Nane vs

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Asas cortadas

Entendo hoje, mais do que nunca
O olhar vazio de minha mãe
Enxergando no passado
O que poderia ter sido
Se por outros caminhos
Tivesse decidido...

Dogmas e retidão
Presilhas disfarçadas
De encantos e joalherias
Quando uma só escolha
Decide uma vida inteira
Deixando consequências
Em outras vidas inocentes...

Voar sem um destino
Sonha o pássaro cantor
Preso na gaiola...

Temeu voar quando podia
Agora se faz tarde seu querer
Restou-lhe o olhar vazio...

(Nane-02/12/2014)

Inserida por Nanevs

Entre verdades e mentiras

Tu me dissestes que foram mentiras as minhas verdades
E eu, no entanto, julguei serem verdades as tuas mentiras
Nos iludimos e nos deixamos envolver
Por mentiras e verdades criadas por nós mesmos
Aconteceu o previsível, o desgaste da quimera
O enredo perdeu todos os sentidos
Entre as verdades e as mentiras
Valeu demais o nosso tempo
Ninguém mais vai poder preencher o teu espaço
Talvez eu até consiga serenar toda essa dor
E refazer a vida com a tua doce lembrança em mim
Mas...nada vai poder tirar você de mim
Te saber feliz agora é o que importa
Ainda que me custe a própria felicidade
Deixa ficar comigo os momentos em que fomos
Unha e carne, carne e unha
Guardei teu timbre, tua voz e teus carinhos
Que irão comigo por onde eu for
Só não confunda mais minhas verdades
Posto que elas nunca foram mentiras
E tão pouco me diga mais tuas mentiras
Disfarçadas de verdades

(Nane-02/12/2014)

Inserida por Nanevs

Jogo de xadrez

Queria calar
Mas a poesia é intrometida
Feito um tabuleiro de xadrez
Remexe meus neurônios
Me dá um xeque mate
E solta o palavriado
Involuntário e sem cabresto

Sou poeta vencido
Sem muita inspiração
Deixei no passado meus lampejos
E a tristeza se fez de minha musa
Enquanto a fumaça do cigarro
Desenha formas deformadas
Na mesa do meu jogo

Ponho em xeque a poesia
Rei e rainha perdidos
Queria me calar
Mas a poesia é intrometida
Me da um xeque-mate
Me obriga a rabiscar
E cuspir palavras que eu não sei dizer

(Nane-03/12/2014)

Inserida por Nanevs

O parto

As minhas entranhas dilaceradas
Doem a dor santa das mães
Que geram um filho natimorto
Sem nunca beijar-lhe a face

Meus dedos deslizam por sua pele
Fria e sem nenhuma cor
Revivo cada instante da gestação
Realizando (na imaginação) a festa do nascimento (que não houve)

Seu corpo já não cheira bem
Reluto em sepultá-lo
É meu filho embolorado
Não saiu dos meus guardados

Talvez um dia (quando eu não mais existir)
Alguém entenda a dor do parto
E permita que o meu filho
Editado e revisado
Seja publicado...

(Nane-03/12/2014)

Inserida por Nanevs

Bárbara Iansã


Rainha dos ventos
Bárbara Iansã
Senhora dos bordados
De ouro ao entardecer

Enfeita o crepúsculo
Saúda o anoitecer
Hipnotiza os homens
Com seu olhar de poder

Impossível não há
Para a bela Oyá
Herdeira guerreira
De tantos amores

Ogum
Seu eterno apaixonado
Xangô
Seu verdadeiro amor

Rainha dos ventos
Bárbara Iansã
Sopra em mim
Sua brisa suave

Eparrei!!!

(Nane-04/12/2014)

Inserida por Nanevs

Lizandra

Me encantou o olhar matreiro de Lizandra
Encarando o meu de soslaio
Aguardando com paciência eu me afastar...

Seu corpo magro dentro do vestido
Deixava a mostra dois "gravetos"
Ainda sem curva nenhuma...

O cabelo, visivelmente embaraçado
Escorria-lhe pelos ombros pontudos
Escondendo seu sorriso malicioso

Entrei em casa e por detrás da cortina
Vi quando ela, feito um relâmpago
Subiu com maestria na mangueira (em meu quintal)

Não mais de dez minutos
Foi o que lhe bastou
Para encher de mangas a sacola

Desceu num salto de saltimbanco
E olhou sorrateira a sua volta
Procurando por alguém

Saí "brava" de casa e gritei:
-Peste! Espera que te pego
Ela sorrindo, desandou em correria

Me encantou a ousadia de lizandra
Roubando minhas mangas doces
Como as que eu roubava na infância

(Nane-04/12/2014)

Inserida por Nanevs

Na espera

Amor, presta atenção
Passe o tempo que passar
Escuta o que vou te falar
Você está em mim
Assim como eu em você

Se hoje
Meus sonhos são pesadelos
Pela tua ausência
Foram em outros tempos
A paz que embalou
Meu sono de Morfeu


O sim e o não
Junto ao preto e o branco
Incerto e ambíguo
Sou eu e você
Perdidos e encontrados
Num só delírio

Mais meu do que seu
E embora te sinta
Não posso prender
Voa sem nenhum limite
Pelo espaço e pelo tempo
Até cansar

Meu tempo é teu tempo
Enquanto eu puder
E vou te esperar
Até que queira voltar
Se por acaso não vier
Eu vou te aguardar
Num outro lugar...

(Nane-05/12/2014)

Inserida por Nanevs

Lendas e mistérios

Lendas e mistérios
Cercam o real
Onde começa ou acaba
Ninguém sabe dizer

Lendas e mistérios
Envoltos no cotidiano
Do louco e do lógico
Sem diferenciar

Lendas e mistérios
Confundindo ideais
Sensatos e insanos
Tênues divisores

Lendas e mistérios
Refletindo reflexos
De verdades e mentiras
Num espelho particular

Lendas e mistérios
Do que foi ou do que será
O certo e o errado
Ninguém jamais saberá

(Nane-06/12/2014)

Inserida por Nanevs

Fardo



Meu corpo arde desejoso
Sente a falta do seu
Vê passar o tempo incólume
Na pele enrugada e sem brilho
Nos contornos perdidos
Na mente ficando demente...

Que imagina seu corpo enrijecido
Tocado por outras mãos
Enquanto as do meu corpo tremem
Não de prazer
Mas pelo tempo incólume
Que me leva embora

A máscara que se desenha em minha face
É a do tempo passando tão rápido
Ornamentada pelas rugas sulcadas
E a púrpura nos olhos cansados
Até do próprio carnaval
E de todas as minhas fantasias

Meu corpo admite (e sente) a velhice
E recorda o seu juvenil
Espera sem pressa a hora
De libertar-se desse peso
Que obriga minha alma pesada
A carregar esse fardo

(Nane-08/12/2014)

Inserida por Nanevs

A força do destino


O amor se faz presente
E pressente a eternidade
Torna-se imortal
Apenas por ter existido

Mora no infinito
De um coração finito
Que bate numa alma eterna
Predestinada a ele (o amor)

O sem final feliz
Pouco importa para o amor
Que conviveu com a felicidade suprema
No instante em que aconteceu

E essa ficou gravada
Na memória do universo
Dos seres que se amaram
E por força do destino...se separaram

(Nane-08/12/2014)

Inserida por Nanevs

Medos

Meus medos afloram
Quando mais me sinto forte
Vasculham minhas gavetas
Em busca da minha fragilidade

Busco na luz de meus parâmetros
A identidade da coragem
Que sou forçada a ter
Para sobreviver

A escuridão se faz
Em pleno sol do dia
Mas a lanterna do destino
Clareia meu caminho

Finjo não sentí-los (os medos)
Enquanto eles teimam em me assombrar
É preciso ignorá-los
Cubro a cabeça...

Mas a noite escura e quente
Me faz sentir calafrios
Tento respirar bem devagar
Para eles (os medos) não me encontrarem

Meus medos afloram
Quando mais preciso ser forte
Eu finjo...finjo...finjo
E sobrevivo

(Nane-08/12/2014)

Inserida por Nanevs

Stand by

Amor, estou aqui
Aguardando você voltar
Porque sei que vai voltar
Quando cansar de brincar de amar

É meu o seu amor
Ainda que você não saiba
Estou de prontidão
Na minha solidão

Vá sim, viver seus amores
Divirta-se a valer
E quando voltar
Aninhe-se em meus braços

Sou eu quem te espera
Por toda a vida
Não tenha pressa de chegar
Eu vou te esperar

Até mesmo por não ter outra opção
Sou seu stand by
Um dia você vai perceber e entender
Que só eu eu amo você

Então, finalmente virá
E eu torcerei como nunca
Para que nesse dia
Você possa...me encontrar

(Nane-09/12/2014)

Inserida por Nanevs

Placar final

É hora de voltar
Respirar fundo e voltar
É hora de mandar às favas
Todos os percalços
E construir com as pedras...um abrigo

Chorei todas as lágrimas
Senti todas as dores
Que ainda estão em mim
Mas é hora de voltar
E lutar...

Vencer ou perder faz parte do jogo
Que Deus escala e escolhe
Partir pro ataque é o que resta
Enquanto a partida durar
É preciso fazer gol

É hora de voltar
E esperar com paciência
O apito final
Desse jogo involuntário
Sem vencedor (ou perdedor)

(Nane-09/12/2014)

Inserida por Nanevs

Os meus pés de frutas


Lembro da minha casa de varanda
lá pelas terras do Conforto,
onde eu brincava na rua
e minha maior preocupação
era me livrar das "correadas"
(que naquela época eram permitidas),
que minha mãe, por certo me daria
depois de mais uma traquinagem.

Era uma casa bem grande e com quintal,
onde um pé de manga e um abacateiro
também faziam morada. Mas a goiabeira...
essa morava no quintal da vizinha
e me obrigava a "trepar" no muro
para roubá-las.

Um dia...
depois de ler "O meu pé de laranja lima",
quis ser seu protagonista (amei a ideia dele)
e amarrei uma cobra(de brinquedo) no cordão.
Me julgava mais esperta que o Zezé,
só não sabia que minha mãe também o era.
Os vergões das lambadas (e não era a dança)
ornamentaram meus "gravetos" e meu bumbum
por um bom e dolorido tempo.

São tempos idos e encantadores
que de vez em quando me puxam pro passado
e me levam de volta para a minha casa de varanda
lá pelas terras do Conforto...

(Nane-09/12/2014)

Inserida por Nanevs

Sem promessas

Não te prometo uma poesia
Por não poder te "escrever"
Com a mesma intensidade
Desse olhar tão expressivo

Não te prometo uma poesia
Por não ser capaz
De fazê-la tão bela
Quanto a tua beleza

Não te prometo uma poesia
Por não ser poeta
Que te tem como musa
Mas se encanta quando surges

Não te prometo uma poesia
Por só saber (um pouco) rabiscar
Quando deparo com a beleza
Estampada em teu olhar

Não te prometo mais nada
Além deste rabisco
Que se não é obra prima
Está enxertado do meu mais profundo...carinho

(Nane-09/12/2014)

Inserida por Nanevs

Saudosismo

Posso ser estranha por não gostar da vida,
por me sentir enclausurada,
Por não ter expectativas...
Vi tantas lutas por ela (vida)!
Pessoas começando a viver e já batendo
na porta do céu (?).
Gente querendo sobreviver (e não "viver") a qualquer preço
num corredor gélido que mais parece matadouro.
Vi crianças esfaceladas, sorrindo e chorando.
Mães inconformadas e até uma índia rezando
para que Tupã a livrasse do filho doente e "estragado".
Não vejo a morte como o fim, mas uma volta
ao seu verdadeiro lar.
Sofro sim a falta dos meus que me antecederam
nessa viagem repleta de mistérios, mas aguardo,
sem pressa a minha hora de também ir (de preferência
sem despedidas). Sei também e tento me preparar
(mesmo sabendo que de nada adianta) para o dia
que minha mãe se for (e torço muito para que seja
antes de mim).
Posso ser estranha por não gostar dessa vida aqui,
mas não me tomem por louca.
Sou apenas alguém que sente saudades de casa...
Não necessariamente sou triste por não gostar
da vida aqui.

(Nane-09/12/2014)

Inserida por Nanevs

No meu interior


E me ofereceram de Natal uma viagem
Até para que eu relaxe um pouco
Recusei...
Maranhão, Fortaleza, Salvador
Um lugar bonito qualquer
Recusei...
Quiseram saber o porquê da recusa
Não entendem que a minha viagem é diária
E o destino...meu infinito

Passagem para lá não há
Nem de ônibus ou de navio
Muito menos de avião...
Vou no pensamento
E é bastante cansativo (a viagem)

Me ofereceram um presente
Um "refresco" pra cabeça
Mas não posso aceitar
Viajo na poesia que mora no meu interior
E vou pra onde eu quiser
Na hora em que eu quiser
Pro céu ou pro inferno
Sem bagagem nenhuma
Agradeci de coração e...
Recusei

(Nane-10/12/2014)

Inserida por Nanevs

Lava/da/ alma



Não tenho a passividade dos que tem fé
Nem a conformidade dos que creem
Não tenho a aceitação dos que esperam
O prêmio de consolação

Por vezes até tento ter
Mas fala alto meus instintos
Explosivos e repentinos
Que me fazem blasfemar (ou cobrar)

O que a vida fez de mim
Ou o que eu fiz da vida
São paralelas tão minhas
Tenho que encarar

No despertar de todo dia
As cobranças em brasas ditas
Queimando o leito facial
Feito lavas salgadas da alma

Que tantas dívidas a serem pagas
Por estranhas criaturas
Colocadas num mesmo espaço
Confinadas num abraço

O amor é latente
As brigas presentes
A morte indigente
Os corpos...pressentem

(Nane-11/12/2014)

Inserida por Nanevs

Tigresa


Tigre enjaulado
Encarcerado e limitado
Ruge bem alto
Tentando provar
Que ainda vive

Deita e dorme
Sobre o cimento aquecido
Acomodado por seu destino
De fera presa

Presa que namora
No piscar dos olhos
Correndo livre
Tão fora do alcance

A brisa orvalhada
De outros tempos e cheiro
Agora se assemelha a sauna
Fedendo à desinfetante

Tigre enjaulado
No centro da cidade
Exposto à curiosidade
Sem mais nenhum propósito

(Nane-11/12/2014)

Inserida por Nanevs