Manhã de frio -
Com o agasalho, visto
Saudades de minha mãe.
Um susto matinal:
na caixa do correio,
duas mariposas!
Tão pequena
E desbotada de chuva
A casa da infância!
Manhã de frio.
Se fosse menino escrevia
Meu nome no vidro.
O bebê resmunga -
Zune nas venezianas
O vento do inverno.
Os pássaros cantam
Monotonamente -
Feriado do ano-novo.
Tarde de inverno:
Sobe do fundo dos vales
A sombra das montanhas.
A serra em chuva
Sob o sol poente -
Como não agradecer?
Aqui e ali,
Sobre os campos florescem
As quaresmeiras.
Com o vento frio percebo:
Semanas e semanas
Sem ouvir insetos.
Trezentos quilômetros
Para não vos contemplar -
Mangueiras da minha infância!
A porteira bate -
Do meu lado esquerdo,
A lua de verão.
Às dez da manhã
O cheiro de eucalipto
Atravessa a estrada
Os grilos cantam
Apenas do meu lado esquerdo -
Estou ficando velho.
Mesmo molhado
Resplandece ao pôr-do-sol
O campo de algodão.
Nem laranjas, nem café:
Apenas canaviais
Sob um céu vazio.
A igreja branca
Sufocada entre eucaliptos -
Aldeia de minha mãe...
É quase noite -
As cigarras cantam
Nas folhas escuras.
De uma casa branca
No meio da encosta da montanha
Sobe um fio de fumaça.
Pelo espelho do carro,
Os campos que outrora foram
A casa do avô.
Perfume de pinho -
Nascem, no fumante convicto,
Firmes projetos de saúde.
Em toda a longa viagem,
Só agora encontrei
Um cafezal!
Sob a névoa fria,
O cemitério da vila
Cercado de ciprestes
Não há comida
E as moscas se ocupam
Em fazer mais moscas.
O lago da montanha -
Termina do lado leste
A tarde dos patos