nataliarosafogo
vou ao relento de mim em pequenos vôos, levo uma lágrima a esboroar-se p'lo rosto, e a serenidade duma borboleta por entre os cheiros da aurora...
Quando fecho os olhos, vejo atalhos ladeados de girassóis que me sorriem... esqueço os labirintos da realidade e vou sonhando...
distraí-me com o vôo do último pássaro... segui a trajectória da última esperança, plantei a raiz onde ainda há sonho...
cheira a mimosas e o aroma cabe-me na lembrança... e por um fio, o arrepio fica preso, a uma saudade que é continuidade do sonho de sempre...
há dias em que cantam cotovias nos meus olhos e voam soltas sobre as searas do meu coração...o vôo é a lembrança, o canto é a saudade...
pousei os olhos na minha mão, pedi-lhe que não desanimasse, que escrevesse em liberdade, sem amarras o que vai no coração...
saltei ao caminho e a vida se fez pressa, morreu a esperança de tanta promessa...moinho sem vento, mói meu pensamento....
vou remando até à infância, deixo-me a boiar na recordação...é minha sede tão simples, de renovar o espírito...e reconciliar-me comigo mesmo.
este meu voltar atrás, a olhar o florir dos cardos, ouvir a música nos prados quando não anoiteceu ainda, faz com que as lágrimas me visitem, e me deixe a pensar entre a saudade e a solidão...
há um lilás branco que me olha e lembra-me que as rosas mesmo que solitárias espalham seus odores com ternura, ainda que o tempo me enrugue o coração e me vá tirando o chão...levo na bagagem um sonho interminável de que a paz seja meu tecto....
porque a saudade nunca chega a morrer, e apesar de ser grande a vontade de viver, a morte me virá buscar e a vida me há-de chorar...
trago o sorriso algemado, e o silêncio apontado, um estranho pássaro na nudez da palavra, e a memória em fuga sedenta de ternura...
em tempos adversos só os versos sorriem, para esquecer os sonhos amputados e o que ficou disperso, sem regresso....
apercebi-me da proximidade, agarro-me ao dia, mas já me povoa a noite e eu esqueço a verdade que mais doeu...
infância...a doçura onde os anjos cintilam...tempo onde o coração é um fiozinho a correr indiferente ao que lhe surgirá pela frente...
quebraram-se as nuvens, o chão ficou molhado de giestas, imóveis os pássaros no vidro quebrado dos meus olhos permanecem ainda na memória d'outras primaveras...
abre-se a manhã com um arrulhar de rolas,na noite deixei as estrelas e a saudade que crepitava no coração, deixei-me de desvarios. já não me sei, perdi o tempo de saber de mim...
eu sou a anfitriã e ao mesmo tempo a convidada quando as tuas mãos se preparam livres, para percorrer o meu corpo no despertar de qualquer madrugada...............................................................
que o alento não se apague em cada um de nós e o sonho vá ainda pela metade...que ele, seja a seiva verde da nossa esperança.
caminha a memória por pedaços de recordações a querer esquecer a fuga irremediável dos dias, cativa da busca do sonho ...
apagou-se o pulsar do sol em metade do meu sonho, mas o meu alento fica exercitando-se, resgatando luz para a outra metade do sonho sobre a protecção da lua...sempre amanhã é outro dia.
ascendem lendários meus dias, percorrem o fundo da minha pele, e eu fico, como se já não fosse da terra nem do tempo prisioneira, disperso-me como se os sentidos não funcionassem mais...
a saudade amanhece no meu pensamento e no peito nascem brancas madressilvas, deixa-me o coração a latejar... o corpo sente um vivo calafrio... enquanto arde meu sangue, ao lembrar a razão do meu pulsar.