NaNa Caê
Quando sonho com você não há lugar para o surreal, não possuo asas, borboletas não se transformam em dragão. Apenas a realidade dominando o onírico, eu de um lado, você do outro, quando queremos muito mudamos de calçada é pedida a permissão, sem o atrevimento da palavra a própria presença estabelece o cumprimento, determina a distância.
Na fabricação do litígio entre estranhos conhecidos, o olhar preso por três segundos é intimidade desnecessária, proximidade a ser ignorada.
Quando sonho com você desenvolvo ânsias precárias, refluxos eufóricos, vomito as palavras-resíduos que me forçou a engolir.
Como se os olhos fossem páginas escritas em braile de trás para frente, eu insisto no estudo de te ler sem óculos.
Compreender é passo raso em rio de aparência funda. Apenas quando adentramos é sabida a facilidade de caminhar.
Não se preocupe Lola
Se abstenha
De toda cena armada
O duro papelão que bateu em sua cara
Amoroso papelão sentimental
Estreito compasso dessa desengonçada sinfonia
Estreito desenredo dessa sintonia sem jeito
Estreito espaço entre o fardo
E a métrica da constante
Ausência
Sua
Estreito
Apertado
Coração
só
Inteligência é pré-disposição genética; depois das 3 da manhã, mero esforço para ir contra a burrice, empenho na aprendizagem de um conhecimento universal. E isso é base, básico, vestido preto no guarda-roupa.
As conversas foram tecidas em linho de cobre e você ainda jura que suas palavras atingem meu rosto como seda
Todo instante você pensa em ser só, mas vindo de você soa tão pueril
Talvez você ainda precise mesmo da infantilidade do seu passado
Você ainda não cresceu
Eu finjo também que penso, quando na verdade eu bem mais que desejo, a sustentabilidade das palavras, não me refiro a estruturas espirituais, de ética ou moral. Preciso que cada palavra que escrevo se transforme em roupa, comida, o recibo do meu pagamento do aluguel de fim de mês.
Falamos de crianças como se não fossemos infantis, como se estivéssemos disputando quem voa mais alto no balanço, sendo que sabemos que desastrosamente sempre caímos de costas no chão.
Empurramos o medo com a barriga, enchemos a barriga com qualquer besteira, nos enjoamos de desculpas para podermos vomitar com maior facilidade todo resto ressentido.
Para os braços nunca marcamos hora na agenda, compromissos, estão sempre ocupados segurando o mundo junto com as mãos.
Mas ainda somos minúsculos, quase ninguém, e as mãos, pequenas, não importa o tamanho do coração, da força, ou da rapidez, elas ainda não poderão segurar todo peso por alguém, e isso inclui você.
Os signos apenas me cercam, não me favorecem, particularmente a casa em que o meu habita desmoronou, ali não importa a destreza ou o olho bom com medidas, as paredes ponteagudas se desequilibram e escorregam no chão.
Fico correndo pelos dois cantos, por dois becos extremos, encerrando discussões com vírgulas, sem saber como usar um maldito ponto final.
Deve ser a textura, não sei, das palavras, eu as sinto na boca, é verdade, não fica rindo assim das minhas metáforas, mas elas tocam minha língua, então os dentes se cerram, as serram ao meio, trituram as verdades e eu sem ter o que fazer mastigo suas mentiras também.
Estou cansada desse laço
Isso que une a gente
Esse minúsculo espaço
Entre
Que de pequeno não tem nada
Sufoca
Acho melhor mesmo de vez você ir
Pode deixar que eu me viro por aqui
Dou adeus antes que isso se desfaça
Não sei se cresci, ou se foi a carne dura que aumentou aqui sobre mim. Não precisa me jogar dentro de uma das suas receitas, não há motivos pra tentar me cozinhar, amolecer as partes em tempero forte, melhorar o meu sabor, é sério, estou bem, sei que falando assim, sei que eu lendo o que estou escrevendo aqui não me soaria tão bem assim, equilibrada, feliz, aqueles estados de espírito esperados pela nossa facha, mas me desculpe, infelizmente estou bem.
Estou pedindo desculpas por que as vezes não me parece certo estar bem, não parece certo fugir daquilo que eu achava correto anos atrás, não me pareço com o que pensei.
Espero que um dia consiga ver a força que há em você, além da beleza, todas as palavras duras, que joga na cara da vida e ela insiste em aceitar, recolher, guardar e depois partir.
Suas verdades são doloridas, acho que assim como sua vida, que culpa tem você de existir?
Não sei ao certo o que me agrada, as brigas posteriormente com mancadas, dos seus passos tortos que te fazem estranha, te fazem perdida, mudam a rota do caminho sem você perceber e no fim é só se iludir.
Não sei o que relata, qual parte é mentira, qual é imaginação, comedida, ou exagero de atuação.
E se tudo que escreve é com inspiração no sofrer, me desculpe, mas não acho que merece então ser feliz.
Nem toda piada é um drama, nem todo drama é tristeza, pode ser comédia, deve ser articulação para te envolver.
A única coisa mais impossível do que ficar agora é abandonar.
Destruição é presente, oportunidade para iniciar corretamente onde se errou.
Não sei se são rachaduras ou frestas que abri com os dentes, festas em que tentei sorrir. Para cada mandíbula um latejo.
Não sei se é você que vai chegar ou eu que vou partir.
Colocando no bolso todas indiretas como se elas esquentassem os músculos, de cada perna, para caminhar até o local que você apontou.