não alcançam, eu abraço com palavras."
“Aprendi que nada é tão grande como a gente vê. Ainda bem! Decidi descomplicar o simples, simplificar os dias. A gente planeja tanto, aí vem o inesperado fazendo festa, rindo dos nossos projetos megalomaníacos, nos ensinar que muita coisa depende de nós, mas que a vida é muito mais que um bloco de notas. Vem nos mostrar que não existe receita pronta, palavra certa, escolhas erradas, a vida se apresenta cada dia com uma nova roupa e cabe a nós tirá-la para dançar ou ficarmos sentados esperando a coragem chegar. Reaprendi a construir caminhos sem me preocupar com a chegada, apenas com cada passo da caminhada.”