Pedro Chagas Freitas
É claro que o mundo às vezes é um cabrão; é claro que a vida às vezes é uma cabra. Leva-nos pessoas, leva-nos coisas, leva-nos sonhos. Às vezes leva-nos mesmo tudo (ou o que julgávamos ser tudo). Mas viver é suportar todos os cabrões e todas as cabras que a vida tem para oferecer.
Perder-te mudou tudo, mesmo que tudo continue mesma.
Somos todos filósofos quando a dor não nos pertence.
Somos todos guerreiros quando a ferida está no outro.
É fácil dizer "aguenta" quando não somos nós a sangrar.
É fácil aconselhar "segue em frente" quando não somos nós a arrastar os pés.
É assim que sobrevivemos: criamos distância.
Tratamos o sofrimento como um conceito, uma teoria,
um problema matemático que se resolve com meia dúzia de palavras ocas:
"O tempo cura tudo."
"Vai passar."
Ninguém quer saber do tempo quando o peito aperta,
quando a angústia sufoca,
quando a noite não traz descanso.
O mais perverso é que, muitas vezes, sobrevivemos porque os outros fingem que a dor é domável.
Porque alguém nos diz que há um amanhã.
Nós não acreditamos; mas a mentira pode salvar.
Um dia, a dor pode mesmo começar a doer menos.
Deve ser isso a esperança.