Raniere Gonçalves
Sopraram purpurina
no céu da cidade.
Meu coração neon
desatou num pisca-e-bate.
Uma noite-boite
de vaga-lumes flamejantes.
Você diz algures
e a pessoa acaba por entender
alhures.
E a vida ensina
que é preciso um pouco de zen
para saber usar o arco...
Quintar uma solidão desmedida.
Enfiar a cabeça num buraco de lembranças.
E só me resta dobrar o tempo
para mudar o futuro.
Nostalgia que me aflige.
Garganta seca de cervejas,
de aventuras baratas,
de vícios,
de ócio,
de pequenas vulgaridades.
Tantas andanças,
tantas elucubrações sobre o sentido da vida
e num repente me descubro
um menino rural vivendo de vacas.
Polilinda com seu batom vermelho rasgando a noite.
Volúpia e dor.
É quinta e as tulipas continuam amarelas em Amsterdam.
Tempo que cura
e mata.
Tempo que enruga
tudo.
Tempo que nos faz olhar
pra trás
quando já é tarde.
Vida.
Espero que finde logo esse ciclo nefasto do tempo. Confrange-me o coração.Anseio respirar serenidade sem nuvens. Viver!
O vaporizador me sopra com um hálito gelado. Um deleite de cachoeira noturno. Respiro saudades suas, entrementes...
Sono intermitente e esse vazio continua. Preciso parar de contar nuvens e escolher logo outro caminho.. Galinhas cacarejam lá fora, de campana pra filar a ração dos gatos. Enquanto isso continuo a navegar entre travesseiros.
Olhos no vazio escuto meu coração dissonante, nostálgico de passados e esperança.. O relógio bate vagaroso e eu me pergunto o que faço com essa solidão desandada?
Olhos passarinhando
ruas e arranha-céus.
Respiro passado.
Odes doutros idos.
Peripateteando em zigue-zagues
no centro do mundo.
Voláteis sensações:
vida!
Aquilo que acontece uma vez pode ser que não aconteça de novo mas aquilo que acontece duas vezes certamente acontecerá mais vezes. Meus pressentimentos escrevem meu destino...
Eu que perambulei por todas as vielas do mundo estou agora entrincheirado, aneantido, resmungando reumatismos.