Paulo Cesar Paschoalini
A velhice haverá de ser algo mais leve se, quando ela chegar, eu já tiver adquirido as qualidades das pessoas que admirei ao longo da vida.
Mais importante que ‘paz eterna’, que não nos compete, é cuidarmos mais da paz interna, que está ao nosso alcance.
Uma obra de arte também é capaz de nos definir. Depende muito da intensidade de nossas exclamações ou interrogações... E ponto final.
Não quero ser mais e nem menos que as outras pessoas. O mais importante, porém, é não ser ‘mais ou menos’ para mim mesmo.
As pessoas infelizes não se contentam somente em lidar com o que acreditam; elas sentem uma necessidade doentia de sufocar as certezas dos outros.
A vida de uma cidade deve-se, normalmente, à presença de um rio nas proximidades; a morte de um rio deve-se, principalmente, ao fato de existir uma cidade nas imediações.
A riqueza acumulada pelos proprietários dos maiores meios de comunicação no Brasil, é uma evidente demonstração de que a ‘produção de lixo’ é algo mais rentável que os fatos jornalísticos.
... E nas linhas, que no papel se fez,
rascunhar, com leveza e avidez,
os desalinhos da alma, de vez...
Com todas as certezas de um talvez.
(Trecho do poema "Poetar", da coletânea "Marcas do Tempo VIII", de 2006)
Vestir-se sempre e rigorosamente de acordo com a ditadura da moda é garantia de alegria futura. Você terá bons motivos para rir daquilo que 'tinha coragem' de usar no passado.
Para sermos aceitos pela sociedade, é necessário não somente ocultar os nossos defeitos, mas, principalmente, não deixar em evidência as nossas qualidades.
FAZ DE CONTA
Outro dia mesmo estava me divertindo,
assim meio descuidado, meio distraído,
e pelas brincadeiras de infância atraído.
Vieram outros dias, outras noites,
e, então, o tempo, sorrateiramente,
foi levando para longe de mim, dia após dia,
o pião que fazia girar as minhas fantasias;
as bolinhas de sabão, que eram meu alento,
foram desmanchando-se ao sopro do vento.
O faz de conta, os pés descalços, as ‘partidas’,
o ‘bate-bola’ nos campinhos de terra batida;
as alegres brincadeiras de ‘esconde-esconde’,
me escondiam do mundo adulto, não sei onde.
Enfim, até me dar conta que chegou o dia
de que esconder já não mais conseguia.
Eu não gostei de ter crescido, realmente.
Vez por outra eu me perco à minha procura.
Eu queria ter de novo aquela estatura,
aquela inocência, aquela candura.
Não queira esse mundo de loucura,
onde a verdade se vai e a mentira perdura.
Eu queria ser um menino eternamente.
Na verdade sou criança, apesar da aparência,
e luto para não ser adulto, com veemência,
para não adulterar de vez a minha essência.
O pião perdeu-se num mundo que continua a girar,
as bolinhas de sabão desfizeram-se de vez pelo ar
e nas ruas asfaltadas meus pés calçados vêm pisar.
Mas eu sigo brincando de esconde-esconde, contudo,
com o tempo que insiste em transformar tudo;
faz de crianças felizes, adultos sisudos.
Meu corpo de adulto pelo tempo foi esculpido,
embora me sinta criança, num corpo crescido,
com roupas de adultos, mas espírito despido.
Quanto mais ele muda, mais me contraponho,
pois muda um reino encantado de sonhos,
em um mundo ainda mais infeliz e tristonho.
Cresci e não gostei; isso me desaponta.
Por isso mantenho esse desejo oculto,
insistindo em brincar de faz de conta,
‘fazendo de conta’ que sou adulto.
Quando me chamaram de louco eu sorri, e lamentei que muitos ainda estivessem aprisionados pela lucidez.
A poesia nos permite voar para longe,
até que possamos sentir saudade suficiente
para voltarmos para dentro de nós mesmos.
O meio da multidão é o cenário ideal que o ser humano contemporâneo escolheu para exercitar a sua solidão.
A intuição é uma maneira de flertar desinteressadamente com o impossível e sentir-se extasiado ao alcançar o improvável.
Antigamente a população de um país era medida pelo número de habitantes; no mundo globalizado, porém, pelo contingente de consumidores em potencial.