Paulo Cesar Costa Karini
Quero de volta os sonhos de criança, quero abraçar mais que uma lembrança, quero um amor e uma dose de inocência, algo que supra essa tal carência.
O tempo que se esvai como areia entre os dedos e passa pelo anseio da razão, que dói ao atravessar a procura pelo fim, é apenas um sorriso.
A felicidade não deve ser aprisionada ao passado, mas alforriada na busca pelo elusivo prazer de viver.
Que verdade há maior que o risco de viver? Se tivesse a anunciada liberdade para afirmar tais razões por nós impostas, certamente não teríamos outro mérito além desse. O Sonho pelo livre raciocínio ainda não é tal qual o dos pássaros que correm, quando veloz rasgando os céus e ilimitando o seu ninho, arvorando a sua liberdade para quem quiser ver. Por mais escolhas, vontades e sonhos que possamos ostentar, ainda somos presos a nós mesmos, cativeiros de uma razão que frustra a sensação de voar, afinal o que nos prende não é o fato de não termos asas, mas de não deixá-las nascer.
Me dêem razões para sair do sentir, para aclarar a arte de existir e ser completo, me dêem motivos para elucidar o amor e manifestar através dele o abuso do seu uso, e assim, talvez eu entenda que não querer, é apenas um querer a mais.
Perguntaram-me o que eu seria sem a poesia, cego, surdo ou mudo? Atônito, eu respondi, que de nada me valeriam olhos para ver, ouvidos para ouvir ou voz para falar, sem a poesia, eu nada sentiria, pois de que vale um coração, se lhe negarem o direito de amar?
Por que o mesmo desejo que me guarda, me salta, me ressalva de tudo aquilo que eu quero e espero? Por que repetir anseios por ontem deflagrados, por hoje almejados, se amanhã os tereis amarrotados, como guardados, em uma caixa de fins e afins.. Ah, esse vai e vem que não me tem, mas me detém, de ter ou não ter, de sonhar, de aprender, que o amor, por fim, já se vale de sorrisos despertados, de suspiros camuflados e de uma felicidade que eu tanto assim quis.. E quero. E espero. Uma felicidade que teremos.
Talvez exista, onde ninguém ali encontre, o sossego em que o amor pode viver em paz, como se mais nada houvesse, viver feliz, como para sempre.
O silêncio abre portas para o que não pode ser dito, para os pensamentos trancafiados, que ocultam o desejo pelo irreal, há dois motivos para seguir, mas nesse momento, ambos conspiram pela perca da lucidez, repetindo essa procura sem fim..
Parece que eu encontrei a estrada para lugar nenhum, estou resgatando memórias que estavam adormecidas, como um inocente sorriso que me lembro ter dado na infância, quando meus maiores medos eram os meus pesadelos. Estou percorrendo as pegadas que eu deixei, olhando para baixo, tentando encontrar vestígios que apontem meus erros, talvez eu tenha errado em ir para algum lugar e ter deixado lá o meu último suspiro, talvez não seja assim tão longe, o caminho de volta para as lágrimas de felicidade que desciam rosto abaixo, só preciso encontrar o cartaz de boas vindas e respirar fundo, assim tão fácil, como se fosse a primeira vez.
Gosto de pensar que os sonhos não acabam, mas se realizam, de inventar um final feliz em cada história que faço parte, gosto de amadurecer os sentimentos, de aquecê-los com uma xícara café, carinho e sorrisos.. Gosto de ficar na praia até que o dia envelhece, e as sombras espalham na areia o escuro da noite, quando mais nada importa, o gosto é a sede de um beijo e o desejo é de não acordar.
Fujam os desejos, escapem para o outro lado desse delírio constante, que me remete a prisão de um coração inebriado de ilusões, corram enquanto dá tempo, enquanto a perca da lucidez não desfaz as palavras cantadas em voz de veludo, mas ainda ostenta o doce prazer de viver nesse mundo enclausurado, no vazio.
Se não vou passar pelo mesmo caminho mais vezes, pra que prolongar ou esquecer, todo o bem que eu posso proporcionar hoje?
Feliz seria eu, se pudesse entregar as palavras não ditas que fazem um caos na minha mente, como forma de modelar o que não pode ser expresso, de buscar o que só pode ser sentido e de acusar um sorriso impensado. Feliz eu seria, se pudesse escolher um tempo, escolheria o agora, só por hora, para aliviar a vontade que, de algum jeito, me faz querer mais, mais um olhar, um sorriso, um beijo, mais um amor.
Grandes são as noites, e ainda maiores são os pensamentos, grandes são as noites e por serem grandes acrescentam tempo no relógio, que já cansado não para de trabalhar, grandes são as noites que espalham a sua mantilha por tudo onde passam e goteja a lua no seu bordado como se nenhuma outra luz houvesse. Grande são as noites, que servem de fundo para os beijos mais quentes, que alimentam a imaginação alheia, que destacam as luminárias umedecidas de sereno, grandes são as noites, que não são criadas, mas esperadas, como o trem dás oito e meia, trazendo na sua bagagem as mais inventivas sensações.
Que o vento te sopre todas as palavras que eu sussurro quando te penso e que o nosso encontro preencha cada segundo da ausência elevada pelos nossos pensamentos, assim farei dos meus braços a tua morada e os teus olhos me serão alento de felicidade. Assim para ser. E seremos. E somos.
Faça o necessário existir e o que importa virá, afinal o que procuramos nada mais é do que um ideal que acreditamos ser legítimo, uma caça pela emancipada ilusão de sermos o que achamos não ser. É nisso que achamos deslumbrante, quando por um momento avistamos, nos outros, um cochilo, um lapso, um escorregadio e distraído instante de euforia.. Como uma droga, voltamos e relutamos contra nossos olhos, atrás da mesma cegue procura. Olhos.. Hesitantes olhos.. Que por fim, não se acostumam com o doce alento que o sossego lhe trás, só quando renunciam e se fecham, conseguem ver a imensidão do ninho que os guarda, vendo o que realmente importa e o que sempre lhe manteve.
Às vezes, por meio de pensamentos, me perco,
Perco-me tentando achar-me,
e acho-me perdido em tentantes pensamentos,
Pergunto-me se fui assim, se sou assim e serei assim,
Tentando, tentando e tentando..
Que tentador esse eu que coleciona suas duvidas,
como colchas em balde na beira da praia,
Uma praia de nebulosos e incógnitos pensamentos,
que tem sobre si, estrelas inquietamente brilhantes,
que cobrem os meus olhos com suas esperançosas luzes,
Ah, Pensamentos.. Por que se fazem?
Por que me tomam quando menos espero?
E o que esperam que vou pensar?
Ora se penso, é porque já não há tanto o que fazer,
Porque isso penso e pensarei que penso..
Posso espremer toda a dor como um cravo? Toda via, se não posso, tento, mesmo sem querer, afinal somos masoquistas em muitas escolhas, em muitos desejos, e o que resta saber é até onde isso pode nos levar. Por vezes, ouço falar sobre a dor do arrependimento e me pergunto, se posso chamar de dor aquilo que me trás a tona consciência, que coloca meus pés no chão, como raízes na terra. O que é sofrer, se não ser aprisionado em ilusões, em fantasias que criamos por achar algo mágico ou atraente, que mito, que inocência, ou falta dela.. Isso seria um crime, é um crime, tem que ser um crime! Pois afinal, quebra todas as leis da razão, é como dar murro em ponta de faca, como um tolo animal que se deslumbra a se ver num espelho e mesmo sabendo não ser real o que vê, ele vê como quem acredita. Tolo, bocó, infantil, acanhado, bruto, acriançado. Tu vês o que sabe e fecha os olhos pra não ver.
És carinho. Porque desarma todos os medos quando presente. És vontade de agora. De um agora louco, alucinado, que não mede consequências, como um guri de cinco anos que anda sobre o telhado. És a certeza, com calma e clareza, que diminui a vozearia para o que é pleno entrar. E entra. Fazendo-o tão presente, que nem mesmo a ausência torna-se saudade. És a palavra do falar, o sentido do andar, a causa da razão, o segredo que guardo comigo, que nem mesmo o tempo consegue apagar.
Largamos a vontade, a tona por verdade, do meu querer, no teu desejo, do meu sorrir, pelo teu beijo, na ânsia do agora, do por vir a essa hora, vem depressa, vem de já, vende tudo, vem sem nada, porque é nossa a madrugada, vem cantar, vem sorrir, vem fazer meu céu abrir, vem roubar, vem me dar, não me deixa mais sonhar, porque a vida ta sem ida, porque tu és cada batida, cada som do meu silêncio, cada passo que vou dar, meu agito, meu abalo, meu címbalo, meu embalo, vem com teu balanço, com todo vai-e-vem, me lança teu sorriso, te achega e vem com tudo que tu tem!
Eu te dou asas meu bem,
Para que voe em cada mudança de estação,
Eu te dou sonhos minha pequena,
Para que neles tu guardes a tua esperança,
Disfarçada de canto,
Soada pelo balançar nas pontas das tuas asas,
E coberta pelo doce ânseio de ser feliz,
Seja o que quiser ser, como quiser, mas seja livre,
Com teus milhares de sorrisos, que me achem de vida,
Para que andando como o vento, através das nuvens,
Possamos juntos beijar os céus.