Entre os mugidos do gado
E o cheiro de capim,
Nasce a lua cheia.
Na casa do avô
Havia tantos pernilongos
Em noites como esta!
Mesmo com fome,
Não se apressa como as outras
A galinha manca.
Ao longo da estrada:
"A próxima descida trará
Mais quaresmeiras em flor!"
Tardes de Cuiabá:
Garças e periquitos
Voando pra noroeste.
Olhando bem
O cafezal, na verdade,
São laranjeirinhas...
Também para eles
Está chegando o natal -
Ah, os leitõezinhos...
O sol se põe
Sobre o riozinho sujo -
Ah, infância!
Patos selvagens.
Por que iriam dois para o norte
E dois para o sul?
A velha ponte -
No pó ajuntado entre as tábuas,
Brota o capim.
A princípio: "O que é aquilo?",
Mas depois...
"Campos de arroz!"
Azul e verde e cinza -
Olhando bem, o céu
É de todas as cores!
A chuva passou.
A noite um instante volta
A ser fim-de-tarde.
Mamonas estalam.
Os cachos da acácia
Parecem imóveis.
Pardais
No meio da garoa -
Está chegando o inverno.
Ruído de chinelos
No quintal do lado -
Mas que calor...
Choveu há pouco -
O sol baixa das nuvens
Finas cortinas de névoa.
Crescem mais pêlos
Nas minhas orelhas -
Mais um ano chega ao fim...
Ao virar a esquina,
Saindo de trás do prédio -
A lua cheia.
Porque não sabemos o nome
Tenho de exclamar apenas:
"Quantas flores amarelas!"
Quando me canso da paisagem
Do leste, viro a cadeira
Para oeste.
Ao longo da estrada:
"A próxima descida trará
Mais quaresmeiras em flor!"
Porque não sabemos o nome
Tenho de exclamar apenas:
"Quantas flores amarelas!"