Noi Soul
sou a busca indecisa
da certeza duvidosa
de onde se tiram largas passadas
de um futuro presente
quase sempre aqui
sou o tudo do nada despido
vestido com vestes nuas
imaginando destinos possíveis
enquanto dorme na rua
A poesia ganha corpo
Ganha cor
Ganha veste
A poesia se traveste
De onda de puro furor
Condena a majestade
Ao ínfimo chão gelado
E traz ao trono o infame
De versos adocicados
A poesia emudece
Quem cansa de ouvir falar
Entretece seu tecido
Como um rio vir a ser mar.
A poesia empertigada
Sobre a sobra da centelha
Engana os olhos incautos
Refrigera, queima, beira
À loucura ensandecida
Ao brio do terno pastor
Fulgura o novo tempo
Canta o cântico d'amor.
A poesia hiberna dentro
Da pele de quem consome
Seus atos, aços clementes
Seus pesos, uivos e fomes.
O ouro dentro de você
Espera o seu olhar
Quem o encontra segue tranquilamente
Tudo entrega, nada retém
O ouro aguarda seu despertar.
Não sorria quando o que você deseja é chorar.
Sinta seus sentimentos
A vida é muito curta para ser fingida.
No vão do livro
há um segredo
Qual o segredo há
no vão do livro?
Há um espaço escuro
indistinguível
há um segredo
no vão do livro.
Ela conduz o meu corpo
Dança o que a alma sente
Ela que esconde o meu rosto
Sorve o mundo inclemente
Manibus
Esse é o mundo
Não se esqueça
Ele é o mundo
Não se iluda
Este é o mundo
Não se endureça
Ele é o mundo
Está aqui
Está à frente
Está em tudo
Está em nós
Escrevo por instinto e não por razão
Sou aquele animal ferido por uma lança
acuado, revolto, inflamado
Com sua língua lambe a ferida
Sorve seu próprio sangue
A palavra é meu sangue
Escrevê-la é minha língua
- Não! Estou triste
Muito triste
E me permito ficar assim
Até a alegria voltar
A invadir minh'alma.
Você tem medo daquilo que não conhece
A respiração queima
Falta oxigênio
Sobra CO2
De onde exala?
Da multidão irrefreada!
As parcas diretrizes dizem
“Pare”
E você para – limitado
Na própria cegueira da escuridão
Sua paixão leva ao devaneio
e sua têmpora demonstra a gota
de sangue, de suor, de lágrima
- Nem mesmo você o sabe!
Perde-se no desatino pavoroso
da falta
da falsa
da farsa
da farta
dor do sentir...
Medo!
O órgão vital quase afunda
de tanto flutuar na caixa torácica.
Isso é o que mais me assusta
- A possibilidade!
Se houvesse certeza
Data marcada
Direção guiada
Se houvesse uma pedra fincada
Mas não há…
Tudo o que existe é
possibilidade
possibilidades
Finitamente infinitas
E não respeitam agendas
planejamentos
planos
sonhos
pensamentos
Acontece-se em si mesma
E não justifica
Não nos diz o porquê
Não nos consola
Apenas emerge
a qualquer momento
de qualquer maneira
em qualquer estrada
- A possibilidade!
É minha maior fonte de (pre)ocupações.
Complexidades humanas
Certezas e devaneios
Água, terra, sol ou chamas
Das teses que ainda não vejo
Humanas complexidades
Olhares de dor ou pudor
Estranhas as falsas imagens
Do ego que se insinuou
Complexidades humanas
Humanas complexidades
Talvez o desejo que inflama
Destrói do seu olho a verdade…
Especialista em qualquer coisa
A nova fase pós moderna
Eu vou falar sobre tudo
- Sobretudo
Que não entenda nada!
Com o tempo a gente aprende
a enxergar quem apenas nos quer
por perto por mera utilidade...
E, com isso, é mais fácil dizer NÃO.
- Não!
Eu gosto de estar perto de quem me quer,
principalmente
... quando sou inútil.