Régis Cardoso
Nunca morremos, pelo menos não de verdade. O mundo parte de nós, mas o fato é que nunca partimos dele.
Não somos imortais da maneira prepotente como Hollywood costuma pintar seus heróis. Somos frágeis, cosmicamente insignificantes, imperfeitos.
Sempre haverá um pouco de nós na gentileza de nossos filhos e netos, que decerto aprenderam algo conosco e nos levam em forma de gestos.
É preciso compreender que, se 100% das experiências socialistas deram errado, significa que não foi por coincidência. Parece-me muito evidente, para não dizer óbvio, que a "deturpação de Marx" não é um fenômeno isolado que simplesmente acontece ao acaso.
E por falar em economia, um dos lemas do socialismo sempre foi lutar contra a concentração de renda. O mais interessante, porém, é que, ao invés de realizar a distribuição de riqueza, todos os regimes socialistas concentram-na ainda mais. A diferença é que, em vez de concentrar-se nas mãos dos tão chamados burgueses, a riqueza é detida pelos burocratas, com privilégios estatais exorbitantes. Usando a própria terminologia marxista, é certo dizer que, na prática, a extinção de classes não passa de uma substituição de classes.
Rejeitar a democracia completamente, mesmo em essência, por meros princípios dicotômicos e maniqueístas é não só de uma infantilidade abissal, mas também de um perigo estrondoso, como se rotular uma coisa como "burguesa" bastasse para ela ser indiscutivelmente repreensível e maligna.
Urge parar de antagonizar o estudo da economia e de pintar os próprios economistas como senhores malvados de chapéu, bigode e monóculo e compreender que a economia mantém um país em pé; não podemos dar-nos ao luxo de ignorar a geopolítica e incidir em experiências economicamente inadequadas que causam resultados desastrosos.
É de uma imprudência muito grande usar camisas e hastear bandeiras com imagens de verdadeiros tiranos como quem se orgulha de um herói da pátria.
Não importa o quão boas sejam as intenções dos ativistas se a tão amada "revolução" invariavelmente acaba em sangue e tirania, como a História nos ensina.
Não me ensinaram nada sobre esse negócio de sentimentos. Se ensinaram, devo ter perdido essa aula. Perder o controle: é isso. Não gosto. Me sinto vulnerável, e isso é aterorrizante.
Arrisca-te! O "não" tu já tens; a vida é cheia deles. O pior que pode acontecer-te é receberes mais um.
Se não nos fecharmos a ele, o tempo pode ser um ótimo professor e também o melhor remédio. Pode curar nossas feridas, por mais profundas que elas aparentem ser, e as cicatrizes que delas surgem são verdadeiros troféus a serem carregados.