Raniere Gonçalves
Matinée.
Amar na tarde tem gosto de meninice.
Tão bom se ater aos detalhes,
sussurros.
Barrigas coladas: suor e fluidos.
Roseta de doze pontas.
Rodeio que começa num vórtice de emoções,
de possibilidades.
Um escocês vai sair da caixa,
logo.
Rosso, encarnado, sangre, rubro, tinto: Vinhos!
Italianos, franceses, chilenos.
E massas.
Deleites de inverno.
Quem não tem mostra,
quem tem esconde.
Fácil de esconder gordurinhas,
pneuzinhos e pancinhas
nessas noites geladas.
Meus olhos faiscavam.
Duas brasas incandescentes dentro da noite.
Whiskey nas veias
e um coração gelado como o minuano.
Outra noite no ninho.
Desse jeito acabarei me curando de todos os vícios.
E viver sem eles é que é a verdadeira droga.
Fincar é bão!
Nesse friozinho.
Devagar, com carinho.
Olhares de carneiro,
profundos,
penetrantes.
O tempo não existe.
Um incenso queima.
A gata de porcelana pisca o olho
lá na estante.
E a vida segue com meu estômago
me lembrando do almoço.
Tão vizinhos são os caminhos
do dia e os da noite.
Quisera não dormir.
Vogar,
vogar...
Vida: tão breve,
tão intensa.
Agora vejo o quadrangular vespertino
com meus olhos laterais.
Meu time ganha.
Sinto os vapores de um café fumegante
vindos da cozinha..
São 5h.
Não havia pólen nas tulipas do bar.
O bico de língua molhada olha para teto
com seu olho cego.
Dormirei sem perfume.
Eleições ainda tardam
mas não seria má idéia
aproveitar os perdigotos dos pré-candidatos
para irrigar a lavoura comunitária.
Era noite.
O bóreas não soprava.
O céu de púrpura que estava
parecia uma aurora surreal.
Chovia estrelas.
Agora a seca que faz aqui me inunda
todos os poros
e também os meus olhos marrons.
Ventos agustinos sopram o diabo.
Dezembro tão longe.
Água de amolecer o cérebro.
O cérebro virando água.
Aguardente.
A noite se esvaindo
sob o farol da lua cheia.
Estômago roncando.
Parece alguma língua estrangeira.
Da cozinha vem um vento
com vapores de assado que envolve
e fustiga.