Paulo Leminski

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O tempo
entre o sopro
e o apagar da vela

Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na pétala,
luz do momento.

Soo na dúvida que separa
o silêncio de quem grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância, praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao espasmo.

Eis a vez, eis o deus, eis a fala,
eis que a luz se acendeu na casa
e não cabe mais na sala.

Dois loucos no bairro

Um passa os dias
chutando postes para ver se acendem

O outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco

Todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também

ver
é dor
ouvir
é dor
ter
é dor
perder
é dor

só doer
não é dor
delícia
de experimentador

Falta fé nas trajetórias, febo nas camélias,
fogo na canjica, mão de macaco na velha cumbuca!

Inserida por danielcosme

Para limpar lágrimas, uma
lápide.

De som a sim ensino o silêncio a ser sibilino de sino em sino o silêncio ao o som ensino👏🏽✍🏽👄💋💌📚📖📓

Inserida por Gatinha0203

O poliglota analfabeto, de tanto virar o mundo, ver as coisas e falar os papos, parou para pensar ao pé de uma montanha. Assaltaram-no dois pensamentos. Um na língua materna, outro em língua estrangeira. O primeiro fez a pergunta, o outro respondeu. Resultado: sou pai de minhas perguntas e filho de minhas respostas.

Inserida por danielcosme

Eis que nasce completo
e,ao morrer, morre germe,
O desejo, analfabeto,
de saber como reger-me,
Ah, saber como me ajeito
para que eu seja quem fui,
Eis o que nasce perfeito
e, ao crescer, diminui.!💋💄💋👌🏽👀🙀😱😲😍😍

Depois de hoje
a vida não vai mais ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar
aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã

Valeu

Dois namorados olhando o céu
Chegam a mesma conclusão
Mesmo que a terra não passe da próxima guerra
Terra, mesmo assim valeu
Valeu encharcar esse planeta de suor
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor
Valeu encarar essa vida que podia ser melhor

Valeu, valeu
Valeu, valeu
Valeu, valeu
Valeu, valeu

Dois namorados olhando o céu
Chegam a mesma conclusão
Mesmo que a terra não passe da próxima guerra
Terra, mesmo assim valeu
Valeu encharcar esse planeta de suor
Valeu esquecer das coisas que eu sei de cor
Valeu encarar essa vida que podia ser melhor
Valeu, valeu...

“Pra que cara feia?/ na vida,/ ninguém paga meia.”

me enterrem com os trotskistas
na cova comum dos idealistas
onde jazem aqueles
que o poder não corrompeu
me enterrem com meu coração
na beira do rio
onde o joelho ferido
tocou a pedra da paixão

mesmo
na idade
de virar
eu mesmo

ainda confundo
felicidade
com este
nervosismo

não sou o silêncio
que quer dizer palavras
ou bater palmas
pras performances do acaso

sou um rio de palavras
peço um minuto de silêncios
pausas valsas calmas penadas
e um pouco de esquecimento

apenas um e eu posso deixar o espaço
e estrelar este teatro
que se chama tempo

Inserida por pensador

suprassumos da quintessência

O papel é curto.
Viver é comprido.
Oculto ou ambíguo,
tudo o que digo
tem ultrassentido.

Se rio de mim,
me levem a sério.
Ironia estéril?
Vai nesse ínterim,
meu inframistério.

⁠Buscando o sentido
O sentido, acho, é a entidade mais misteriosa do universo.
Relação, não coisa, entre a consciência, a vivência e as coisas e os eventos.
O sentido dos gestos. O sentido dos produtos. O sentido do ato de existir.
Me recuso (sic) a viver num mundo sem sentido.
Estes anseios/ensaios são incursões em busca do sentido.
Por isso o próprio da natureza do sentido: ele não existe nas coisas, tem que ser
buscado, numa busca que é sua própria fundação.
Só buscar o sentido faz, realmente, sentido.
Tirando isso, não tem sentido.

Inserida por jalves

se amor é troca
ou entrega louca
discutem os sábios
entre os pequenos
e os grandes lábios

Paulo Leminski
Toda Poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

Nota: Trecho do poema Donna Mi Priega 88.

...Mais

⁠Uma vida é curta
Para mais de um sonho

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

⁠O critério
"atitudes estranhas"
não dá
para condenar pessoas
criaturas
com entranhas

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Inserida por mi_v_t_

no chão
minhas sandálias
pegadas
como pegá-las?

Paulo Leminski
Toda poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.
Inserida por mi_v_t_