Paulo Cesar Paschoalini
Não sei dizer, ao certo,
se o poeta é alguém confiável,
para si mesmo.
Basta sentir alguma coisa,
com mais intensidade,
que já vai logo contando tudo,
e em detalhes,
para todas as linhas
que encontra pela frente!
O chamado ‘desamor’,
não é o amor que se foi.
Na verdade, é desencanto.
É o encantamento que se foi,
antes mesmo de tornar-se amor.
As minhas cicatrizes não se mostram.
As visíveis, não me pertencem;
são dores que o tempo sentiu
e escolheu a mim, superfície,
lugar-sintonia de sua impressão.
Nada é mais reconfortante que a chuva. É um consolo saber que, às vezes, até mesmo o céu revela um semblante de tristeza permite-se chorar diante de todo mundo.
O ser humano jamais produziu tanto ‘lixo’ e talvez a natureza nunca tenha sido mais clara em querer devolver, na forma de consequências, tudo aquilo que ele é capaz de produzir.
POETERNIZAR
A poesia insiste diante de nós.
De tão apressados, não a vemos;
de tão racionais, não a sentimos;
de tão pesados, não a carregamos.
Mas o poeta consegue percebê-la.
Ele é o porta-voz dos sentimentos.
É quem caminha na direção inexata,
marcando encontro com a inspiração,
sem lugar determinado ou definido.
Versar-se ofegante do verbo sentir.
Oxigênio, hidrogênio, nitrogênio;
o poeta também inspira tudo isso,
mas expira o “oxi”, o “hidro” e o “nitro”...
e suspira o “gênio” ao escrever poesia.
Que seria do papel, não fosse o poeta?
Ninguém torna-se poeta; revela-se.
Não se apresenta e nem se aposenta.
Assim, nasce poeta, vive poeta,
até chegar o derradeiro dia,
em que rende-se de vez à poesia!
(DES)PEDAÇO:
Às vezes, quando eu peço,
você vem, com um pedaço.
Outras, eu me despeço;
você vai, me despedaço!
Nossos sonhos estradeiros
foram, aos poucos,
sendo recobertos
pelo asfalto da realidade,
que vai chegando,
meio teimosa,
querendo prevalecer.
Um retalho de loucura
agrada-nos e é desejável.
Todos nós trajamos
os trapos da nossa lucidez,
mas ansiamos por desfilar
um pouco de elegância e requinte
contidos nos devaneios.
Acredita-se na existência de um paraíso, como sendo algo coletivo. Mas cada um é responsável pelo inferno particular que cria para si mesmo.
SEMIBREVE:
A vida não é somente breve...
ela também é semibreve.
Além do mais, mínima e semínima,
ou mesmo colcheia e semicolcheia.
Ou, ainda, fusa e semifusa...
Do tipo confusa, profusa, difusa;
ainda, inclusa, reclusa, e inconclusa.
Sobretudo, a vida é música!
Só depende de cada um nós
vibrar no mesmo diapasão,
para ser integrante da orquestra,
ou, ao menos, presente na plateia.
Não perder o ritmo e o compasso,
afinados com a arte que é viver!
A vida não é uma corrida
para ser vencida
de qualquer maneira,
mas uma caminhada
para ser percorrida
da melhor maneira.
O quintal é um lugar
onde nós enterramos
os tesouros de nossa infância.
Aí chega o futuro
e transforma-nos em adultos,
enche-nos de preocupações,
de tal maneira que nos faz
esquecer em que ponto da vida
deixamos de nos importar
com a existência de mapas.
Cada dia o céu se mostra único,
uma versão que jamais se repete!
Os tons de azul são diferentes,
as nuvens têm novos formatos;
até o brilho do sol não é igual
e nem a escuridão é a mesma!
Cada dia o céu consegue produzir
mais uma dia especial e inédito!
Da mesma forma, todos os dias,
cada um de nós é único, ímpar
e suficientemente capaz de fazer,
à sua maneira, o seu próprio céu!
É no coração
que estão as raízes
que absorvem sentimentos,
fazendo desabrochar
o encantamento
à flor da pele.
Ter cuidado não é um alerta;
é uma delicadeza, um zelo.
Como afago, afeto, atenção,
esmero, estima, desvelo,
mimo, carinho, dedicação...
Todas as coisas que existem,
mesmo as tidas como eternas,
mais dia, menos dia, passarão...
Contudo, as que forem ternas,
muito mais tempo ficarão!