R.M. Cardoso
SEM PUDOR
No palco do amor -
Deleite profundo,
se anula o pudor,
Se olvida do mundo!
Se olvida do mundo,
Se anula o pudor,
Deleite profundo -
No palco do amor!
Vibram corpo e alma,
Vibra o coração,
Vibram os sentidos!
Depois, doce calma...
E eu e ela, então,
Na cama... exauridos!...
TROVA - 84
A saudade não tem hora
Quando vem nos visitar,
Não diz quando vai embora
Ou se veio p'ra ficar.
AO SOM DO SILÊNCIO
Do fundo da noite
Observo o além...
Estrelas cintilam,
Doce inspiração
Qual prêmio me vem.
Um bando de sonhos
Agita minh'alma...
A brisa carrega
Um cheiro de mato
Que aos poucos me acalma.
Um pouco de vinho -
E mais poesia.
E bailam as horas
Ao som do silêncio
Da noite tão fria!
TROVA - 85
No amor, quem faz promessa
Apenas para enganar,
Vai ter dívidas à beça,
Bem caro pode pagar.
NAMORO NA ROÇA
Na roça o namoro é bom
Se tiver muito chamego
E se a "nega" disser, com
Dengo: - Eu quero mais, meu "nego".
É um grude, é um apego...
É a voz quase sem som...
É chamego sem sossego
E sempre no mesmo tom.
Nesse ardente chamegar,
Esse casal lá da roça
Vê a família esticar.
E, depois de alguns aninhos,
A gente vê, na palhoça,
Mais de seis barrigudinhos.
TROVA - 87
Quando eu a vejo passar
Tão sedutora e risonha,
Ponho malícia no olhar,
Perco o juízo e a vergonha.
TROVA - 88
Desde o dia em que te vi
Levo a vida deste jeito:
A mente grudada em ti,
Já não durmo mais direito.
TROVA - 89
Tem coração que parece
Não aprender a lição,
Pois, bem uma não esquece,
Inventa nova paixão.
TROVA - 90
A voz do perdão ecoa
Como um canto tão bendito!
Mas acho que se perdoa
Conforme o erro ou delito.
TROVA - 91
Eu vivo cumprindo pena
Por iludir corações.
O destino me condena
Sem colher minhas razões!
SOBREVIVENTES
A ininterrupta
violência
(que dos homens
petrifica
a alma)
nos causa
o caos
e cava
o abismo
que vai
engolir
os sobreviventes!
TROVA - 92
Nunca julgue uma pessoa
Sem conhecê-la direito.
Ás vezes, num'alma boa,
Nós implantamos defeito.
RIO DO DESTINO
Pedaços de árvore seca
Tombada no sertão quente
No período da seca,
Arrastam-se, lentamente,
Nessas águas tão escuras
Do velho e cansado rio,
Que eu, repleto de amarguras,
Da sua margem espio!
Àquela árvore igual
Há muita gente, afinal,
À beira do desatino!
Pois se arrastam tantas vidas
Nessas águas poluídas
De um tal rio do destino!...
TROVA - 94
Minha alma era vazia,
Descorando os dias meus!
Encheu-se de poesia,
Perante os enlevos teus!
TROVA - 93
Na vida tudo é fugaz,
É necessário dizer-te,
Mas de mim não sai jamais
Este desejo de ter-te.
TROVA - 95
Pelos caminhos da vida,
Tão perdido, caminhei!
Mas ao te encontrar, querida,
Eu, enfim, me reencontrei!
TROVA - 96
Com o tempo tudo finda,
Isto é fato comprovado,
Mas (na alma) fica ainda
Um resquício do passado.
TROVA - 97
Não tem encanto a jornada
Nem alegria, sequer,
Se com o homem, na estrada,
Não seguir uma mulher.
TEMPO E VIDA
O tempo
é ouro,
o tempo
urge;
a vida
é
bela,
a vida
é
breve.
Tempo
e vida,
vida
e tempo -
Jogar
fora
quem
se atreve?...
TROVAS
99
Quando ela passa, atraente,
Bem em frente à minha casa,
Sinto um troço, de repente ,
Que me queima feito brasa!
100
Tão formosa e pretendida
Qual a flor que tem perfume,
Ela é tão comprometida,
Mas eu morro de ciúme!
ESTRIAS
no galope
dos dias
de tropeço
em
tropeço
nas trilhas
da memória
as lembranças
envelhecem
e se enchem
de estrias
TROVAS -
101
Deixe a porta d'alma aberta
Para o amor e a bonança.
Tudo tem sua hora certa,
Quem sabe esperar não cansa.
102
O porvir é promissor,
A colheita melhor é,
Se a alma do sonhador
For semeada de fé.