Priscila Rôde
Que as desesperanças do outro não paralisem os bons ventos,
nem esvaziem os mares de boas vindas que guardei pra hoje.
E quando você resolver não ligar, o mais esperado vai acontecer. A distração coopera com os sonhos. Tudo tem o seu tempo.
Não se apresse não. Quando é amor mesmo, o eterno fica assim: ajustável. Veste bem qualquer pensamento, aquece qualquer pé de tempo, se estica na beira da praia.
Eu poderia ter escutado melhor o silêncio enquanto você passava e calava sob mim. Poderia ter repousado sim, mais vezes, os meus dedos nos teus olhos. Ter dado dois passos e encostado meu ombro no teu choro. Eu poderia. Poderia ter virado o lado do rosto, acolhido a sua dúvida, alongado a noite. Poderia e iria entender o teu mundo até quando houvesse um nós brindando possibilidades.
Eu poderia ter levado o meu meio com a gente até o fim. Ter sido só começo, ali, na orla do seu amanhã que ainda tem a mesma cara de hoje e de sempre. Dosado as palavras, adoçado a poesia ao teu modo e encanto, eu poderia. Ter olhado no momento certo em que você também olhava pra si. Ter sentado, esperado, amanhecido. Ter cantado a minha vontade novamente mesmo depois de ter esquecido a letra.
E não sei se você entende, se você sente que eu ando complicando demais minhas escolhas, que de tão inusitadas e bobas, me fazem de qualquer coisa. Então acabo leve. Breve. E carrego no rosto um sorriso quase derradeiro. Deixando passar, duro só o bastante. E aquele instante que poderia ter parado ali pra todo mundo ver, fica atrás de mim, longe de tudo.
Acho que é por isso que alguns encontros vivem partindo. É que às vezes custa muito agarrar um caminho no colo e decorar todos os tetos de sonhos quando o agora não tem a intenção de morar.
Felicidade independe de inúmeras circunstâncias para inaugurar recomeços. E eu sou uma mulher de muitos inícios. Então, se nublo, floresço – porque é o que eu faço de mais bonito.
Eu não estou triste.
Só estou fazendo silêncios.
Só estou me recolhendo.
Só estou amanhecendo, por dentro.
Então, cuide bem de você. Do que você sente, do que você faz, do que você vê e agrega. Cuide dos seus, avalie a sua importância. Tome conta de si, reajuste – se, pergunte - se. Inclua o necessário, desligue o menos importante. Abra mão quando for preciso. Aumente a beleza do verbo permanecer. Descuidos são nocivos. Ligeirezas arranham.
Algumas desistências são(im)perdoáveis. Esperanças também acontecemenquanto você acorda pleno de tudoe percebe que a vida...a vida é boasim, mas, do outro lado.Encontrar - se, às vezes, é muito distante.É preciso manter a alma grande para caberdentro de uma coragem.
Preciso da distração do caos, da poeira abaixada, da procura.
Preciso das borboletas lá fora e de um encontro, para esquecer todo o resto.
É que tem dias que o silêncio de um olhar vazio faz barulho demais na alma. Tem dias…
Alguns dias parecem presenças vazias.
E hoje eu preciso ser desdobrada, preenchida aos poucos, de forma sutil.
Não sei viver perdendo a noção do que é meu..
Estou sempre sentindo falta.
Estou sempre sobrando dentro de mim.
Tudo o que não passa, me devora.
Ainda há muito de nós em tudo o que
me importa.
E agora, eu só quero que alguma coisa se realize. O mês é novo e eu, nova, quero que a vida se mostre, porque tenho sonhado muito todos os dias. Porque tenho crescido e me machucado. Porque aprendo mesmo quando é tarde e discorro sobre tudo o que me toca, sobre tudo o que há de mais sensível. Então, quero que alguma coisa se realize. E que essa coisa seja muito boa, que ela me dê motivos, profundos, para tanto merecimento. E que eu esteja pronta, mesmo doendo, para me abrir dentro da sua plenitude.
"O que nos espera é maior que nós.
Talvez seja suficiente,
talvez transborde.
Talvez a gente nem lembre da aspereza dessas horas difíceis
e de como foi corrido atravessar esse instante cheio de demoras
sempre tão longas.
O que nos espera é bem maior que nós,
é o que importa. Sempre.
O nosso lugar dentro do tempo,
guarda o sorriso do mundo.
Porque Nele cabe o melhor, cabe tudo,
cabe uma eternidade…"