Noi Soul
Sou a persona grata non here
Sou o pudor da vergonha em mim
Sou o estrago do próprio embaraço
Sou o nó que desfaz o laço...
Eu sou a intensidade da monotonia
Sou o cansaço da alegria
Sou a temperança da própria raiva
Sou a paixão lasciva e viva.
Sou a contradição aos pedaços
Sou o som da mudez no espaço
Sou a pedra no meio do caminho
Sou a bebida do meu desalinho.
Uma vida inteira
valida as decisões de um segundo.
Qual a vida?
Qual o segundo?
Qual a história contarei?
A história é o agora
O tempo é a ponte
E as certezas são todas inúteis
Pois teríamos que inventar a verdade
para ter certezas úteis!
Já senti tanta raiva e ódio
E para quê me serviram?
Já senti tanta falta e repulsa
E para quê me serviram?
Já senti tanto medo e remorso
E para quê me serviram?
Já senti tanto nojo e carência
E para quê me serviram?
Para nada
Nada
Nada!
Permita-me parar o tempo
Escutar os pássaros
Dançar na chuva
Banhar-me de sol
Permita-me parar o tempo
Descobrir sabores
Desvendar amores
Sorver-me de sol...
Mesmo assim
o sol não aplaca o frio
dentro de mim!
Metade do tempo
sou eu!
Metade de mim
é o tempo!
Eu sou esta corda bamba
Sou o equilíbrio entre a pilha
de coisas da vida
e a queda desmedida!
Sou a espiritualidade e o tormento
Sou a doença e o unguento
Sou a leveza e a vazão
Sou a subida e o escorregão!
Eu sou metade do tempo
O tempo é metade de mim
Se isto é um sonho, eu digo:
- Os sonhos transformam a vida!
E eu vivo sempre assim!
Retina
A gente foi ensinado
A morrer à míngua
E não sobra língua
pra gente comer…
A gente sente e chora
E não vê a trégua
Sem medir a régua
pra gente entender…
Quando vejo os olhos da morte
Não posso mais temer a pequenez
A suavidade do dia é milagre
O sol da pele que me toca é milagre
A hora ainda acordada é milagre.
Quando olho no fundo dos olhos da morte
Não há mais temores tolos
Não há mais confusões
Nem necessidade de ser notada
Não há mais desculpas para brigar
Não há mais nada.
Quando a vejo tão de perto assim
Quando a percebo inculcando meus brios
Dando-me calafrios
Não há mais nada a temer
Porque, no fim das contas,
Tudo o que eu sempre temi
Está diante de mim
Olhando-me com profusão e piedade
Permitindo-me desfrutar um pouco mais
E viver o que ainda preciso...
Ponte
Escorre tempo
Entre as mãos perenes
Insensatas
Rogadas
De quem nem lembra
De ti!
Escorre tempo
Sereno
Suave
Pequeno
Entre nuvens e dentes
Ranger de trovões
- Ai de mim!
Escorre tempo
Escorro eu
Em ti!
Prefiro-me assim…
Sinto-me ridiculamente ingênua
- isso é bom!
Um pouco inebriante, talvez
e reconforta-me saber que estou num berço esplêndido
numa pureza de sentidos
preparada para acolher o novo e a novidade
ao mesmo tempo que tenho algo de mim.
Não sou pura nem mesmo pureza
mas reconheço-me como abençoada
pelo dom da ingenuidade!
Uma ingenuidade pulsante e bela
que sempre faz-me crer de novo
e de novo
e de novo
em algo e em alguém que mostra-se disponível para encantar-me.
Ser ingênua também torna-me confiante.
Não apenas nos outros, mas principalmente em mim…
Os que enganam (e os que querem enganar)
são os verdadeiros e ridículos tolos
Eu? Eu sou ingênua
Apenas ingênua e confiante demais
para temer os que me querem mal…
O chamado
Será a qualquer momento
Como uma brisa suave
Ou como um terrível vento
Será a qualquer momento
Não perguntará as cores
Nem os meus mais sérios intentos
Será a qualquer momento
Desfazendo as teias
Ou estendendo tormentos
Será a qualquer momento
Iludindo os sentidos
Ou execrando por dentro
Será a qualquer momento
Um pior desatino
Ou o melhor dos unguentos
Será a qualquer momento
Com a data marcada
Ou com surpresa do tempo
Será a qualquer momento...
E antes que ela chegue
Eu me entrego, forte, lento...
A morte...
Será a qualquer momento!
A última gota
Eu estou aqui ainda
O que posso eu fazer
enquanto vivo?
Eu estou aqui ainda
Posso ser juiz
ou ser juízo!
Eu estou aqui ainda
Posso lamentar
ou saltar o abismo.
Eu estou aqui ainda
Posso enfurecer
ou tornar-me aprisco.
Eu estou aqui ainda
O que posso eu fazer
enquanto a vida pulsa
em meu peito
em minha face
em minhas mãos?
há decisões que – ainda -
podem ser tomadas
e escolhas que prescindem dos nãos!
O reflexo que pousa no espelho
Do sol, o maior, amor primeiro
A terra em pedra abraçada
O rio percorre sua morada!
É este amor que quero dedicar-lhe
É esta entrega que preciso fazer
Meu coração lateja por vida
Minh'alma vive por você!
Amo com a ardência
De um coração desejoso
Amo com a prudência
De um espírito amoroso
Amo com a vida
De um toque doce de amor
Amo sem vergonha
De repetir a palavra amor!
Viagens loucas
Insanas
Pelo universo incauto
Da pele robusta e rochosa
Que mina suor feito água!
Tão doce e viril
Tão potente
Seus lábios me beijam
Ardentes.
Seu peito me esconde
Inteira
Seus olhos percorrem minha face
Sua língua a arrodeia!
Minha alma procurava
Alguém que já conhecia
E me dá a alegria
De saber o que é o AMOR…
Quando eu não mais sonhava
Chegou para libertar
Para me fazer sonhar
E arrancar minha dor...
Meu fôlego de verdade
Instante meu de magia
O céu inteiro irradia
Iluminando meu ser!
És o meu bem precioso
Minha pérola encantada
Que me fez enamorada
E o fez meu bem querer!
Se tuas forças faltarem
Vem aqui para os meus braços
Que, o que puder, eu faço
Só para vê-lo sorrir…
Nada posso eu prometer;
Só espero a cada instante
Ser teu amor, amiga e amante
E fazer-nos bem FELIZES
toda vez que o sol nascer!
O calor dos seus lábios
Envolve-me com ternura
A sedução dos seus olhos
Eleva-me às alturas!
Seu toque começa suave
Sentindo o meu pulsar
As mãos avançam com chama
E alcançam o seu lugar!
Bate o peito
Arde a pele
Sente o gosto
Não repele!
Brisa passa
Alma sente
Doce voz
Ao meu ouvido
Sussurrar.
Seus dedos percorrem
A extensão do meu corpo
Seu respirar ofegante
Encontra o meu ser louco.
E desse modo incomum
Entregamos o tesouro
Você morando em mim
E eu sorvendo você todo.
Com grande assombro
Meus olhos inertes
Imersos em ti
Pulsaram a vida
Regaram o sonho
Do conto sem fim!
Os teus pés percorrem
milhas e milhas e milhas
dentro de mim.
Os teus olhos bonitos,
serenos, singelos, completos
dizem que sim.
Os teus sonhos
tão longe ao vento
refletem o fim.
Tão belo
Que minha vontade
É prendê-lo
E sorvê-lo
Só para mim!
Mas que egoísta sou!
Tanta beleza
Não deve ficar escondida
Não deve ser retida
Não deve ser sorvida
Nem ser de um dono só!