Nat Bespaloff
Dizem que temos a liberdade de amar quem quiser. Não é verdade; se não podemos nem ao menos sentir como queremos. Digo: se eu quiser ficar triste, não posso? O simples fato de querer já não basta? Mania chata essa de querer padronizar felicidade, de padronizar formas de se viver.
[Invisível ao toque - Nat Bespaloff]
Sabe aquele pensamento de “quando o mundo acabar”? Os filmes retratam bem: as pessoas desesperadas correndo de um lado para o outro, chorando, gritando, as cidades sendo destruídas por... meteoros, ondas gigantes, fogo. É, o mundo está acabando hoje. O desespero é mais angustiante, pois todos agem como se nada estivesse acontecendo. É a mesma sensação de sair de um enterro e ver as pessoas felizes nas ruas, quando seu mundo acabou de ser destruído, lhe falta um pedaço da vida, ou seja, o perfeito retrato de que a dor é só sua.
[Invisível ao toque - Nat Bespaloff]
– O que aconteceu? Não te reconheço mais nas suas atitudes, você... Você está fazendo com que aqui dentro de mim existam duas pessoas: uma que te ama e outra que... – deixou a frase inacabada.
− Me odeia?
− Tem medo – corrigiu.
[Invisível ao toque - Nat Bespaloff]