Raniel Bomtempo
Dia após dia, estou eu aqui, vagando pelo meu universo paradoxal. Viajante da madrugada, refém da própria existência, navegando em meio ao mar agitado de meu interior. Sempre eu, acompanhado de mim mesmo, dentro do meu infinito particular.
Muitas pessoas folheiam livros grandes e os devolvem a prateleira, dificilmente criam coragem para imergir em seu conteúdo. Livros grandes e pessoas como eu, tem muito em comum.
Um som, uma imagem, uma cor
Um cheio, um toque, um sabor...
E todas as belezas que guardei em mim
Eu mostrarei a você, se você deixar.
Dias de quarentena
Sem medo
Sem angústia
Remoldando aquilo que sou
Aprendendo novas maneiras de ser.
Momentos em que todas as coisas ditas impossíveis, tornam-se promessas fáceis. Afinal, o que nós jovens não podemos viver?
Vá humanidade...
Segue teu destino apático
Onde só há vaidade
Nesse teu agir sistemático
Cale-se humanidade...
Hoje o mundo é tão fanático
Então não digas nada
Nem mesmo a "verdade"
Quem me dera fosse só silêncio...
Quem me dera se tivesse resposta
Neste mundo tão vazio
Silêncio é a melhor proposta
É tudo tão passageiro...
Nesse planeta de gargantas falantes
Me sinto tão estrangeiro
Meus olhares são tão contrastantes
É melancólico dizer...
Que eu nada posso fazer
Pasmo-me
E sinto pena
Sinto dó...
Com a certeza de perecer
Me sinto só
E minha garganta já tem tanto nó
Nesse mundo...
Em que muitos pesam ouro
E valerão...
Pó.
Pode-se fazer a verdade de muitas coisas, até mesmo quando essa verdade é mentira. É impossível tomar para si as rédeas da alheia presunção humana. E no decurso das coisas, basta a cada um, tornar-se uma narrativa de muitas interpretações, até o dia do esquecimento.
Saboreio hoje o dissabor de sonhar, pois a amizade que concebi, eram utópicas fantasias, dos devaneios dos meus sonhos.
Hoje colho esse fruto amargo. Sob o pé que cresceu regado por lágrimas. E sento-me de baixo do mesmo, pra agora sim, repousar na minha solidão.
Do que antes pudera eu, amaldiçoar o maldito dia que saí do ventre de minha mãe, afim de ser poupado.
Mas não, pois ainda... ainda, sigo firme, sendo um amigo íntimo.
Íntimo de mim mesmo, e dos meus ideais.
A minha relação com a verdade será sempre abusiva. Pois, sou plenamente capaz de ama-la, por mais desagradável que seja.
Eu acredito que em vida, não podemos definir a real forma de nossa personalidade e nos afirmar perante o mundo. Porque a todo momento, os elementos que nos compõem, possuem uma forte dose de contradição interna, e nem mesmo o conjunto de nossas contradições, porventura poderíamos descreve-las, porque são muitas. O que realmente somos é envolvido por uma casca, contendo os vários papéis que desempenhamos, nossas projeções e expectativas individuais, que diante de Deus, se esvai, revelando uma nudez sem forma ou figura descritível, decifrável apenas por Ele.
Sei que a vida e tudo que há nela, não são coisas que eu possa limitar com poesia. Mas seguirei no eterno retorno de dizer o que a maioria das pessoas não conseguem.