Raquel Schwenck
Eu não me afastei de você. Eu quis passar o resto da minha vida com você. Eu sentia tanto a sua falta. Todos os dias. Mas passamos semanas sem ter uma conversa amiga. Você nunca me deixou entrar pela sua porta de verdade. Eu nunca vi voce sentir a minha falta. Eu tomei outro caminho. Um caminho que não cura a minha dor incurável. Mas me ajuda a conviver com ela.
"Não, eu não quero ouvir voce dizer que sente muito, que não queria que tudo ficasse assim, que teria feito diferente se pudesse, porque voce podia, mas voce não fez, porque eu sabia que um dia isso ia acontecer, e isso dói. Me dói que voce tenha tido a minha vida tão completamente sobre as suas mãos e nunca a tenha segurado como os outros fariam. Voce não me segurou com tanta força que me fez escapar pelos seus dedos. Não. Voce me deixou tão solta que um dia eu precisei fugir dos seus dedos. Fugir com todas as minhas forças, por mais que eu não quisesse fazer isso, mas eu precisava disso, porque o meu coração estava se cansando de se sentir tão sozinho e não ter alguém para andar de mãos dadas com ele. E ouvir voce dizer que sente muito por isso dói. Dói ver que isso não conserta nada. Dói ver que eu olhava para nós com tanto amor e com tanta certeza de que um sentimento tão lindo devia ser eterno mas olhar sozinha não adiantava nada. Me dói ver que... doeu tanto e por tanto tempo que eu aprendi a conviver com a dor."
Penso que o fim do amor não é triste. Se você deixou de amar alguém é porque não era para ser. E isto se torna um alívio. Não precisa mais se dedicar ao que não ia render. É a sequência natural do início e fim. O amor nasceu e morreu como devia e isso é indolor. Acho que toda dor, tristeza e desespero se encontram no fim da paixão. Você ainda ama com todas as suas forças. Você, mesmo sem querer, ainda deposita todos os grandes sonhos da sua vida. Mas você não sente mais prazer nisto. Porque a pessoa que você ama não te mantém mais apaixonada. A pessoa que você ama conseguiu permitir que você se cansasse e não tivesse mais forças para lutar. E isto sim é decepcionante. Se entregar de bandeja nas mãos de alguém e ver que esta pessoa teve a capacidade de te deixar escorrer pelos dedos. Porque quando você se cansa, quando não há mais prazer naquela luta diária, quando você não tem mais aquela paixão para te alimentar e manter forte... Qual sentido ainda há? Ah, que desperdício de sentimentos. Que pecado. O amor vive. Mas você já está morto por dentro. Fim. Triste.
"Não sei se as melhores, porque isso é se sentir demais. Mas, na verdade, nos sentimos, uma à outra, demais mesmo, então as maiores amigas do mundo. Estilo casal-sem-vergonha. Masoquista não. O mundo faz a gente sofrer. Mas a gente não se faz. Não uma à outra. Mas a gente não tem um pingo de descencia. Estilo trabalho-feito. Sobrenaturalmente ligadas. Era desse jeito. E daí se tinha dia que a gente não acordava nem um pouco afim da cara da outra? Se a gente pensava "essa daí é louca, interna ela, eu não aguento mais!". A gente divorcia. Vira-e-mexe. Ela vai pra lá, eu vou pra cá. Dou uma vividinha sem ela e ela sem mim. Nos apaixonamos loucamente por umas vadias de esquina que nos destraem por um tempo e nos reabastecem. Mas sempre voltamos. Porque? Já falei do sobrenaturalmente ligadas. Certo. Tem essa. A gente sente falta uma da outra e diz que não sabe porque. Mas no fundinho a gente sabe sim. Ninguém levaria um tiro por ela como eu levaria. Ninguém seguraria meu chão com as mãos como ela segura. O que a gente não sabe é porque a gente consegue fazer isso tudo sem se cansar de vez e dar um basta definitivo. Ah, vamos parar de drama. A gente sabe de tudo sim. A gente se ama. Pronto. Explicado. Mesmo com todas as diferenças. Porque alguém fez um trabalho pra gente ser esse casal indescente. Só para constar, um salve pra quem fez. Eu adoro saber que não vivo sem ela, simplesmente porque ela é a única pessoa que eu enxergo que também não vive sem mim.”
“E que Deus tenha misericórdia de mim,
que eu consiga esquecer as minhas promessas a você,
que eu consiga esquecer a minha eternidade tão sua,
que eu consiga esquecer o amor incondicional,
que eu consiga esquecer os sonhos mais felizes,
que eu consiga esquecer os planos mais lindos,
que eu consiga esquecer o futuro tão desejado,
que eu consiga esquecer a dor incalculável,
que eu consiga esquecer a falta de rumo dessa solidão,
que eu consiga esquecer o vazio de minha vida,
que eu consiga esquecer de mim mesma,
porque, Deus, tenha misericórdia de mim,
eu não me esquecerei de você.” (sobre F., apenas em um momento ruim.)
"Eu? Eu não sei. Eu só sei que eu acordei vazia, oca. Não sentia nada batendo, pulsando, respirando, por mais que parecesse que sim, porque eu ainda conseguia ficar de pé. Ou pelo menos na teoria, porque eu me encolhi como um feto debaixo daqueles cobertores, abraçando minhas pernas, deixando aquele excesso de desorientação se materializar em minhas lágrimas e soluços. Eu não fazia idéia de para onde ir, eu queria gritar por socorro, dizer que eu estava perdida, que as mãos que me acolhiam viraram pó diante dos meus olhos depois que eu percebi que elas não passavam de um sonho muito parecido com a realidade que eu desejei. Mas eu sabia que ninguém me ouviria. Na verdade, eu não queria ser ouvida. O meu desejo ainda era exclusivo daquelas mãos e agora eu não fazia idéia de para onde ir. Mas eu não podia continuar ali." (sobre F., apenas em um momento ruim.)
“- sua mãe te ensinou a cozinhar garotos e agora voce esta sendo cozinhada.
- estou.
- e porque nao cai fora?
- quero ver como é o prato pronto.
- nem sabe quanto isso vai demorar.
- eu tenho o resto da minha vida pra esperar.” (sobre F.)
“E ela chegou a um ponto em que não tinha mais consciência do que adorava mais naquele conjunto enorme de pontas da personalidade dele. Se eram as qualidades que fizeram um dia o interesse dela ser despertado ou se eram os defeitos, que faziam ela ver a cada dia o quão honesta e finalmente real e palpável podia ser a sua vida e a mantinham ali, fixa, ao lado dele. Como nunca antes havia conseguido se fixar em alguém.” (sobre F.)
"Eu sei que tudo isso está me fazendo ficar calada, submissa e chorosa mais do que eu esperava, porque eu não gosto de comentar o quanto ciumenta, medrosa e insegura eu fico a cada palavra dele à respeito de um mundo em que eu não estou inclusa me fazem pensar que logo ele vai me esquecer. Mas eu acho que vale a pena se quando ele diz 'é você quem eu quero' as lágrimas que eu derramo são de alegria, lágrimas que eu nunca derramei antes." (sobre F.)
"E toda forma de amor que eu conhecer, eu darei a ele, e toda forma de amor que ele conhecer, eu desejerei aprender com ele, e toda forma de amor que existir nós faremos, nós viveremos, nós descobriremos, nós inventaremos." (sobre F.)
"Sabe, tem uma frase ou texto de nao sei quem, que as pessoas sempre usam, que diz que as pessoas que menos sabem amar sao as que mais precisam ser amadas. As vezes eu acho que voce precisa de mim, talvez nao agora, nesse momento, nao te enxergo precisando de mim agora, apesar de voce ter dito uma vez que precisava, mas acho que foi desesperinho de me perder... Mas quando tudo terminar, sabe, quando nao sobrar mais nada, e voce pensar que ficou sozinho, tem que ter alguem por ti, tem que ter alguem que vai ficar do teu lado mesmo levando na cara de vez em quando, tem que ter alguem suficientemente forte pra nao precisar ter voce do jeito que deseja ter pra continuar te achando o "unico no mundo", tem que ter alguem pra dizer "nem todo mundo foi embora, eu ainda to aqui, e ai, agora deixa eu cuidar de ti?", porque todo mundo devia ter alguem assim... E se tiver que ser eu, sabe, vai ser... alguem la em cima vai cuidar de mim e vai continuar me guiando pra isso." (sobre F.)
"Se eu pudesse ao menos por um segundo olhar dentro daqueles olhos tão lindos, tão perfeitos e tão amados por mim, de uma forma que o fizesse entender que dessa vez me bastaria um único sinal dele para abrir mão de todo o resto do mundo ao nosso redor, e me manter ali inteira e intensa para todo o sempre, sem nunca mais desejar outra coisa que não fosse ele, nada além dele, como devia ser... Ah, se eu pudesse."