PAULO EMÍLIO AZEVEDO, poeta PAz
Disseram que ele arranhou gravemente o coração no arame farpado. Agora fica sempre sentado naquele meio fio esperando que alguém lhe traga o fio do meio para costurar a máquina.
Não há como suborna-los a uma única estação do amor, nem a uma só primavera. Não há porque educa-los tão longe de si próprios. Esses jovens são dotados de asas, por isso sinto dizer que eles vão voar por cima desses tantos muros que ergueram a base de cimento e moral estética. Pessoas são estações, apesar de que talvez gostassem de no fundo ser somente verões. Pessoas são altas temperaturas.
Sobretudo, no Ocidente;
quando teve o homem a consciência da finitude, ele morreu antes de começar a vida.
Escrever é talvez a arte mais solitária de todas e, por isso, a que habita uma possibilidade incrível de escuta interna e reinvenção de mundos e de si. É escrever com você, contra você, através de você e a partir do outro, sem o outro saber que lhe faz companhia nessa travessia.
Política social como assistência. Democracia como privilégio. Cidadania como tutela. Burocracia como atraso. Complicado Brasil!
Não gosto de mar manso. Não gosto de gente mansa. Gente mansa é mar traiçoeiro. Mar manso é mar morto.
Tenho insistido nesse ponto: a Escola e tantas demais instituições de ensino tem que estar mais atentas em relação a outras formas de talento - há talento para afetividade.
Quem interroga exclamação tem problema de interjeição. Quem exclama interrogação tem problema com perguntas. Agora: quem se compõe de atitudes vírgulas tem muitos problemas com ponto final. Fazer pequenas pausas não é ruim, aliás, pode ser prudente; mas "gente aspas" é muito reticente no meu ponto de vista.
Em princípio paradoxalmente, as pessoas (muitas das vezes) não se mostram quando estão na sua frente, elas se mostram para valer pelas suas costas (longe da presença do outro). Pela frente, elas apenas se exibem. Ou, como se costuma dizer por aí: elas "se amostram", ou seja, mostram uma pequena parte de si. Essa exibição inicial confunde a realidade ou totalidade do sujeito com sua performance de entrada, a introdução ou epígrafe de si. E é por isso que costumo citar que a primeira impressão não é a que fica, essa pode ser a segunda ou terceira. A primeira é a que chega. Uma amostragem grátis pode às vezes nos custar caríssimo.
Não é a palavra que perdeu a verdade. É talvez o orador que tenha se perdido da verdade ao proferi-la.
Quem nunca pensou em desistir do sonho? Mas, a vontade do sonho sempre foi maior que a vontade de desistir, não é verdade?
Um dos termômetros do reconhecimento em saber "esse é meu amigo" está no fato de poder ficar em silêncio (ao lado dessa pessoa) sem se sentir constrangido por tal. Sem que precise falar absolutamente uma sequer palavra para justificar uma presença vazia.
Quando escrevemos nunca sabemos de que modo seremos lidos, e mora exatamente aí o risco da beleza de se perder pelo corpo da poesia.
O terrorismo é um vírus. O desafio das dimensões que ele nos impõe à sua cura é tão enorme quanto a carência de filiação, a velocidade cibernética e o poder - queríamos ser mais para abraçar todas as partes do mundo que perdem suas vidas.
Ao revelar as fotografias, percebemos que as expressões impressas em cada imagem são fotos das palavras não ditas naquela hora, porém ouvidas por toda a vida.