R.M. Cardoso
VENENO
Abrasa-me o peito
O sol do querer-te,
Quisera envolver-te
Desnuda em meu leito.
Desejo que é feito
Uma fera inerte
Na ânsia que acerte
O salto perfeito...
É chama que queima,
Loucura que teima
Em tanger-me a paz.
Veneno, afinal,
Tão forte, fatal -
E bebe-se mais!...
ÊXTASE
A inspiração
no cio,
ideias
avulsas
transbordando
como
um rio.
Bailam
rimas
e metáforas
na cadência
das palavras.
Poema -
sinfônica
orquestra,
êxtase
e festa.
TREVAS
Há
um
triunfo
de trevas
desfigurando
os nossos
dias!
Provisoriamente,
as luzes
se apagaram
nas instalações
do caos!
Restam
poesias!...
PAISAGEM SERTANEJA
Sonâmbulo,
o vento
se movia
entre
as plantas
do quintal.
As aves
dormiam
nos poleiros.
Das nuvens
escorriam
uns
resíduos
de inverno...
Livremente,
um
verso
prosperava,
simples
e terno.
O SILÊNCIO
O que é,
às
vezes,
o silêncio?
senão
o eco
de um
grito
espetado
na garganta;
senão o acre
desespero
armazenado
na alma;
senão
o riso
camuflado
entre
os detritos
da ilusão!...
INDAGAÇÕES
De que galáxias
virão
as evidências
dos sonhos
não
tangíveis?...
Hóspedes
de mim,
as indagações
têm
sido
inflexíveis.
TROVA
AMAR É TAL QUAL A ROSA
QUE VICEJA NOS CAMINHOS:
TEM AROMA, É GRACIOSA
MAS OSTENTA SEUS ESPINHOS!
AS APARÊNCIAS
Já não creio em total felicidade
Dos mais enamorados corações.
Quem propaga ter um bem de verdade,
Muitas vezes, imerge em ilusões.
Quem busca eternizar a afinidade
Nem sempre colhe doces emoções,
Onde se julga haver serenidade
Prosperam turbulentas sensações.
"Ninguém é de ninguém" - assim se diz;
"Aparências enganam" - isto é certo.
No amor a gente sempre é aprendiz.
Se agora alguém te quer e vive perto,
Depois parte olvidando que te quis
E tua vida torna-se um deserto.
TEMPOS DEMOLIDOS
As moendas
da memória
moem
ritos
e detalhes
de enredos
consumidos.
Só
algumas
ávidas
e sólidas
lembranças
ainda
se mantêm
na escassa
pastagem
dos tempos
demolidos.
REFLETIR
Nacos
de sol
ainda
douram
a cidade...
os dedos
do outono
alisam
as rugas
do entardecer -
e o refletir
do poeta
voa
para
a imensidade!...
DEGENERAÇÕES PSÍQUICAS
Amolam-se
as navalhas
para
o provável
ritual
das mutações...
degenerações
psíquicas,
defectivos
conceitos
estimulam
a perda
e o dano...
Há
um
golpe
sem
sangue
na sensível
pele
do cotidiano.
METAMORFOSE
Vidas
e tempos
voláteis,
velozes.
Reinvenção
de sonhos,
ideias,
e pensamentos.
Mutáveis
sensações,
imprescindível
metamorfose.
RESSENTIMENTOS
Horas
encardidas,
ouve-se
o eco
das palavras
esquecidas,
inflamam-se
as fagulhas
do momentâneo
recordar,
estimulando
a explosão
das almas
ressentidas!
TROVA
SE DE SAUDADES SE VIVE,
NO FARDO D'ALMA, NÃO NEGO,
DE ALGUNS AMORES QUE TIVE
NÃO SEI QUANTAS EU CARREGO!
OVERDOSE
Sonhar-te
intensamente
é
algo
imprescritível
e notório,
ainda
que infrutífera
a espera
e me sufoque
a overdose
do ilusório!
PÁTRIA AMADA
...E o circo pega fogo
No alçapão dos brasis...
Borbulham panelaços
Nas trempes da Pátria Amada...
Um muro um tanto frágil
Separa os espectadores,
Aliás, as torcidas.
De um lado - o verde e o amarelo
E do outro - o vermelho.
Gestos e gritos, uivos e berros
Arrebentando tímpanos...
Durante horas quilométricas
Frenéticos atores
Protagonizam as cenas
E afugentam o cansaço.
Eis o nobre circo
Em que, sem exceção,
Cada artista é um palhaço.
DO VENTRE DA NATUREZA
Sem vestígios de fadiga
Estampados no meu rosto,
Prossigo minha jornada
Cantando alegre, disposto.
E cada manhã que nasce
Do ventre da Natureza,
Tudo, tudo se abastece
De magia e de beleza!
Quando o hálito da brisa
se espalha na primavera,
Renova-se a esperança
Na canção e na quimera.
E cada paisagem nova
Diante do meu olhar,
Intensifica o prazer
E a alegria de cantar.
NASCIMENTO DE BRASÍLIA
Juscelino
engravidou
a ideia,
Oscar
Niemeyer
fez
o parto -
1960,
21 de abril,
nasce
Brasília
no Planalto
Central
do Brasil.
PRAGMATISMO
Pensamentos
e ideias,
palavras
não
burocráticas...
De vez
em
quando
lampejam
(no trajeto
dos conceitos)
umas
canções
pragmáticas.