Otávio L. Azevedo.
A poesia deu sentido ao meus sentimentos
Deu harmonia ao caos de minha existência
Se tornou a tábua onde abrigo os momentos
Mais espetaculares de minha demência
A poesia me abraçou na mais amarga solidão
Fez de minhas lágrimas motivo para escrever
Perpetuou sua presença em meu coração
Transformou as dores em inspiração para viver
A poesia me deu tudo e me tirou o nada
Criou um jardim em uma alma deserta
Para que o aroma das flores entranhasse o papel
A poesia é a arma mais precisa
Capaz de revolucionar uma vida
É o dom divino que caiu do céu.
Anjo majestoso de meus versos
Com que direito ousa me encantar!?
És a criatura mais bela que o universo
Em toda sua imensidão pôde contemplar
Anjo bendito dono de tamanho esplendor
Com tuas asas formosas venha até mim
Darei a ti a tão bela flor,
Que por teu amor
Nasceu em meu jardim
Anjo, meu doce anjo!
Que saudade tenho de teu afago
És de minha vida o maior encanto
Meu amor por ti é tanto
Que desejaria morrer em teus braços
Anjo que ao meu viver trouxe alegria
Desejo intensamente teus lábios tocar
Que eu siga cada uns de meus dias
Com a mesma maestria
E a grandeza de saber te amar.
Noite tão bela foi aquela
Em que pude tua beleza contemplar
No céu escurecido nascia a primavera
Quando tua formosura veio me encantar
Ó moça de sorriso delirante
Teus gestos juvenis a mim trouxeram alegria
Tua face tem a natureza brilhante
Que meu ser deseja todos os dias
Dai-me um pouco de tua graça
Permita que eu me perca em teus beijos
Não há nada nesse mundo que satisfaça
A ânsia que tenho por este desejo.
Mulher que de meus sonhos fez morada
Segure esta mão fria que almeja teu calor
Dê a minha vida a dádiva tão sonhada
Mostre a este homem o que é o amor.
E na hora do banho
É que a gente chora
Aproveita que tá lavando o corpo
Lava também a alma
Manda a sujeira embora.
Por que fazemos poesia?
Poderíamos fazer qualquer outra coisa
Fazer crochê, tocar guitarra
Ou até mesmo lavar a louça
Por que fazemos poesia?
Vida dura é a do louco poeta
Não pense que se vive de alegria
A vida também é uma miséria
Não entendo por que fazemos poesia
Encantamos até mesmo o céu
Declaramos a tristeza em ironias
Em uma simples folha de papel
Poeta manco, poeta cego e até mesmo bêbado
Os dedos calejados não mostram seu coração
A tinta com que escreve desce pelo seu rosto
E nem sempre há méritos para sua criação.
Aos poetas é dado o dom da loucura
E a virtude de ser um simples exagerado
Poetas até mesmo na dor transmitem doçura
Conseguem odiar o homem apaixonado
Não entendo por que se faz poesia
Mas sei que enquanto houver vida
Eu quero escrever
Seja como um grande escritor
Ou um poeta maltrapilho
Poesia é a arte que me faz sobreviver.
Obesidade abstrata
O que não mata engorda
Acredito nessa verdade
Já estou de barriga cheia
Cabeça cheia
Alma cheia
Tudo está cheio, mas não transborda!
Me sinto um obeso por engolir palavras e problemas demais
Não quero ser tão pesado assim
O que a sociedade dirá de mim?
Chega de engordar
É hora de morrer!
Mundo, mundo, que mundo é esse?
Onde as pessoas não conseguem mais amar
Trocaram o que tem valor pelos prazeres
São racionais, mas não conseguem pensar
Mundo, mundo, que mundo triste!
Onde está então o teu real valor?
A sinceridade é virtude que não mais existe
Busco, procuro e não encontro amor
Mundo, mundo, que face é essa?
Que mostra felicidade em cada canto
Mais na verdade a história não é tão bela
Entre sorrisos se favorece o pranto
Mundo, mundo, mais que mentira!
Disseste a todos que podiam viver
Pura falsidade pela vida diluída
Para que todos bebam sem saber
Mundo, mundo, me diga até quando:
Fará de suas criaturas nobres escravos.
Tire essa máscara, jogue de lado o seu manto
Esqueça a ganância enquanto conta centavos
Mundo, mundo, e qual de fato será o teu fim?
Se cada linha certa que escreve é tortuosa
Seus lábios facilmente dispararão festim
Celebrando com honra a tão fúnebre hora
Sentei na cadeira de balanço
Levantei minhas pernas para o ar
Admirei com ternura o encanto
Que aquele doce recanto
Tinha à luz do luar
Lembrei da terra bendita
Que durante anos foi meu refúgio
Terra de minha donzela querida
Onde o mais belo sorriso
Aparecia por detrás do muro.
Veio a memória os infindáveis momentos
De um amor considerado louco
Fiquei perdido em cada pensamento
Que naquele triste relento
Me parecia pouco
Cá estou eu, lá está ela
A beleza de sua face não mudou
Apenas não existe mais o brilho
Por não ter em seus delírios
Esse homem que tanto te amou.
Sempre tem um verso que não se encaixa
Um objeto da mudança que não cabe na caixa
O bicho de estimação perdido na mudança
Uma música improvável que toca e a gente dança
Tem aquele sol que não brilha tanto
O tanto que parece pouco
E o pouco que parece nada
Tem dia parecendo madrugada
Dá saudade, chora, chora, e não tem consolo
Eis o pão de cada de dia
Que infelizmente não foi me dado hoje
Não tive no café poesia
Nem um versinho na hora do almoço
Declarar minha fome ou me acostumar?
Desse tipo de fome eu não devo morrer
Mas se é pra viver do jeito que está
Uma passagem pro inferno
Cansei de viver!
Fecha-te ó porta
Não me preocupa se tens cadeado ou tranca
És gigante e inabalável
Mas tua grandeza não me espanta
Quantos sonhos tu esconde aí dentro?
Sei que muitos planos tu oculta
És porta que não tem chave
Não se abre diante a bravura
Tens um tempo para que se abra
Não demora e tu se fecha
Logo nasce uma nova porta
Que nos surpreende com maior grandeza
A vida é feita de portas
Algumas abertas e outras fechadas
Pra cada uma delas existe exata hora
Encanto da vida pra uma alma inveterada.
Eis o mundo dominado por irracionais
Tem animal solto exercendo poder
São as criaturas alimentadas por dinheiro
Devorando quem não deseja se submeter
Animais vestidos cheios de brio
Movidos pelo instinto da ganância
Defecam em cima dos mortos
Executados por sua arrogância
Eis o mundo perfeito para os tolos
Território marcado por quem arrota mais alto
O rei daqui é quem tem o maior bolso
Para levar o que lhe é ofertado
São os humanos desta triste geração
Que entregam o poder a irracionalidade
Humanos iludidos por pouco cifrão
Que apaga a visão de sua mórbida realidade
Quem quer poesia?!
“Vendemos, compramos, só não posso é te dar”
A essência de uma alma masoquista
A fórmula de quem chora palavras
Eu desisto de vender o que não se compra
Quem é louco suficiente para querer?
Versos escritos por um lápis sem ponta
Pregados em um papel que se rasga sem querer
Eu que sonhava em ser vendedor
Não posso entregar o que sai de mim
Pela boca, pelos olhos, qualquer que seja o buraco
Desta forma não poderei subsistir
Foi aí que a calculadora da consciência
Me mostrou que não havia riqueza
Que pagasse a propriedade que tinha
Poesia escrita, fruto de minha tristeza.
Sou marginal da vida
Filho de dois loucos que deram certo
Projeto mal feito que ainda vive
Em meio aos torvos desta geração
Sou máquina de escrever sem algumas teclas
Ando curvo com a coluna ereta
Filho de deus
Corrompido pelo pecado
Sou dívida que não se paga com dinheiro
Suspiro frente à nefasta morte
Que ávida me espera
Mas ainda não me alcança
Salto o abismo sem asas
Não voo, mas sei nadar
Se me afogar foi de tristeza
Por não entender o que é amar.
O tempo
O tempo é assassino
Traz o homem e mata o menino
Depois disto vira Serial Killer
Mata o homem jovem
E traz a velhice
Mas o tempo com todos seus defeitos
Também é altruísta
Generosamente dá tempo
Pra gente viver a vida.
O palhaço poeta
Pobre palhaço cheio de graça
Anunciando o espetáculo no meio da praça
Faz palhaçada
Leva o povo ao riso
Jogando palavras
Por puro improviso
É metáfora, metonímia e ironia
Seu pequeno espetáculo composto de eufemismo
Mas o palhaço se entristece por ver tanta alegria
Por lembrar que no fim da noite escreverá mais uma poesia
Rasgará sua alma e colocará no papel
Toda dor que esconde atrás dum sorriso.
Batem em minha face por me faltar beleza
Desprezam minhas palavras só porque não tenho conhecimento
Esquecem os meus feitos simplesmente por não ter grandeza
E ainda me julgam por não ter sentimentos
Quem é forte suficiente para maltratar o fraco?
Ás vezes a força não é o mais importante
Quem é o inteiro que pode zombar dos pedaços?
Nunca se sabe o que virá adiante
Imperfeitos pisando em imperfeitos
Brigas inconstantes para saber “quem é”
A criatura que tem menos defeitos
Quem é burguês, e quem é ralé
Acertos e erros totalmente distintos
Mas por fim somos todos iguais
Ser grande ou pequeno não altera o destino
Somos pó e nada mais.
Você não me conhece
Eu não nasci do ventre da terra
Meus pais não são a lua e o sol
O mar não foi o lençol
Que usaram para me criar
Não sou irmão dos animais
Até conheço uns tais humanos
Mastigam certezas cheios de engano
E por achar que pensam
Se acham demais
Eu sou filho de mim mesmo
Ninguém sabe donde eu vim
O porteiro do inferno já me viu
Já tomei café com os querubins
Eu podia ser tudo e bem além
Mas adoro o título de “zé ninguém”
Porque assim eu surpreendo
O mundo de quem se acha alguém.
Sou um pedaço de mistério
Uma criatura comum
Me entrego a todos
Mas não sou de nenhum
Tenho sonhos como a maioria
Os meus segredos são da multidão
Nego que exista algo além de dor
Em meu apertado coração
Sou metade homem
Metade menino
Amo a imperfeição
O que é perfeito eu abomino
O sol me esfria
O frio me esquenta
Os inteligentes me detestam
Tolo é quem me aguenta
Sou um pouco de tudo
Mistura de ácido com base
Só falta uma coisa nessa vida:
Encontrar a felicidade!
Era um pássaro preso
Vivendo em uma gaiola
Um dia foi lhe dada a liberdade
Porém, não foi embora
Decidiu ficar
Se agarrou a prisão
Pelo menos ali ele não estava só
Poesia está na fala
Está na escrita
Está em tudo
Pena que a grande parte deste mundo
Seja cego, surdo e mudo.
Desordem completa,
O caos interno
Se refletiu no externo
Promoveu o duelo
Entre rabiscos e versos
A alma que chora
Já não sabe a hora
Que toda essa bagunça
Vai encontrar seu lugar
As palavras se confundem
Ao se encontrar, se unem
Criando a poesia
Em meio ao incôndito ambiente
No fim do túnel me encontro
Sinto-me um louco em calmaria
O último verso escrito e ponto
O caos é o mal que me traz alegria