Olindo Santana
As distâncias não são verdadeiras,
eu te sinto... te cheiro... e pro meu desespero,
imagino teus beijos na saudade que eu vejo.
Se eu te amo, não sofras,
cada um tem sua escolha,
te amaria de novo,
sem cobrar dos teus olhos
uma lágrima em teu rosto.
Desde já eu te digo,
levarás nos teus olhos
os meus tristes sorrisos.
Ficarás na saudade,
viverei se possível,
padecendo de amor,
essa dor tão terrível!
De repente te vejo,
de repente o amor sente mais que o desejo.
De repente minha sede, como nunca, talvez,
só anseia teus beijos.
Eu só quero esse rosto, essa boca, esse riso, esse gosto acanhado que me engole calado com seus doces ruídos.
O agora, a saudade, a distância,
o passado juntando o presente,
aí da gente querendo do tempo,
o passado e o futuro unidos pra sempre.
Eu vivi teu sorriso, mas a tua alegria,
ah, meu Deus, não me quis!
sem morrer nos teus lábios,
só me fiz infeliz.
E foi levando naquele dia
todos os sonhos que construí,
e foi deixando na desavença
as alegrias que eu perdi.
Quem ama inventa suas ilusões,
e multiplica tudo que cria,
jamais as vê de si distante,
e nem descansa para perdê-las.
Faz da promessa a jura eterna,
e se confessa cheio de encanto,
não se imagina sequer um instante,
longe, tão longe, de quem só ama.
Quando os planos são contraditos,
quantos conflitos, quantas lembranças,
como agora, que estou perdido:
_ tu não me escutas, e nem me chama.
Se me ouvir chorando, desesperado feito louco,
não tenha dó, é meu engano,
amei demais, pra amor tão pouco.
E embora agora, não me controle, e sofra tanto,
no fundo o pranto também é parte da mesma história,
que às vezes chega, e não se acaba,
que às vezes parte, e deixa lágrimas.
Melhor assim, que a ilusão,
as noites frias compartilhadas nos mesmos braços,
sentindo perto a companhia sem agasalho,
negando juntos que acabou, e deu em nada.
A dor que é minha, por quê ser sua?
Pra ser infeliz, um só já basta.
Sem egoísmo, ressentimento ou piedade,
melhor que eu fique, melhor que partas.
A porta é tua, a estrada é larga,
não é aqui que se acaba nossa jornada,
não quero em mim uma cicatriz, nem teu pedaço,
a dor é forte, mas com certeza, eu me refaço.
Amo e não me canso
de amar a quem amo bastante,
amo e curvo os ombros
para que o amor em mim se enganche.
Adiantado, antes de antes,
desesperado para que me alcance,
antecipando todos os meus ângulos,
para que repouse o seu semblante.
E não espero ver algo troca,
o amor é meu porque eu gosto,
e estou disposto a qualquer coisa
para que ele colha as suas apostas.
Amo e não me cedo
cuidar de mim mais do que dele,
sentir em mim o que mereço,
porque o amor se faz primeiro.
E creio justo, porque o tenho,
alegra a mim amar assim,
e sempre pronto, vou me doando,
mesmo se quando houver um fim.
Ah, se o tímido e indiscreto olhar
soubesse dizer o que diz,
pedisse o que nega escondido,
suprisse essa dor desmedida,
tocasse, afinal, teu espírito...
Que doce arrepio atrevido,
sentir retornar ao ouvido
o som, o clamor, o gemido...
tua boca e minha súplica aflita
nos ais mais voraz de uma vida.
Como é possível te querer tanto,
quando me digo que devo fugir.
Como é possível manter a distância,
se a força do encanto me puxa para ti.
Quisera conter o vulcão,
negar a explosão que se alastra em mim,
mas fervo toda vez que te encontro,
toda vez que te inflamas e sou chama enfim.
Quisera fingir que não gosto,
mas já nem me importo com o que fazes de mim,
e quando teu fogo se espalha,
se queimo, se ardo, me confortas assim.
Percorro as tuas veias profundas,
enquanto me afundas no fundo de ti,
e todo o calor expelido é menor que o gemido
que confirma o que eu digo: "estou preso a ti."
Quando quiseres, te bebo toda,
sugo teu gosto, rasgo teu sopro,
filtro teu corpo, intenso e louco,
porém devolvo, feita de céu.
Depois por terra, me jogo morto,
e tu celeste, queima-me todo,
mas ressuscita-me. e me alivia,
deita em tua via, minha agonia.
E te obtenho outro universo,
e te impeço de ficar triste,
e enquanto brilhas, te sou perverso,
mas não cruel, vez que te quero.
E em tua presença me curvarei,
te servirei como o quiseres,
e te serei pra sempre eterno,
e apenas servo, deusa mulher.
E depois, os meus lábios lamentaram tuas garras;
o meu sangue, tua carne, a fatal ansiedade;
supliquei e não tive, implorei que acabe,
mas de ti já escravo, só te quis e quis mais...
Não foi o beijo, mas o gemido,
esse teu grito que não esqueço;
o teu suor nos meus cabelos;
a tua seiva sobre os meus pelos,
e os teus seios, ah, os teus seios,
quase choravam para eu morde-los.
E seja como for, a gente sobrevive,
não importa quantos tolos,
injustos e sem motivos, nos queiram separar.
E seja como for, a gente sobrevive,
unidos e reservados, cuidando desse amor.
E seja como for, eu vou te entregar
a lua, o céu e o mar, o eterno suspirar
capaz de conquistar os sonhos imortais.
E seja como for, te amo ainda mais,
e sei que és capaz de até me superar,
de se multiplicar em nome desse amor.
E seja como for ninguém vai nos tocar,
ninguém vai evitar que eu queira te abraçar,
que queiras flutuar pulsando no meu corpo,
sentir o meu calor na minha voz tão rouca,
ouvindo eu gaguejar que amo livre e solto,
e o fruto desse gozo ninguém vai nos roubar.
E seja como for, eu vou te completar,
e vais me inteirar, vibrando e desejando,
pra sempre saciando a fome desse nosso amor...
E me esqueces...
talvez não lembres que havia em nós tanta esperança;
que foste muito e eu demais, te amava tanto,
que a noite achava que incomodava os nossos sonhos...
Diz-me, porque sozinho eu não sei,
porque sem ti não me atrevo, embora cedo lateje
essa vontade no peito de mergulhar nos teus seios,
de ver meu ar nas tuas veias, e me conter nas palavras
que me sufocam a alma que te devora calada.
E eu querendo essa seiva que corre além dos teus lábios,
que cura a febre que arde e sem teu colo não passa,
e eu querendo a coragem de aprofundar tua carne,
de ouvir soluços dos mares sobre o teu ventre suave,
e ainda assim sou silêncio, cobrando o teu agasalho.
A noite chega e te aguardo. A noite é quase um milagre,
onde as estrelas se apagam e se iluminam os sinais;
teus gestos e acenos discretos ao meu olhar afobado,
onde imóvel te espero, onde o teu corpo me fala,
onde murmúrios dispersos conhece o céu nas tuas margens...
Vive, por cada amanhã que eu não te tive,
por cada momento que tu não me deste:
_ parece terrível, eu sei, acredite,
a sorte não escolhe quem entra em sua vida,
porém eu duvido que sonegue o seu brilho.