quero poder mudar meu céu
descolorir essa aquarela
e rabiscar minha paisagem.
toda memória guarda um instante
que talvez tenha ficado perdido
por não aguentar mais aparecer
por não aguentar mais arder
por fazer sofrer.
aqueles que amam
que sentem
se perdem sobre si.
notei em você algo que habita em mim
- caos.
meus dias já foram melhores
hoje eu apenas existo
insisto, mas existo.
existem dias
onde o tempo não quis passar
ele também acreditou em nós.
pouquíssimos momentos me fizeram sorrir
você me mostrou isso.
se perca
pelo menos por instantes
seja anormal
pelo menos para os normais
seja amor
pelo menos por você.
alguns acontecimentos
só provam o quanto
somos poeira
se o vento bater em nossa direção
podemos nunca mais existir ali.
me leve
para um caminho
onde podemos ser normais.
se parar para me olhar
encontrará dois horizontes
paz e turbulência
jardim com espinhos.
antes de me conhecer
precisa entender que sou caos
mas também sou primavera
sou oceano
mas também sou deserto.
a lucidez diante de um poeta
é como a estrela dos pedidos
raramente acontece.
cacos
não se restituem
se tornam outra forma de vida
se tornam passagem.
a segunda-feira ainda é amarga
salga minhas declarações de loucura
recitadas durante o fim de semana.
nunca soube dizer adeus
apenas me retirava
virava lembrança.
outro dia eu me reviro
hoje mantenho
minha capa
ando sem ser visto
vivo prazerosamente
para mim.
infindáveis vezes
que pensei
que chorei
lembrando do peito
que se partiu
e nunca mais se restaurou.
chuva solitária
que insiste em cair
para molhar lugares
pessoas e estações
que há tempos foram seca.
se eu acordar
e nada mais me fizer sentido
então posso continuar
tentando encontrar algum.
o reflexo
sempre diz
o que deveria ter acontecido.
há sempre
diferentes maneiras
de recriar
uma paisagem.
e tudo que precisamos
é encontrar alguém
que enxergue o mesmo horizonte
que nós.
aos prazeres noturnos
ainda os sinto.
a travessia é mais linda
que a chegada
ao destino
comum.