PAULO EMÍLIO AZEVEDO, poeta PAz
Estou chegando a conclusão (tardia é verdade, mas que sempre me ocorreu) que as pessoas querem sempre algo de nós, mas nunca nos querem.
O tamanho da solidão de um criador é proporcional à abrangência que ele deseja para o êxito de suas obras e personagens.
Domingo é um dia que tanto se quer que ele chegue, mas quando ele chega tão logo se quer que ele parta.
Havia um tempo em que o espetáculo da humanidade era a própria vida, mas agora a vida se tornou espetacularizada e desumanizante. A vida não existe mais, porém, curiosamente, está a todo instante sendo filmada.
A euforia é a manifestação violenta no público de um vazio do ente privado. A alegria é o canto do eu na sensível harmonização da plateia.
A maior das violências se opera contra aquele que não pode protestar, justamente porque lhe é ausente um projeto de consciência e, consequentemente, julgamento moral que o motivaria a tal ação.
O problema do internauta é confundir a realidade (na qual está inserido) com a totalidade da realidade (na qual todas as pessoas são participantes).
O Ministério da Carência adverte:
Pessoas que se apegam rápido demais às outras estão muito distantes de si mesmas.
Uns ganham um poeta de presente, outros ignoram a ausência da poesia na vida. No final das contas, dizem por aí que amantes que sabem rir juntos não deixam jamais seu par chorando só.
Sonhamos todos os dias. Lembramos pouco, mas sonhamos sempre. Tenho a imperfeita impressão que quando dormimos, morremos. O sonho é a lembrança para se manter vivo; é o alimento do sono. Mas, a era virtual matou o sonho e transformou a vida real em fuga débil. Estamos passando uma fome onírica, sem precedentes.
E eu que penso e não existo através do espelho, calculei sem muito gasto sináptico o tempo que se perde no selfie para encontrar a posição (projeção) idealizada de si. Foi, pois que o resultado é: esse tempo é muito maior que o tempo no qual as pessoas rapidamente encontrarão seus mais perfeitos defeitos. As virtudes, no entanto demorarão uma vida inteira para lhe devolverem à altura de sua imagem sonhada ou pesadelo indescritível.
Há de se desconfiar de uma sociedade quando a preocupação passa de "to be or no to be" para "curtir ou não curtir".
Com o advento do 'digital', as fotos sumiram de dentro de casa e as imagens das crianças se tornaram souvenirs.
A dança no Hip Hop poderia experimentar (cada vez mais) migrar do espírito MC (do improviso) para o do DJ (da mixagem). Isso seria, talvez, a construção de outra escrita do movimento em cores; um graffiti quero dizer.
Toda vez que tentarem lhes enfiar em gavetas, quebrem os armários, destranquem as portas e abram as janelas - NÃO PULEM DAS MESMAS, esse ato em desespero somente encorajaria a hipocrisia de quem os chamam de loucos. Atenção: você não está atrás ou em cima do muro, mas do outro lado da ponte. Atravesse-se!