Pietro Kallef
O esquecimento é um lugar e ele existe. Mesmo que tire suas boas ou más recordações do seu grau de importância, em algum lugar elas irão ficar e em certos momentos a ânsia de querer se transportar para esse lugar será a sua referência pessoal, é o fardo que teremos que carregar até o fim. É muito simples dizer que isso não importa mais ou que superou tudo, notória ilusão essa crença. Desejei, lutei, arranquei, destrui e mesmo assim não consegui tirar um tal sentimento que acreditei ser amor. Hoje o que tenho a fazer é apenas dizer que um verdadeiro amor quando é sentido por uma das partes jamais é esquecido, não importa o que faça para esquecer.
Estou submerso no abismo do ócio, é triste viver sem nada e melancólico notá-lo. Quando fecho meus olhos não há nada na mente e no momento em que os abro os móveis estão parados no mesmo lugar de antes. Tenho uma vontade de mudança, abajur na sala ou no quarto, quanta indecisão vestida de medo em sair do acúmulo criado por mim. Sinto que existe um refúgio que quebre as minhas barreiras, um botão verde de saída, estou preso dentro do meu próprio ser. A primavera se acalenta na minha janela e os ares de substancialidade me afogam a cada pétala de rosas que se desabrocha em meu negro jardim.
Me perguntaram certo dia até onde eu iria pelo meu sucesso pessoal, e respondi: Irei além de onde você iria para alcançá-lo.
De longe o som da voz de Pedro ecoava nos ouvidos de Mirtes, que cozinhava para si mesma a refeição da solidão, gritaste para dentro de seu velho coração uma emoção do reencontro. Largou ao fogo as madeiras e as pretejadas panelas de barro e correu até o quintal e com um brusco movimento se encharcou de água suja do Rio das Mortes, entrou para dentro de seu simples barraco e vestiu o seu melhor vestido de algodão cru que a própria teceu em noites de espera por Pedro, passou carmim em seus fartos lábios e tapeou sua mórbida face com a esperança de estimular alguma cor menos pálida, lá estava ela pronta. A voz do homem amado foi se esvairindo pelo canavial e na angústia saiu com pés descalços a procura da figura desejada, cansada volta lentamente, como se não acreditasse que o havia perdido outra vez em noite de lua cheia. O que Mirtes não se dava conta é que o seu eterno amante estava em descanso eterno nos fundos do paiol.
Fiquei tão esperançoso com o seu telefonema, saímos, bebemos, rimos, falamos besteiras, choramos os nossos caminhos opostos em que você se opôs, acertamos as arestas, nos olhamos com a mesma intensidade de antes, e quando nossos mórbidos lábios se aproximavam, como um toque desleal do destino, atendeu ao chamado do seu verdadeiro amor, que não sou eu. Como você me disse certo dia, "nunca poderemos ficar juntos, é tudo uma aventura", mas sempre acreditei que fosse amor, aliás, o meu amor.
Mesmo que não haja esperança, eu acreditarei em você e no amor que me assombra, mesmo que a sua felicidade não seja plena, ao meu lado a magnitude será meu obejto de consumo, mesmo que outras sombras sejam mais atraentes que a minha, criarei novas formas para me igualar, mesmo que o sol queime nossas vidas, sempre trarei o inverno para te confortar, mesmo que a pena seja o sentimento predominante, lhe machucarei viemente para transformar o modo de sentir, mesmo que acordar ao meu lado for um martírio, não terei receio de dormir em outro cômodo menos incômodo, mesmo que seus olhos transpassem minha presença, ficarei perante anos enfrente de ti, até que eu consiga arracar-lhe ao menos um sorriso, mesmo que a dúvida rondar, colherei verdades para a sua conspiração. Mesmo que tudo isso que eu faça não for o bastante para te provar que eu te amo, me reinventarei e criarei novas possibilidades em cima do nada e abstrato, porque, sou, mesmo.
Vamos fazer um Ano Novo?
A passagem de ano não é um divisor de águas, uma mudança forçada e muito menos remissão e perdão instantâneo, é apenas uma regra cronológica e padrão. Por que esperar trinta e um de dezembro à meia noite para ligar a entes queridos afastados e que por algum motivo deixaram de se falar, para dizer que ama aquele alguém que tanto lhe estimava e você o feriu com o silêncio e a dúvida, para dar um abraço apertado em um grande amigo e dizer o quanto ele é importante, para vestir aquela roupa nova e desejar com fé que seus sonhos irão se realizar, para começar a fazer uma academia e levar a sério aquele regime que tanto precisa, para se desfazer de coisas que não lhe servem mais e não são úteis, para praticar o desapego material, para dar presentes e escrever um cartão com sentimentos, para reunir toda a família e se sentarem juntos à mesa e se olharem com ternura, para pedir paz e menos violência, para refletir sobre seus erros e perdir perdão, para conversar com seu filho e ouvir o que ele tem para te dizer, para sair mais cedo do trabalho e passar em uma floricultura e surpreender alguém e recuperar algo considerado irrecuperável, para acordar mais cedo e ver o sol nascer, para começar um curso novo que acrescente no seu crescimento profissional e pessoal, para aprender a se motivar com algo sólido e possível, para viajar e conhecer pessoas e lugares diferentes e ter do que se lembrar, para acreditar que sonhos são reais independentes do tempo que possa levar para se concretizarem e para se encontrar com Deus e agradecer por todas as bençãos e conquistas diárias. Façamos tudo o que há para ser feito durante o decorrer do ano e da vida, não esperemos até a explosão dos fogos de artifício, pois, talvez não estejamos lá para dedicar todos esses projetos e remissões, ou então, as pessoas que amamos já podem ter partido e desperdiçamos a grande oportunidade de sermos mais humanos. Este é o momento e pode parecer clichê o que irei dizer, mas, o amanhã é incerto e improvável. Feliz 2011 e entre sutis sons emanados das taças de champagne e da energia renascentista que exala de nossas almas, acredite que a grande virada pode ser dada hoje, basta empenharmos o mesmo sentimento contagiante do Ano Novo no simples agora que nos pertence.
O que me falta é coragem para enfrentar, verdade para seguir, vontade para ter, desejo para conviver, compreensão para esquecer, aceitar para libertar, fugir para encontrar e perdão para reviver. Mas sou assim, incompleto, em partes e um tanto quanto perdido, porém, é algo notado, percebido, sentido, introspectivo, enfim, sinônimos de um ser, que pode ser "seres" e nada ao mesmo tempo. A minha realidade me pertence de forma imposta, não sei por quem, mas é, não me defendo, não me culpo e nem me importo, é passagem e não passa, é longo mas é curto, e existe tempo pra isso? Ainda não sei, procuro, reinvento, dilacero e destruo as construções que mesmo fiz, um dia breve olharei para frente e não para trás e nem para os lados, linha reta, andarei e desaparecerei como uma luz forte que cega e não permite ver o que, e quem se foi, porque, é um sinal, um aviso ou uma constatação de que eu nunca existi de forma sublime e concreta e isso não é triste, é minha inócua vida.
Dentro do coração não existem sentimentos, há carne humana, nervos, veias e um sangue que bombeia a vida. Tudo está dentro da sua mente, até mesmo essa tal convicção.
Acho que encontrei a cura para todo o meu mal, um pesar reproduzido por alguém que hoje não tem nome, referência ou algum sentido qualquer, mas, não foi fácil e está sendo complicado agora. Passei de fase, assim como nos jogos eletrônicos, vivendo etapas, lutando contra vilões e no fim perdendo para o grande chefão: o coração. Neste divertimento constante não consegui zerar o jogo e caminhar por trilhos vencidos, fui derrotado pela minha insistência em persistir. Conseguir esquecer aquela lembrança adorável é devastador, cruel e racional, mas, por que tudo continua se escondendo dentro da fortaleza inabalável que criei? É a minha escolha, advinda de uma vontade necessária e mecânica. Entre linhas e angústias estou recomeçando um novo começo, apesar de saber que você estará lá no fim, com o seu olhar julgador e os braços cruzados esperando que eu te desarme e vença sozinho uma batalha que já ficou chata, sem significado ou simplismente, sem amor.
Hoje fui ao cinema e quando as luzes se ascenderam continuei sentado ali, imobilizado e observador, notei que ao sair eu não tinha alguém para comentar sobre o filme, para dar risadas sobre as impressões que tive, para segurar a minha mão e caminhar até a saída. Fiz o trajeto até meu carro tentando não refletir sobre o que estava escancarado e eu relutava em disfarçar. As luzes da cidade me cegava e se embaçavam com as lágrimas que insistiam em tornar o chão como seu objeto de libertação e redenção. A minha garganta deu-se um nó, daqueles de marinheiro, complexos em desvendar a ponta que desafogaria as minhas mágoas. O meu corpo queimava em constante ardência por permanecer com aquela verdade congelada. Com isso, tirei uma simples e louvável solução: não irei mais ao cinema, prometo.
Desacreditar para acreditar
Aboli do meu dicionário existencial a palavra "acreditar", parece ser profundo, mas, foi tudo tão superficial e individual. Resolvi seguir as suas instruções impressas em entre linhas, mensagens subliminares, olhares dispersos, indiferença notória, agressividade robusta, fuga no responder e um vago espaço emanado do silêncio de uma indecisão. Cai a chuva na janela e cada gota representa uma lágrima própria e escoa sem parar algo contido, me sinto aliviado e descarregado de uma tempestade conflitante, ouço de longe os trovões da sua garganta me dizendo: não se prenda a nada e nem a mim, triste barulho que me partiu entre um antes e um novo agora que me espera ansioso para ser transformado em chamas vermelhas de vida - antes pálido e sem tons - não há tempo para reparar em pleonasmos, porque tudo se repete em um ciclo desequilibrado. O que me preenchia talvez volte a se reintegrar em alguma parte que escapou da auto-culpa e das reflexões racionais, grande avanço se considerar o passado como meu único modo de te esperar, em uma curta temporada cheia de restrições - aceitas sem contestações, pois, era o que eu tinha de você. Se soubesse o quanto queria me referir a sua inóspida representação com um teor de realidade e possibilidades, empregando muitos "se" com formatos impossíveis em minhas viagens frustrantes em torno do seu pensar, se entregaria ao que eu estava disposto a enfrentar sem desistir. Então, siga, sem pesares ou remorsos, sinônimos de um sigilo que guardarei, porém, sem um significado singular naquele meu velho dicionário que te disse ser. Abre-se um lindo sol que me liberta da cegueira momentânea e provocada que bloqueava uma aventura sobre novos horizontes. E que luz forte será aquela? Onde esteve durante toda a precipitação? Hoje, passo a "acreditar" que ela sempre esteve dentro de mim e com essa força de cura desconhecida pelo meu inconsciente. Assim, vou deixar essa luz invadir meu monótono e redirecionar os trilhos, pois, descobri que ainda sou capaz de me reconsquistar a cada dia mais e tudo isso não se torna contrário ou utópico quando somos capazes de reproduzir um amor alheio àquele sentido por nós mesmos.
Estações
Quando acordei já era hoje, havia um sol tão forte que queimava a minha pele como ácido de minhas próprias criações, me fechei dentro de mim por todo o verão, não vi as crianças correrem na praia atrás de uma felicidade simplória, não observei o passeio do casal de velhinhos que moram no andar de cima do meu apartamento, que costumeiramente saiam com seus chapéus de pano e um óculos bem engraçado todas as tardes com seus dedos entreleçados, parecendo não deixar que o suor do cansaço os separassem, não escutei as músicas que mais tocaram nas rádios e fizeram a trilha sonora na vida de muitos vivantes, não fui beijado por vários lábios, não pratiquei exercícios físicos que fortalecessem minha auto estima, não fui convidado para uma noite quente, em meio a risos e um total despreendimento sobre o dia seguinte, não alimentei os pássaros que suicidamente bateram no vidro da minha janela querendo entrar, não frequentei nenhuma exposição de artes ou uma temporalidade cultural que me inspirasse, não tomei aquele sorvete de maracujá que tanto gosto na sorveteria perto da revistaria do seu Pedro, não cantei no chuveiro depois de ter transpirado de tanta alegria, não tive conquistas, nem amores de estação, não dancei até perder as forças nas pernas, não me entreguei ao novo e desconhecido e muito menos me joguei do alto do morro agarrado em uma asa delta, não houve grandes aventuras e nem elevações em meu nível de adrenalina, foi apenas mais um verão que se passou. Agora, abro o guarda roupa e procuro minhas vestes de frio e me agasalho em plena nostalgia, tomo aquele velho vinho deixado na estante da sala para abrir com alguém especial, assim fiz, o bebi. Meu coração se aquece a cada vento frio e pego os álbuns de fotografia e me transporto a cada imagem que se mantêm viva dentro de minhas inócuas lembranças, ouço velhos discos e até me arrisco em alguns passos, mas, mesmo assim o silêncio da sala me agridem como punhais e o tempo faz questão de mostrar o quanto o calor da vida vibra, resolvi bater na porta dos meus vizinhos do andar de cima e lhe oferecerem um pedaço de queijo e me deparei com correspondências jogadas ao chão perto da porta, banhadas com uma leve poeira, quando repentinamente a voz do porteio me disse em meio a surpresa o que eu não sabia, chorei e desmoronei lentamente quase que acompanhando o toque das lágrimas em meu rosto, corri sem direção e gritei sobre as grades do prédio: "já é inverno", e mesmo assim meus pés não respondiam ao meu desejo de ultrapassar as barreiras que eu mesmo construi e poder ver aquelas pessoas e certos lugares, de me encantar com o nada, de rir das minhas peripécias, de fazer novos amigos e rever os antigos, de escrever uma carta de desculpas, de viajar e obter novas memórias, de retomar os meus projetos profissionais e sonhos pessoais, de deixar o coração bater até sentí-lo saltar pela boca, de me emocionar e realizar a auto cura que tanto espero. Não conseguirei resgatar todos aqueles dias de verão, mas posso transformar este inverno no começo da minha nova estação, pois, um dia ainda quero admirar o brilho deste planeta amarelo, sentir as cores me dominar, ler um livro no banco da praça e esperar que ali se aproxime a pessoa que tanto espero e me convide a ver o pôr do sol.
O Fim
Fechei meus olhos com a força de um alguém desejando nunca mais abrí-los, deitei sobre o chão do seu quarto tentando encontrar um encaixe confortável, desenhei sobre suas paredes verdades com os mesmos dedos que te acariciavam, sai pela janela em meio a madrugada, porque, simplismente ela sempre esteve aberta, era minha única rota de fuga planejada enquanto jogava xadrez sozinho, não havia coragem para sair pela porta da frente, iam me ver desistir. Dançei ao som da tristeza nos dias quentes que lhe esperava com um copo vazio, pois, toda água ali contida escorreu sobre meus olhos, sussurrei dentro de você o quanto eu estava sufocado, a sua liberdade era cruel demais para minha simples vontade de te ter, menti quando me perguntavam se eu era feliz, porque talvez assim, eu acreditaria em algo novamente, brotei fé dentro de secas sementes de ilusão, você separou pedaços de mim. Li aquele livro que trazia fotos de pássaros e suas classificações só para me aproximar quando seus olhos me atravessavam em meio ao seu trono hostil onde sempre sentava quando eu lhe dirigia qualquer palavra, inclusive "te amo". Rezei para não me perder, te implorei pra me tirar deste apartamento e me levar para ver nascer o sol, eu precisava te respirar. Sonhei com mudanças tuas, fixei na porta da geladeira pistas de onde eu poderia estar nos domingos de manhã. Andei sobre as ruas, querendo partir, senti cada gota de chuva que escorria sobre meu corpo, eu pude sentir a sua presente ausência. Ontem te vi feliz, você realmente é outro ser quando não estou por perto, é admirável, doce e inteligente, tudo o que me conquistou, vi até sorrisos pelo reflexo do vidro daquele restaurante que era nosso, onde me puxou pelo braço e me levou ao centro do salão me envolvendo com promessas de um "pra sempre", enfrentamos quase tudo, menos nós mesmos. Hoje não me pergunto mais o "por quê" de não ter me ligado ou corrido atrás de mim quando sai da sua vida, aceitei a escolha que fiz sem ter uma certeza sua, preferi te deixar fora disso, apenas despertei do meu pesadelo. Certamente, eu não suportaria ouvir de você o que já tinha se acabado, estava escancarado. Conheci seu novo amor, quando fui buscar a minha velha camisa preferida e fui informado inocentemente que tal relação já existira bem antes, não desarmei meus votos de felicidade, me manti forte e quero continuar assim. Desci do prédio pelas escadas para dar tempo de erguer minha cabeça e andar sem nunca mais olhar pra trás, já é hora de seguir e deixá-lo viver, mas, não pense que perdi, porque ganhei o mais sincero dos amores: o próprio.
Queria sorrir com vontade denovo, chorar por boas emoções, gritar por felicidade, pular de tanta alegria, viver intensamente sem lembrar do que quero esquecer. Você levou muito mais do que a minha crença, me tirou possíveis sonhos.
Logo pela manhã não vi o sol, um cinza quase negro me cobria, haviam folhas secas na varanda que foram destroçadas quando andei, um forte vento me deixou em estado de surdez e um assovio longe me convidava a guiá-lo, corri pra ver o que me esperava atrás dos pés de amora do Senhor Cazé, fui ficando com medo da intensidade de uma quase canção cantada aos lábios de alguém, posicionei minha cabeça a frente e os pés recuados e trêmulos, porém, não desisti como sempre fazia nos dias ensolarados. Começam a cair verdades do céu em diferentes formatos, depois, caíram estrelas cor de gelo, até então não entendia o que se passara ali, a cidade parecia que estava morta, nada se movia além de mim, gritei o mais alto que pude fazer para te avisar que era hora de despedir, senti algo despreender de minhas costas, como se descolassem os ossos, era uma dor insuportável. Derrepente, um clarão amarelo foi surgindo àquela paisagem triste e me senti flutuar, dando até frio na barriga continuei subindo lentamente na linha do tempo que sempre desprezava, eu era eterno aos meus hábitos. Vi retratos antigos, amigos chorando e erros omitidos, mas, o que mais me assustou, foi ver minha própria imagem lá de cima, como se fosse um espelho que não me respondia com movimentos sinceros de perdão, fui desaparecendo entre silêncio e frustração. Mandarei cartas, postais e sinais para os que amei, brotarei rosas no seu jardim querido, te molharei com chuvas de saudade, gritarei pelos trovões a minha vontade de te abraçar e te beijarei suavemente no pouso das borboletas. Continue comigo, pois, jamais te deixarei sozinho nas lembranças, segurarei firme suas mãos até o nosso reencontro nas nuvens ao norte, onde a lua permite sonhar.
Gosto de escrever sobre aquilo que desconheço, que me falta, machuca, incomoda e apunhala, porque, aquilo que nos fazem bem, alegra e provoca a felicidade, não são para serem descritos e sim vividos.
O silêncio são para os omissos e o seu ponto de vista é apenas mais uma opinião em meio a tantas outras, assim, como isso que digo.
Posso escolher em que momento vou me deitar, mas, não posso decidir qual a hora exata para abrir meus olhos novamente, fraquezas me enfraquecem e injustiças me padecem. Quero decidir pelo menos isso!
Hoje talvez signifique alguma data desagradável para comemorar, eu necessitava desabafar às minhas palavras, elas não me julgam, apenas cedem suas formas em meio ao ninho de palavras cruzadas que me atravessam feito o vento, invisível. Andei pela cidade pequena e chorei desesperadamente por grandes sintomas de ausência, deixei que as lágrimas escorressem por todo o rosto, para expor a todos cada cicatriz, mas ninguém me parou para perguntar se estava tudo bem, passei - despercebidos. Comprei um cigarro e começei a fumar, eu precisava adquirir novos hábitos, bebi uma "doses" de whisky, tonto estou, errante sou. Quem esbarrou sobre meus ombros, foi você? E por que não me pegou no colo e levou pra casa? O seu cheiro ainda está lá querido, feito brisa que inalo às margens da esperança de um retorno. O chão está alto, pareço flutuar e assim finjo embreagar, pois, viver na lucidez é tortura e me obriga a ver o quanto deixei de ser, isso agora é poesia? ou hiprocrisia? assumo: sou. Deleite-se sobre minhas inverdades e deseje apenas a verdade ao longo desta existência, faça isso por você, somente. Quando resolver libertar-se da vã reflexão e permitir que os sentimentos lhe conduza me encontre no Parque Guimarães Rosa, como da primeira vez, no mesmo tapete verde que nos cobria, não conseguimos sair de lá ainda, não é mesmo? Presos sobre certas convicções. Escurece e a melancolia das próximas horas me dilacera, parte em partes, assim, retorno pela ponte de madeira e noto quanta água há a minha volta. Piso fundo que nem sinto a quantos pés estou, de longe as lanças da Igreja do Bom Jesus parece me recompor a paz, comprovando que tudo tem um certo fim, era o dia do seu casamento. Corri pelos fundos, não estava para arruinar e sim para prosseguir, eu precisava ver com os olhos que me roubou. Tocam sinos, minha marcha fúnebre embala, me retraio e lhe vejo: feliz e realizado. Aos céus grãos de arroz, latas de refrigerantes vagabundos rastejam sobre o mesmo chão, inóspido e cinzento, abraço forte a noite e me convido a fugir sem nenhum vestígio ou memória. Voltei descalço sentindo os estilhaços de velhos tempos, tropeçando sobre os mesmos buracos que cavei contigo, passei pela àquela nossa árvore riscada com nossas iniciais e adormeci ali mesmo, sem perceber. No dia seguinte, onde eu estava antigo amigo? Mendigando não por pão, mas por amor, o seu amor. Já é hora de colocar um ponto final nos vários finais que imaginei à nossa história, melhor, minha.
Deixe-me apoiar na sua força e libertar a minha sombra, estou precisando mostrar quem sou pra alguém, antes que eu desista.