Poeta Dolandmay

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O MEU ÓDIO

A minha vida é d’uma saudade imensa...
Daquele que em mim pouco sente,
Num profundo notar, de toda a gente,
Daquele que vagueia e nada pensa...

Ando a desventura do que me intensa...
Ao meu falsado, sem que a frente
Eu consiga enxergar o que há contente
Nesta altiva agonia que me extensa...

Olhando por este mundo toda desgraça,
Do sentir que eu sinto, só por graça,
É o viver deste anseio dentro de mim...

E por este sentimento, por esta vida,
Do amor é o meu ódio, é a lida,
Que de saudade eu vivo sem ter um fim...

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O CAMINHO

Eu vou andando assim, sem rumo...
Procurando-me se manter na vida...
Não vejo elevação, apenas vejo descida
Neste caminho tortuoso e sem prumo...

Mas a fumaça do cigarro que fumo...
Deixa pra trás os rastros da estrada cedida,
Mostrando-me que não haverá subida
Se matar em mim a fé que não assumo!

Um caminho é traçado a cada ser vivente!
Seja árduo, simples ou que seja figurado,
Não cabe, a mim, ser um tanto coerente...

Eu só quero agora um tabaco desfilado
Para voltar pela estrada entre tanta gente,
Quem sabe vejo, o caminho a ser traçado...

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A MINHA CASA

Amo-te, escuro-silêncio, dos amados,
Quais na tua solidão se alimentam!
Aos seus amores não inventam
Olhos caídos de sentidos conjurados.

Amo-te, escuro-silêncio, dos pecados,
Quais nos teus ardores amam!
Nas tuas entranhas cantam
Aos espíritos que te vagam desolados...

Das almas que a tua casa é conforto,
Sou de igual mendigo-absorto
No desejo ao teu perfume, em flor...

Amo-te, escuro-silêncio, das sepulturas,
Dos quais te morrem às amarguras
Por renascer dentre as verdades o amor.

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SONETO DA PAIXÃO

Não te darei a chama de amor tanto
Nem poder a julgar-me por te amar...
Quero-te em mim de acalanto,
Do teu corpo em fogo o inflamar...

Não te darei a canção do meu canto
Nem a razão de me ouvir cantar...
Quero-te a me ouvir num espanto,
Aos meus versos loucos te encontrar...

Quero-te infanta em tu’alma louca
A cantar-me ao ritmo de fervor
Quando o beijo eu der-te a tua boca...

Amo-te, oh, fulgente virgem do amor
Na chama que me deste a voz rouca,
Na paixão em que te ama o esplendor!

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SONETO DO DESEJO

Ao tempo em que me viu amor
Depois de tão sentido passar
Em fremente paixão com tão primor
Esquece ao mundo por encontrar...

Não tem mais sentimento nem ardor
Qual este cumprido a inflamar
Com tão sorriso e com tão fulgor
Em outro corpo por ti provar...

Deste colo quente com tão desejo
Que o viveu momento igual ao meu
Em conforto será por um só beijo

Se ao seu corpo por tão profundo
O sentir igual ao mesmo seu
Tremente aos lábios por um segundo.

ALMA SUBMISSA

Ah, se eu pudesse ter o teu frescor,
Se eu pudesse ter-te do meu lado,
Alma de puro afeto e de bom grado...
Dona dos desejos, e de tão vivo fulgor...

Desejos de vida sem trevas nem dor,
Anseios que invocam o ser amado,
Para que seja de caricias todo o teu fado...
Pois tudo em ti é cobiça - tudo é amor!

Quem dera poder ter tudo em mim
A tua ambição, plena e sem fim...
Tão mudo e sisudo não estaria a pensar...

Por que razão te desejar tanto assim,
Se não exprimo harmonia nem digo sim
Aos afetos e juras na hora de amar?

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AMOR INSANO

Por tudo agora eu sei... eu vou
Viver do espanto à realidade,
Vou viver agora, a nossa verdade,
A intensidade do nosso amor...

Por tudo agora eu sei, meu bem,
Vou ser pra você, vou ser em mim
Ao seu prazer intenso assim
Como é pra mim você também...

Vou ser de insano à nossa paixão,
Como é insana ao seu primor,
Como é de estrelas a imensidão...

Eu serei o ardor por ti queimar!...
Pois, se oculto for, de amor,
Por qual paixão haverá de amar?

O SONHADOR D’ESTRELAS

Vagueando ao mundo de amor,
Amou... o triste sonhador d’estrelas...
Ao espaço do jardim sem cor,
Sorriu... a flor que pintou por elas...

Sonhou... por, vagueando encontrar
Delírios... orgias... e paixão...
E, sorrindo às luas, o amar,
O teve de imenso o feliz coração...

Sonhando... ao amor, sonhando...
Aos teus braços em pureza perfeita,
A tristeza o viu desprezando,
E feliz ao teu colo era a flor-eleita.

Amou... sorriu... e, aos astros do mundo
Dormiu e sonhou o Poeta profundo...

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ANTES DO SOL SE PÔR

Hoje, eu venho aqui por lhe dizer
O que sente o meu coração,
Mas amor, não tentes entender
A minha louca e vultosa paixão...

“Assim como é o sol o seu clarão,
Assim como é a lua o seu luzir,
Tu és o meu amor em existir,
Tu és o meu amor à devassidão...

Pregado à cruz do meu caminho,
Tu és a minha plena felicidade...
E como é o lírio entre os espinhos,

Tu és em mim, à densa claridade...
E dentre as trevas é o meu ninho,
Assim como é dos céus a eternidade.”

O VERBO POETA

Nasceu, conjugou-se, amor
Em tudo que há de perfeito infinito
Na voz, n’alma; n’um só grito
Criou-se d’estrela esplendor...

Mas por nuvens escuras chorou
Triste, desdenhado, restrito:
Poeta de amor aos versos bonito
Que ao cantar, sorriu e amou...

Mas antes que não fosse o chorar,
Quais luas que veria profundo?
Se n’alma que não fosse o sofrer,

O que seria o cantar neste mundo?
De qual verbo seria o amar
Se o amor é cantar, e chorar, e viver...

AMA-ME...

Não me queiras tarde; seja breve, meu bem!
O dia se finda e a noite vem chegando...
Ambiciona-me à luz; não me deixa esperando,
Porque ao crepúsculo já não serei ninguém!

Nas sombras dos dias eu estarei te amando,
Nas trevas, minh’alma vagueia ao além...
Os meus sonhos são sombrios e a desdém
Sobre o meu leito branco me verás voando!

De todos os dias, há um fim pra se esperar...
E das rosas há apenas uma pra te entregar
A mais forte, de cor plena, a da minha paixão!

Seja breve, oh, meu bem; não me queiras tarde,
Dentro de mim há um sangue quente que arde
No fogo extenso, da noite avara d’um coração!

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SOB TUA INSPIRAÇÃO
− A dama rubra

Pensastes em mim por desconhecido...
Em tua forma, no encanto da poesia,
Descobristes o amor qual tem nascido
Entre as brasas da paixão e da magia!

Viestes em cobiça plena à luz do dia...
No teu pensar ingênuo, não percebido,
Descrevestes em memória a euforia
D’um coração impudico e destemido!

Na loucura do teu amor sob verdades,
Criastes em ti palavras às lealdades...
A não cometer teu coração confundir!

E a confiar teu amar cabal pertencente,
Viestes no sentir revelar entre a gente
As idolatrias que, em nós, há de existir!

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NOS TEUS ANSEIOS

Eu quero tuas horas tristes e sozinhas
Tão pedinte de amor e noites quentes,
De orgias marcadas, beijos ardentes...
A saciar as infantes vontades minhas...

Eu quero aqueles desejos que tinhas...
Nos meus iguais momentos eloquentes
Onde pregava as insônias dormentes
Na manhã rara do dia que nos vinha...

Tantos instantes perdidos e largados...
Tantas indiferenças, amores amarrados
Pelos enganos que o coração fantasia!

Mas eu hei de ter as tuas horas puras...
E ser dos anseios todos que procuras
O verdadeiro amor a juntar-te um dia!

NO CAMINHO DE UM AMOR

Aqui tu passaste numa hora viva do amor,
Invocando os meus profundos sentimentos...
Aqui tu passaste sem trevas e sem dor,
Aprofundando, em mim, os teus momentos.

Aqui tu passaste e deixaste o teu furor...
Tão quente, tão vivo, nos meus pensamentos...
Aqui tu passaste tão viva no teu esplendor,
Que não pude conter os teus movimentos!

Tão ledo, fraco, confuso nos teus encantos...
Minha alma, por te amar, esquece os prantos,
Esquece a noite, ao véu do dia, pra te envolver.

E se minhas noites por ti não tem cansaços...
Sim, quero envolver-te sobre os meus braços
Pra cantar a vida, na hora viva do teu querer!

OLHAR ATEU

Tão lindos eram aqueles olhos, meu Deus!
Eram estrelas cintilando luzes de pecado...
Tão trêmulos ficavam ao mirar os meus...
Que desviavam, do meu olhar aparelhado.

Tão linda era aquela face de olhares ateus!
Tinha a fronte desenhada, e lábio acetinado.
Tinha à boca o mel, na voz não tinha adeus...
Era canção viva, pura, de som edenizado!

O corpo era escultura de curvas desenhadas...
Os seios eram montes, das pombas embaladas.
Um anjo, uma donzela, a vagar a luz do dia!

Que eu a venha mirar nos olhos novamente...
Se for pra me perder, far-me-ei de contente...
Já que amá-la, meu Deus, é a minha fantasia!

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NOITE MORTA

Nesta noite angustiante que aqui estou,
Lembro-me todas as coisas ditas por ela
Naquela voz fina, naquela voz bela...
Todos aqueles instantes em mim ficou.

Amo-te tanto porque tanto me amou...
Naquela noite fria de uma luz tão singela,
Que era o clarão da lua ao entrar a janela
Iluminando aquele instante, que parou...

Ao tempo, minha bela, de voz alta...
Todos aqueles momentos, que me falta
Quero gritar ao mundo o que era meu!

Mas como estrangular contentamento
Se não tenho o seu amor, neste momento
O sonho daquela noite em mim morreu!

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O NOSSO AMOR

O nosso amor, querida, não morreu!
Secou-se apenas a água que nos tinha
Como secam as flores, oh, alma minha,
Ao inverno, num instante, se perdeu!

Apenas secou-se, querida, não morreu!
O nosso amor não se foi, passarinha,
Voa, oh, amada! Voa como andorinha...
A espera de uma nova era, se rendeu!

Cansado, amor, ele estava tão cansado,
Agora busca um hastear, num jardim
Onde possa refletir o que era amado...

Espera, oh, querida, que entre tu e mim,
O nosso afeto que estava tão esfalfado
Voltará a viver, amor, pra não ter fim!

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AMOR ROUBADO
− Viúva-negra

Eu só tentei te esconder da chuva,
Levando-a abraçada comigo...
Fiz dos meus braços teu abrigo,
Tal como a sombrite cobre a uva...

E da tua mão molhada tirei a luva,
Que encharcada era um perigo...
Defrontei-me com um anel antigo,
Tal como fosse de uma viúva...

De repente, do céu veio a calmaria
E o meu amor ardente você levou
Junto à tempestade que caía...

Secou... O meu coração você secou!
Agora só sei sair pela noite vazia...
À procura da paixão que me roubou.

TUAS VERDADES

Eu sou a inspiração viva do teu amor...
Sou a chama que queima em teu coração.
Eu sou a vida, a luz, a alma da tua paixão,
Sou teu perfume, o suor, sou teu calor...

Eu sou o teu desejo de tão vivo fulgor...
Sou as tuas saudades do amor ardente...
Eu sou a tua aflição, sou teu beijo quente,
Sou a tua harmonia e seu pranto sem dor.

Eu sou o teu mar de tempestade alta...
Sou a tua fonte de água pura que não falta,
Sou os sentimentos que te fazem chorar...

Eu sou a ilusão que tão pouco importa...
Sou a solidão que em ti não tem porta...
Porque sou as verdades, que te fazem amar!

SENTIMENTOS SÓRDIDOS

Eu sou a sensibilidade dos teus sentidos,
O abortamento da tua inaudível paixão;
O alento que fita a tua alma da solidão,
E os teus mais tensos sentimentos vividos.

Eu sou a tua escolha de fardos erguidos,
O amor, o fogo, a chama de teu coração;
A dor que não dói, sou a tua ilusão...
Os prazeres que por ti serão consumidos.

Eu sou o teu querer e os teus encantos,
Os teus momentos, eu sou teus prantos,
A tua alegria, a tua esperança e o teu viver...

Mas quem vive e sente também sonha,
No entanto, sou também a tua artimanha
De amar e amar pra não se perder...

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RESPOSTA

Nos meus dias de tristeza, nesta esfera,
Neste globo santo de vida e de morte,
Pareço-me uma praga vinda do norte,
Qual uma folha seca que o frio dilacera...

Uma alma bendita, mas posto numa era
Em que nos dias todo sofre tão forte,
E que vive a buscar as mantas da sorte
Do Deus que te veste, e voltar te espera!

Estão longe de mim às frases benditas,
As que aos meus olhos são infinitas...
As que no meu coração só rogam amor!

As minhas noites são frias, são mortas...
Será que a mim Deus fechou as portas?
“Espero-te, meu filho”, respondeu o Senhor.

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UM LOUCO SONHADOR

Saudade que me invade, em ilusão...
De um amor que não aconteceu, oh, dor!
Que bem, oh, sonho, não fosse de amor,
Talvez não quiseres o meu coração...

Já bem que tu foste ao teu esplendor,
Por que não voltas? Deixaste solidão
Neste louco Poeta que já sofres o rigor
Desta vida tão fria de sagas em vão!

Sim, sou louco! Não sabes? Vou dizer:
Entendas como podes, um amanhecer
Dum sofredor que a noite sofre também!

Sou alma, sou vida que tanto sonha...
Talvez, se eu tivesse alguma artimanha,
Faria por mim louco o amor d’um alguém!

POBRE ILUSÃO

Por toda a vida que hás de viver,
Não encontrarás um amor tão belo
Que sejas digno ao teu querer...
Que sejas puramente tão singelo!

Por toda a estrada que hás de ter,
No teu caminho rude e amarelo,
Jamais irá alguém em ti prender,
Mesmo aquele que diz: “te quero!”

No teu amar levantas o teu sentir,
Nunca te deixa um amor partir
Por cansares das correntes que têm!

Hás de viver desperto por ti um dia,
Se não o abusares em melancolia,
Nas prendas tão raras que contém!

SEGREDOS DE AMOR - III

Veja, amor, claramente e sem medo
O tão lindo sentimento que nos mantêm,
Veja as rosas belas, cá também,
No tão belo jardim o nosso segredo.

Assim que cantamos o dia em ledo;
De tão sorrisos às flores que nos contêm,
Quais tantos outros desejos; quem
As terão de odor se as tiver de enredo...

Dia ordeiro, sem quer tristeza, e tanto
Amar... viver; num formoso canto
É tudo o que mais temos de esplendor...

E não há mais grandeza que se aventura
Com tão mais paixão que se perdura
Qual no desvendar tão fácil o nosso amor...

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POR TEU PRAZER

Eu queria ser apenas o teu querer,
Queria ser a tua paixão, tão louca...
Quem por um dia se fez perder
Com apenas um beijo de sua boca.

Apenas queria ser de tua voz rouca
Uma causa finita de prazer,
Mesmo que a sentisse tão pouca
Ser-me-ia de esperança em viver...

Queria ser o mar de teus desejos,
O estalado molhado dos teus beijos
E também a boca que vier beijar...

Mas não apenas só ser sentimento,
Também queria ser todo o momento
Da tua louca vontade de amar!

Inserida por acessorialpoeta