R.M. Cardoso
TROVA - 103
Tua boca tão perfeita
É convite para beijos,
Pois parece que foi feita
Para saciar desejos.
CONSTRUÇÃO DO AMANHÃ
Calçado
de sonhos,
levo,
em
minha
andança,
as ferramentas
necessárias
para,
destemido,
construir
o amanhã:
o tijolo
da fé
e o cimento
da esperança.
SEM CONTEÚDO
Nada
me atrai
nos parâmetros
da noite
escassa
de conteúdo,
senão
o silêncio
trajado
de poesia -
que é
tudo!
A DANÇARINA
No palco da formosura
Tu dançavas sutilmente,
A plateia intensamente
Te aplaudia com fervura!
E eu, à beira da loucura,
Tal e qual aquela gente,
Vibrava, incessantemente,
Com tua desenvoltura!
Mas o tempo, alheio a tudo,
Foi passando livre e mudo,
Te roubando a energia...
Hoje brilha a tua dança
Só no palco da lembrança,
Sem plateia e euforia!.
TROVAS -
104
Beijo roubado é tão bom,
Tem sabor de sedução,
Deixa a marca do batom
Na boca e no coração!
105
Satisfazem o desejo
Beijos roubados, bem sei.
Só me lamento do beijo
Que roubar eu não ousei!...
ERROS
Tu
"foi"
minha,
eu
fui
teu
servo.
Mas
nós
cometemos
erros,
assim
como
o fiz
(acima)
na conjugação
do verbo.
JOGO DA VIDA
Implacável
árbitro,
mas
não
arbitrário,
o tempo
tem
livre
arbítrio
e está
sempre
apto
para
o jogo
da vida:
ácido,
complexo
e mágico!...
POR ENQUANTO
Debruçado sobre a vida
Ouço passos ininterruptos
Do tempo me alucinando!
Desanima perceber
Que a tarde já declina
Sem anúncio de estrelas
Nem prelúdio de luar
Para a construção da noite.
Por enquanto, me equilibro
No topo de uma ideia,
Nas vértebras de um poema.
TROVAS -
106
Às vezes - a solidão -
Torna-se útil companhia:
Ajuda na construção
De sonhos e poesia.
107
A saudade e a solidão
São tão amigas, ao certo,
Na alma ou no coração,
Uma d'outra mora perto.
ESPINHOS
Parar...
dos pés
retirar
espinhos...
calçar
meias
de lona
e tamancos
de cedro...
restaurar
ideias
e prosseguir
caminhos.
TROVAS -
108
Quem cuida da vida alheia
Vejam só o que acontece:
A inimizade semeia
E da sua vida esquece.
109
O que se planta se colhe,
Isto sempre afirma alguém.
Mas há quem plante o mal, olhe,
Querendo colher o bem.
TROVA - 110
Ela diz que não se entrega
E se mostra tão arisca,
Mas é peixe que se pega -
E sem precisar de isca.
TROVAS -
111
Parece que o teu encanto
Tem um feitiço qualquer:
Põe-me nos olhos um manto
P'ra qualquer outra mulher.
112
Tens apetrechos de sobra
Mas não provoques, morena,
Que vais cutucar a cobra
Com vara muito pequena.
EXÍLIO
Exilei-me
das turbulências
da incerteza
e do medo,
e agora,
em
nova
dimensão,
sou
construtor
do amanhã!
TROVA - 113
Quando acaba, o amor deixa
Uma herança de verdade:
Quando não é uma queixa,
Deixa, n'alma, uma saudade!
PÉ NA ESTRADA
Para prosperar na vida
É preciso pé na estrada,
Seguir de cabeça erguida,
Ter a mente iluminada.
Se a trajetória é dorida,
O conforto é a chegada,
A colheita merecida
Da esperança semeada.
Fosse a luta o nosso ofício
De cada dia, mês e ano,
A hora nunca um desperdício;
Ah, se cada ser humano
Fizesse da luta um vício,
Não viria o desengano!...
IMPROVISO DE AMOR
Lembro:
eu
e ela,
lá
no interior,
detrás
do cajueiro,
quando
no porão
da noite
a lua
se escondeu,
para
não
testemunhar
nosso
improviso
de amor!...
BATUQUE
Ruflam
os tambores
da reminiscência,
dançam
as emoções
em
órbita
do tempo!
Cessa
o batuque,
mas
ainda
fulgem
as cenas
no meu
pensamento!...
TROVA - 114
Suponho que algum mistério
No seu encanto se instala!
Quando eu a vejo, é sério,
Estremeço e perco a fala!...
OSCILAÇÕES
Algumas
vezes -
gênio;
outras
vezes -
imbecil
e (de vez
em
quando)
louco...
Entre
lógica
e incoerência,
eu
oscilo
um
pouco.