Régis Cardoso
Se quiser ser respeitada, mulher tem que dar-se o respeito. Certo? Não. Não está certo porque respeito não é negociável.
Há um pensamento incutido nos jovens de grande parte das culturas, de que a população com idade mais avançada é tão inútil e facilmente descartável quanto um saco de batatas.
De nada adianta haver uma economia sustentável com superávits e poupança interna crescentes se a população é tratada como meros números sistemáticos e facilmente contornáveis.
O problema, penso eu, não está em haver tradições. As tradições constroem uma espécie de identidade cultural importante a todo tipo de sociedade. O problema está, na verdade, em impor suas tradições a todas as pessoas.
Talvez uma das maiores mentiras que nos são contadas quando crianças é a de que a ordem dos fatores não altera o produto. Os que dizem isto decerto nunca leram Machado de Assis, pois quem leu, bem sabe a diferença entre um autor defunto e um defunto autor.
Ter o benefício da dúvida é poder dizer "não sei" sem medo, pois somos humanos e estranho seria se tivéssemos tudo na ponta da língua.
Arrisco dizer que, se as pessoas levassem suas incertezas mais a sério, teríamos menos sangue e mais humanidade nas páginas dos livros de História.
O uniforme, o horário de entrada e saída, o enfileiramento e o aspecto hierárquico da instituição; tudo isto e muito mais da mentalidade escolar provém do modus operandi industrial.
Quase toda a matéria que é ensinada ao aluno é abstrata e dissociada da realidade. É incabível cobrar que o conteúdo seja sequer absorvido se, na mente do estudante, a matéria é completamente inútil em termos práticos.
Em vez de aprender, o aluno na verdade DECORA o conteúdo. O processo de "aprendizagem" torna-se mecânico e improdutivo. O resultado? Professores que fingem que ensinam e alunos que fingem que aprendem.
O cerne da educação brasileira (...) é fruto de uma imaturidade pedagógica sem tamanho. Tratam o aluno como criança e esperam que ele aja como adulto.
A vida se constrói de pequenas conclusões às quais chegamos ao longo dos anos. Dezoito primaveras foram-me suficientes para perceber que tinha razão minha avó quando dizia que mentira tem perna curta.
Cometem um grotesco equívoco os que hasteiam a bandeira do "sou sincero a qualquer custo". Sinceridade não significa dizer o que quiser a quem quiser.
Somos apenas alguns dos tantos outros pontinhos que já pisaram e que ainda pisarão na Terra. Ela própria, inclusive, é outro pontinho azul, no meio do nada e rodeada por uma infinitude de outros pontos.
O que nos distingue dos pontos de tinta — ou de pixels, se preferir — é que nós, ao contrário destes últimos, possuímos a capacidade de falar, comer, chorar, tolerar, sentir. Temos, sobretudo, sonhos, amores e outros pontinhos pelos quais viver.
Frases prontas de bom-dia ditas no rádio durante o horário matinal não me são suficientes. São como aqueles xaropes de marca barata que adoçam nosso paladar por um instante e, ao que nos damos conta, sobra apenas um gosto amargo de algo que foi mais vão do que deveria ter sido.
Com 18 anos, estou longe de ter uma posição política formada; até porque, se assim o tivesse, seria uma preciosa dica do quão cego determinada ideologia me deixara. Cá entre nós, ainda que eu tivesse 81 anos, não seria sensato cessar a busca por respostas.
[Tenho uma] teoria de que, quanto menor for um cachorro, mais demoníaco ele será, e igualmente maior será a probabilidade de meus vizinhos arrumarem um.
Cada pessoa que encontramos na rua tem sua história e batalhas próprias, das quais somente ela tem consciência. As feridas estão lá, vivas, latentes.
Parte da compreensão da nossa fragilidade diz respeito a, justamente, reconhecer que não somos de aço. Está tudo bem em abraçar o ursinho de pelúcia antes de dormir.
Carregava na ponta da língua uma retórica que mais parecia uma navalha. Tornou-se um rolo compressor de terno, tamanco e perfume.
Aos que não suportarem o "chocante pluralismo de visões de mundo", como cunhou Jürgen Habermas, fica minha recomendação: entrem em uma caixinha e isolem-se do mundo, pois as paredes podem ser convencidas a grito; as pessoas, não.