Priscila Arantes
Ela é daquelas pessoas pelas quais nunca você nunca deve se apaixonar. Ela é livre, desprendida, conhecedora de profundos mistérios. Você certamente se apaixonaria apenas por olhá-la nos olhos (pois ela o olharia de volta), e se tivesse a sorte de provar-lhe o beijo, não teria volta. Ela tem em seus lábios um veneno como o das serpentes, e mata toda a sua atual realidade em poucas horas.
Vejo que suas preocupações são tão fúteis e o seu mundo tão vazio, que me espanto ao ver-lhe em pé todas as manhãs. Talvez o segredo pra ter sempre um sorriso no rosto seja não encarar a realidade. Talvez se, eu vivesse num "Fantástico Mundo de Bob", cada coisa estaria em seu lugar, e eu não precisaria de todas essas doses de coragem.
Chega um momento em nossas vidas que nos cansamos de derrubar lágrimas sempre pelo mesmo motivo, e permanecemos em silêncio. Nos fechamos em nossa dor na esperança de, desta vez, termos aprendido a lição. O que aprendemos é que as mentiras que nos contam, de tão repetitivas, se tornam as verdades de quem as profere.
O meu corpo corresponde aos seus toques e retribui suas carícias, mas minha mente grita e eu quero correr. O meu coração se aperta e não há nada que eu queria mais, do que estar sozinha. Eu gosto da segurança que a solidão me traz, e eu preciso estar só com minha alma, para que ela me ensine como eu devo amar meu corpo.
Ele deve ser amado ao longe para estar seguro, deve ser contemplado em segredo. Precisa estar guardado nos recôncavos escuros do convívio social, e não deve ser tocado por mãos cheias de desejo... senão ele inflama e se desespera outra vez, se sente perdido e com medo do mundo. Somente as almas perdidas em si podem amá-lo, pois assim como a minha, elas também tem medo, elas também não querem ser vistas.
O prazer dos corpos é a perdição da alma. Ele enfatiza o desejo e esquece do Ser. Nos momentos de prazer nos tornamos animais, feras que uivam furiosas e cheias de paixão. Quando estamos sozinhos, somos nós mesmos, cai a nossa máscara do convívio social. Acaba o nosso medo de devorar a nossa consciência.
Existe uma hora que você quer largar tudo.
E todos.
Pois a grande maioria, já te deixou. Aí você vê que não tem mais nada a perder.
Mas sua fé e seu amor pela vida, sua base, a qual chama de família, te impedem de partir.
A vida, a arte, a loucura, o prazer e a morte.
São doses de êxtase... Uma trança eterna, cruel e necessária. Uma coisa complementa a outra. Não existe vida sem morte, prazer ou arte sem loucura, nem mesmo vida sem arte. Mesmo sem a praticar, você a sente. Mesmo sem querer, as coisas morrem, as pessoas, os pensamentos... tudo morre!! Aí a loucura assume a sua vida, então cabe a ti transformá-la em prazer ou arte, continuando assim o eterno ciclo. Até que você morra.
O que é Sanidade?
É louco quem acredita que pode voar?
É louco quem tem medo do escuro?
Assusta quando nos chocamos com a realidade... mas o que é real?
Suponhamos que: Você vive em um universo que você mesmo criou, com as situações que planejou, seguindo um caminho atrás dos objetivos traçados por você. Aí um dia tudo desmorona e seu mundo vira de cabeça para baixo. Por quê? Porque não seguiu o seu roteiro. Ninguém planeja o próprio final.
Um dia acordamos e vemos que somos nós quem moldamos o Universo e que os monstros são reais, nós somos nossos monstros.
Nossa mente está à mil, nossas emoções intensas, nossos sentidos aflorados... estamos beirando a loucura. O dia é curto demais para tantos afazeres. Não gostamos de acordar cedo. É perturbador trabalhar, ser rotulado, 'coisificado', identificado por um crachá para poder viver, sem ter tempo para nós mesmos. Esquecemo-nos do EU. Como robôs, temos hora para acordar, para comer. Temos um roteiro traçado dos caminhos que percorreremos durante o dia, nos ensinaram como devemos nos portar.
Quem somos? Estamos felizes?
Será que suportaríamos viver sem toda essa pressão, tendo tempo para nos conhecermos? Será que conseguiríamos nos encarar frente a frente?
Tem uma coisa que eu sempre me pergunto:
Qual a forma mais fácil, ou a pior, de aceitar a perda de quem amamos?
Quando a pessoa morre, somos obrigados a nos conformarmos, e vivemos cada instante desejando que tal fatalidade não tivesse ocorrido, pois se ainda estivesse vivo, teríamos momentos perfeitos, cheios de felicidade, sem dor...
E quando a pessoa simplesmente parte, nutrimos esperanças que ela pode voltar um dia, trazendo nosso ar de volta, jurando nos amar. Mas ela não volta, e você sabe que ela encontrou felicidade em outros caminhos, longe dos seus.
Isso vale para amigos, família, amantes...
Em ambos os casos, a dor e a saudades são imensas.
Quando ela parte porque quer, ainda temos o agravante do egoísmo e do orgulho ferido, por sabermos que quem amamos encontrou felicidade longe de nós.
E quando morre, é nosso ego que comanda, dizendo que a pessoa em quem projetamos nosso amor seria feliz e plena conosco.
Então, o que é pior?
Sofrer sabendo que quem amamos não vai mais voltar, e tal impossibilidade foi imposta pela morte?
Ou saber que ela até poderia voltar, mas não quer, então sofremos sua morte figurativa?