NaNa Caê
Hoje definitivamente não vou sair
Nem por você
Muito menos por mim
Mais tarde me alimento de tédio
Raiva
E vou dormir
Assim
Passeando por pesadelos
De barriga cheia
A arma foi delicadamente ilustrada
Polida
Recarregada
Mas você a pegou
Sem cuidado algum
Deixou cair no chão
E ela disparou
Cortando o ar
O silêncio
Minha garganta
E assim como quem não queria incomodar
Abriu a porta
Entrou no quarto
Sem bater
Pedir
Falar
Mecheu no guarda roupa
Pegou a maldita caixa
Enquanto eu entretida batia a cabeça na parede
Sei que sou chata
Um porre
Retórica às vezes
Às vezes aqui significa demais
Antes que vire e diga que estou mentindo
Aproveitando-me de eufemismos
Me ajude a vendar minha mente
Segurar escrachadas verdades
Ou apenas coopere para aguar
Aqueles malditos questionamentos
Que infelizes jardineiros
Fizeram o favor de plantar
Entre nós dois
Pequenos e tortuosos bonsais
Se vários poetas acabaram em whiskies
Vodkas
Conhaques
Vinhos
Se inebriaram em fumaça
De cigarros
Cidades
Carros
Da cabeça que se fundia
E fudia de tanto tentar parar de pensar
Quem sou eu então pra hoje de algo reclamar?
Mas e aí estrangeiro
O que vai ser de nós ?
Você me pergunta ...
Os poucos que ainda possuem olhos de alma
Quem poderá doar a medida excêntrica
Da correta dosagem de realidade ?
Acho que não será eu
Não aqui nessa terra quente e estranha
Ah Deus
Se tudo não passou de uma alucinação de Friedrich
E o senhor de fato exista
Que o céu desabe sobre nós
Se lá for realmente fresquinho
Que ele caia sobre nossas cabeças mesmo!
Eu queria colar nas minhas costas
A grande verdade suprema:
Que não tenho paciência para animais
Sejam de estimação
Ou os falantes
Pensantes
Cheios de sentimentos vazios
Que dizem que amam
Choram no meu pé
Eu queria ter mais que 4 olhos
Pra poder ler de uma só vez
Uns 5 livros
E ao mesmo tempo sem óculos e manual
Dar conta de olhar
Para o infinito desconhecido
Dentro de mim
E talvez assim enxergar
Entender
O que realmente me faz infeliz
Eu queria fingir que escrevo
Tão pouco quanto os outros
Que pintam pequenos dispersos pingos no papel
Queria não virar noites
E latas
De tinta em cadernos
Preenchendo gavetas
Com bolos de folhas
Embolados em pensamentos
Lambrecados de pimenta e mel
Se são setas
Facas
Espadas
Ou traços falhos
Eu não indaguei
Só posso dizer que me causam espasmos
E consequentes amargos
Na boca
Olhos
E mão
Espero que não explique apenas sobre retas
Infinitos
Planos cartesianos
Conceitue também quadrados
Daqueles bem fechados
Aproveite e me dê um
Só pra ver as estranhezas
Sendo jogadas lá
Ficando sem ar
Sentindo coincidentemente
O que geralmente me causam
Quando passo por elas
Passo
Passo maL
O ser correto tem que se manter inteiro
Aceitar os encaixes que a vida lhe atribui
Compreender sua função
Em um gigantesco tabuleiro
Saber das regras
E não as burlar
Nunca tente bater a mão na mesa
Como se o jogo fosse melhorar
Pender para o seu lado
Porque o estrago será recíproc
O que se aprende no xadrez?
Não importa o lado que escolha
O que culmina superioridade são as estratégias
Inusitadas
Inesperadas
Inventadas
Pra ser vencedor é preciso apenas
Saber o melhor modo de manipular as peças
É claro...
Sem que o adversário perceba
Enquanto isso você fica aí
Pensando que entende todas as jogada
Por que não deu um fim ás fotos?
Apenas se sente bem com aquelas roupas
Fazendo frias poses
Ou possui resquícios masoquistas
E ainda se lembra de mim?
Infelizmente tenho sonhado
Quando cochilo minhas duas horas por noite
Perante meu novo embaçado olhar
Vocês estão abraçados
Os que se odiavam
Trocam beijos
Se comem
E sabemos que não é imaginação homérica
De minha fútil mente prática
Querem expressar um ódio inexistente
Uma raiva que se força
Olhares misturados com inventados risos
Que só me parecem piada
De humoristas decadentes
Retrógrados
Dependentes das revistinhas de banca de jornal
Eu tentei me livrar
De tudo
Inclusive do orgulho em seu excedente ser
Perguntei com quem deixar
Os malditos pertences
Mas você parecia que gostava
Vingança
Ou mero estranho prazer
Usava os objetos
Como queijo envenenado
Preso na ratoeira
E nesses momentos esquecia minha alma de felino
Perdia a autêntica esperteza
E frieza dos gatos
Transformava-me perante suas investidas
Em um dos piores ratos
Dos bem burros
Mordiscando pequenos podres pedaços
De lembranças
Que mais tarde por gula
Sempre me faziam mal
Não comprei nenhum sorinsal querida
Na real sequer dei conta de sair pra sala
O máximo que fiz
Foi caminhar até ao banheiro
Meti o dedo na goela
Várias vezes confesso
Mas nada saiu
Fiquei por insuportáveis tempos
Em completas fazes de enjôo
Na esquizofrênica dúvida
Do afasto ou me jogo
De cara na porca água
Bem cena de trainspotting mesmo
Não foram as acusações de mentiras
Que o tornara vagabundo
Não foi o calar
Que o colocou como louco
Mas a pureza destemida
Bobo de nascença
Apelido
Nome e sobre nome
Não seguiu a ordem de a verdade não falar
Proibiram
Mas ele fingiu não ouvir
Tentou ser justo
Para no fim acabar como o maior injustiçado
Se soubesse como é triste acordar
Ir trabalhar
E mais tarde fingir que está tudo bem
Não recusaria minhas preces