Renan Peres Ferro
Guerreiros por razões de vida e morte, os seres humanos mostram-se capazes de amar mesmo diante da rejeição.
O pincel, o quadro-branco e a tinta;
A caligrafia e o compartilhamento.
As idéias, o debate, a conclusão:
Das histórias, o embate. Encantamento.
Estudante, papel, caneta;
Paixão, momento, inspiração.
Partituras, violão e palheta,
Roberval compõe “Marieta”,
Carinho. Fascínio. Canção.
Lisonja, Mara, alegria,
Roberval, Realismo, Machado.
Satisfação. Realização, trabalho.
Estrada, trânsito; moradia.
Chave, porta, chinelos.
Banheiro, alívio! Saiu.
Pijama, cama, reminiscências.
De Machado: Helena; condolências.
Cansada, virou, dormiu.
A AMIZADE EM VERSOS
Pois a vida é assim:
Uma hora te alegra,
Noutra te estressa...
E tu te perguntas:
"O que será de mim?".
Mas te peço que te acalmes.
Foca nas perspectivas para o futuro,
Faças da felicidade teu porto seguro!
Viver a vida?, sim! isto faz bem!
Prove e diga à infelicidade:
"Eu posso ser feliz também!".
Sinta-se bem aconchegada
Em minhas sinceras considerações;
Que a alegria seja a precursora de sua caminhada.
Despreocupada! com o afeto em fartas porções...
Que a amizade dure e a confiança se eternize.
Que o pano sobreviva ao tempo traiçoeiro;
Que a cruz marque, impávida, o sentimento pioneiro.
A mensagem aqui eu deixo:
"Sempre que necessitar,
Procure-me, sem hesitar,
Te aconselharei!
Em tudo te ajudarei,
E de brinde ganharás um abraço
E um casto beijo!".
The Rock In My Life
‘Yeah’!
Eu ouço “rock”. Qual o motivo do espanto? Você que insiste num discurso contra o preconceito, não acha preconceituoso me julgar por ouvir um gênero musical que não é de seu gosto? Pois saiba que sou “rockeiro” sim, e não é por isso que devo ser necessariamente um viciado em drogas. Não é porque algumas músicas falam de Satanás que sou adorador do Diabo e tenho um pacto com o Demônio! É desnecessário ter medo de mim por usar branco ou rosa e eu de preto ou cinza; não te machucarei. Não é por ser “rockeiro” que sou um maltrapilho fedido, e nem é por isso que não possuo o direito de usar um bom perfume...
E digo mais: encontrei no “rock” as críticas mais construtivas cantadas, as mais incríveis lições de vida e caráter, as melhores chacinas, os rituais instrumentais mais profundos e assustadores; ao som de uma ‘eletric guitar’ com o acompanhamento de um assovio suave e uma ‘battery’ com marcantes batidas, aprendi as mais belas histórias e estórias de amor...
Não sou obrigatoriamente satanista por apreciar símbolos, caveiras e cruzes, por ler e assistir ao terror! Não lhe matarei para beber o seu sangue e oferecer sua alma aos espíritos das trevas; mas que às vezes sinto essa vontade eu não posso negar.
Eu jamais te crucificarei por carregar uma Bíblia no suvaco e apresentar suas crenças a mim. Contudo respeite a minha crença e descrença, minhas visões e opiniões. Eu te ensino uma lição enquanto você me julga por te ignorar: respeito-lhe hoje, e sempre!; Palavras bonitas não reduzirão a minha capacidade de ser grosseiro ao estremo, quando necessário...
A sociedade necessita de seres pensantes. Posso ser um deles, e você também! Por isso não é necessário me excluir e recluso permanecer. A hipocrisia social obriga-nos a afastar-se, mas nem por isso eu deixo de “contribuir” para o ‘growth’ do Brazil.
[...]
Você recebe o meu respeito. Portanto, respeite-me!
Respeite-nos!
Não quero ser como você, tampouco o contrário, mas quero a sua mente aberta para o entendimento. “Rock” não é somente para curtir em um evento anual que passeia pelo mundo. “Rock” é eterno para os ouvidos, o coração ‘and the soul’!
A propósito, a alma e a eternidade existem? Sendo coisas que somente ‘One’ pode explicar, porque este não as justifica?
[...]
Não somos os melhores, mas somos capazes de evoluir a cada volta!
O queísmo nosso de cada dia
– Por que você some sem ao menos dizer por quê?
Por que você repreende seus instintos sem mais porquês?
Por que você renega os sentimentos, por quê?
Por que você me deixa na mão,
não me procura, não me diz o porquê?
– Para que eu apareceria
sem ter um porquê?
Para que eu permitiria
que meus instintos aflorassem
sem ter seu porquê?
Para que utilidade seriam esses sentimentos
sem todos esses quês?
Para que eu o procuraria,
Compareceria, por quê?
– Para que a minha vida
se completasse ao seu lado,
e que meu coração
entrasse nesse seu embalo;
para que assumíssemos a responsabilidade
de andarmos juntos por toda a cidade.
Para que vivêssemos em compatível ternura
e que nos tornássemos amantes de alma pura.
– E que desejas mais de mim,
sem mas e porquês,
se dentre os vários buquês
que recebi estavam as cláusulas desse amor.
Encontre uma maneira de eliminar os quês,
de acabar com todos os meus porquês;
faça-me este favor...
– Pois que por você eu tudo faço.
Retiro algemas, grilhões;
retiro fendas e me refaço.
Que o futuro abrilhante-se
diante de nós
e que possamos em harmonia
viver os mais longos dias;
acompanhados
da euforia dos mais largos passos,
vencendo gigantes espaços,
desatando todos os nós.
Medo? Nem sempre, mas que poderíamos facilmente vencê-lo.
Não!, costumes não nos definem e nem nos capacitarão a amar; senão a convivência, a inteligência, o gostar, o querer, o permanecer, o confiar e, o mais importante, o também-amar!
A Minha Hipócrita Vida
Minha vida tornou-se íntima da solidão e,
desde então, tudo e qualquer coisa que eu faça,
é simplesmente inútil.
Por diversas vezes sustentei a ideia que a vida
é perfeita e incapaz de promover sofrimentos e ilusões
àqueles que a prezam.
Contudo, independente da devoção por mim exercida,
a vida me privou o amor.
“Tão rude e tão inescrupulosa foste, Vida!
Iludindo-me com esta mulher que jurei amar
com a vida como prova;
esta mesma vida a qual me jurou eterna felicidade
traiu-me com a mais lavada das faces?!”Sim [..]
Abrasando a efêmera constância de um amor eterno e voraz
que um dia incendiou-me. Mas agora,
como tiro-de-extintor o combate, fazendo-o casto e gélido;
por aquela que primeiro me amou
e agora me abandona como quem jamais me conheceu,
adulterando a vida fiel e tornando-a uma eterna falsa prece
que não será ouvida nunca.
Agora,
sofro por esta reminiscência exasperada que me lateja a alma.
Tenho a certeza de que esta lembrança me perseguirá
a felicidade até o findar de meus dias e,
por mais ignoto que o seja, o pesar que fica,
é a única realidade existente: abandonou-me um grande amor;
o amor da minha vida!
Pois que, para mim, tu és flor de raridade comprovada, encontrada somente nos bosques reais de difícil acesso. Eis que, metaforicamente, este bosque tornou-se a minha vida e esta flor desabrochou. Com o aroma de devaneios agradáveis e o tamanho ideal ao repouso no coração. Um quadro do pintor mais detalhista, artista clássico de uma paixão ora semente, ora arvoredo; ora pudor. Tua cor eleva o olhar às mais profundas depressões, aos mais altos planaltos, ao arco-íris que aqui começa e se finda acolá, num infinito próximo de passos distantes e entrecruzados.
Sim!, isto é para tu que tornas os dias a paixão primogênita do proprietário deste referido coração. Qualidades, defeitos? Danem-se todas as mesmices; tu és assim, com a ausência destes e transbordando aqueles.
Tu és a rara flor de meu jardim!
Tudo está nos trilhos, você me faz bem... Para que a pressa se posso aproveitar cada sorriso seu?
Sentindo-me sozinho lhe procuro e encontro a paz... Para que pular os estágios se posso desfrutar de cada momento ao seu lado?
O pudor, recíproco - sim, recíproco! -, aquece a minha alma... Para que permanecer gélido se há uma chama que se chama paixão?
Não sei e nem pretendo encontrar definição, mas para quê? Se eu certifico tal sentimento, não existe motivo para definições posteriores. Ainda que tornem-se póstumas estas memórias, permanecerá vivo o amor nascido no coração. Não importará qual verme roerá primeiro minhas carnes frias, qual das caveiras serei eu... Para para que preocupar-se com isto se eu posso simplesmente deixar que tudo aconteça naturalmente?
Entenda, portanto, que independerá a circunstância. De nada valerá a prova. Inúteis serão as tentativas de eternizar algo que um dia se finda; mas que enquanto perdura, afronta a oposição, dá cabo da melancolia e alegra o coração.
UM ABRAÇO, UM OLHAR, UM BEIJO!
Quão belos são estes teus braços!
Os doces deleites do Paraíso;
a soma das dádivas que preciso
encontro-as na ternura de teu abraço.
Suave o brilho dos olhos meigos
delineados pela perfeição dos traços
segue, penetrante, ao encontro dos lábios
onde, juntos, formam um contexto:
Unidos – em um beijo
seremos uma forma
do mais puro desejo;
Unidos – sim!, eu arquejo.
Pois o teu amor me transforma
e, de paixão, eu fraquejo.
AMBIGUIDADE
É incrível a sensação de aqui
poder senti-lo e, da maneira
menos abrupta, encontrar a
paz que sempre me foi desejada.
Desfrutar das lembranças que
coroam os sentimentos bons e
pelejar para que esta permaneça
até que terminem os meus dias.
Todavia, as coisas não são como
Queremos; a banda não pode tocar
Ininterruptamente. Você não se faz
presente hoje, mas esteve ontem comigo.
SONETO LASCIVO
Em um poço atroz revestido de luxúria
eu mergulho, em insanidades, todos os dias
profanando o mandamento sagrado e a carne sã...
Tornando-a despedaços, lugubremente fria.
Abro os portais para o dia funéreo
em que a lascívia corromperá os fiéis;
maldições, preces ressoam em gritos dolorosos
iniciando a sombria inversão dos papéis.
E nesta luxúria sou um impávido soberbo;
impetuoso seguidor dos prazeres da carne,
onde qualquer idólatra se torna um homicida.
"Porque tudo o que há no mundo -
a concupiscência da carne, a concupiscência
dos olhos e a soberba da vida [...]".
SONETO AO POETA
Escrever?!... É ainda uma aventura desnecessária
que eu poderia substituir por qualquer outra mortalha.
Rabiscar palavras fingidas, que nada significam em
sua abrangência interpretada ao entendimento de ninguém.
Qual a razão deste culto clichê? O porquê da adorável função
dos sentidos impostos em entrelinhas que palpitam no coração?...
E quanto à transmissão da mensagem duramente planejada
e a necessidade de versificar estas palavras calejadas?...
Mas que é do suor escorrido que se desenham as belas letras,
as palavras – incógnitas desvendáveis –, e o sabor é diário;
o cotidiano que é indispensável ao bom gosto dos literários.
Pois as palavras não morrem, nem viram veredas.
Revivem-se a cada página virada, a cada minuto perdido;
escrever é dom da alma – que faz sorrir ao aflito.
– Se os meus olhos te guiam, então não há motivos para dúvidas...
Algo não encaixava. Aquele sorriso timidamente meigo, aquele brilho no olhar... – apesar da boa imagem, transmitia um desconforto maleável.
– Não são dúvidas. Acontece que...
– ...ainda não aconteceu! Nós não nos permitimos a isso; ainda não. Mas isso pode m...
– ...mudar! Claro! Mas nem tudo é um presente recebido ao acaso. Por vezes distribuímos falsas esperanças em ações imperceptíveis, enquanto outros aproveitam e nos pregam uma peça.
Tudo isso, toda essa palpitação recíproca, só fazia reacender uma chama: uma brasa provocada há anos e que não teve oportunidade de se alimentar, e crescer. Mas lá estávamos nós...
– O que falta para você tomar uma posição?
– Falta coragem. Falta determinação. Falta...
– ...você! Falta você! – interrompi, numa atitude súbita, porém consciente.
Emudeceu. Em seus braços, em sua nuca, o arrepio. Em sua expressão o calor. Em seu coração o pausar. Em seu estômago o congelar – o derreter.
Respirou fundo.
Nada poderia cancelar aquele momento. Nem o vento gélido que começara a nos tocar. Tampouco as grossas gotas de chuva fria que se puseram a cair.
Ela estremeceu.
Ao nosso redor: nada. Somente o gramado impecável e a cerca de árvores que imitavam um vão numa mata artificialmente fechada. Fora uma mudança no tempo – somente isso; antes o calor do esquentava a alma – agora o vento e a chuva apaziguavam o conflito interno.
Seu telefone tocou:
– Não me procure mais!
Desligou.
Sentou.
Encolheu.
Chorou...
Alegria? Tristeza?
Satisfação? Pressão?
Não importava!
O que agora importava era que a nossa Muralha-da-China viera abaixo. Tudo o que eu queria, tudo o que eu precisava, era protegê-la...
Tirei a minha camisa. Fui a sua direção. Agachei junto a ela enquanto lhe abraçava com a camisa tentando protegê-la.
Ela me fitou nos olhos.
Retribui.
Meu olhar desceu até focar os seus lábios enquanto minhas mãos involuntariamente largavam a camisa já encharcada.
Aproximamo-nos.
Seus lábios se moveram com a suavidade de uma flor:
– Eu t...
...acordei.
E, sem pensar,
tombado em espasmos da alma,
dolorosas palpitações por detrás de um dos lados da caixa de ossos,
onde dilacera-me esta dor contagiante;
a fúria atroz que me atinge submetendo-me ao delírio imortal - sim!
ele aqui permanecerá,
delirarei quando me convier,
e se achares desnecessário...
tente sentir o que sente a carne,
pensar como pensa um compositor desafiado pelo destino,
morrer como morrem os mártires,
viver o que vivem os miseráveis,
nascer como nasceram os ancestrais...
e se um dia entenderes o que me causa esta dor,
tão somente esqueça-a.
Um dia eu descobri no céu
que as estrelas, ainda que
distantes, são capazes de planejar
bons momentos aos amantes.
Trilham com estes o caminho
das flores, e navegam juntos
sobre os mares de rosas que
banham os inícios dos amores.
Depois as estrelas deixam de
perturbar a harmonia dos casais,
mas nunca deixam a fidelidade para trás.
Um dia eu descobri no céu
que as estrelas, ainda que
distantes, são como a Torre de Babel:
Lá do alto nos espiam,
desvencilham-se na noite
para livrar o amor do açoite
que é este mundo-carrossel.
E mesmo que as luzes da
civilização por ora as ocultem,
(parecendo apagadas) elas
sempre estão a brilhar.
Sacudindo essa nuvem de luzes, com
a esperança o amor pode contar.
Pois se preciso for, do céu elas
caem – para deste mundo ser
as estrelas-cadentes do amor.
E sendo o relacionamento um túnel rumo ao céu,
no fim, a estrela do amor (acesa sempre) estará.