Naiana Brum
É nisso que eu preciso amadurecer: não meço consequências. Não cuido do jardim, apenas porque sei, no fundo, que as rosas não me pertencem. Mas eu preciso cuidar, embora elas não sejam minhas, elas são meu jardim. Não estão na minha vida por acaso.
Eu não sou do tipo que faz uma cena grande, não grito, não choro na frente de ninguém. Não tiro satisfações, não bato boca, muito menos rolo no chão puxando cabelo de outra. Quando eu brigo, eu nunca sou a primeira a excluir. Raramente eu bloqueio, apago conversa e número. Eu resisto. Eu vivo me dando a pessoa como opção, até entender que ela não é mais. E para a maioria das pessoas, isso é frieza, é fazer pouco caso, é desapego. Pra mim, é só meu jeito de ser inteiramente racional mesmo quando meu coração desabou em desespero.
Eu preciso parar de me magoar e de magoar as pessoas, mas isso vicia. É estranho como nos acostumamos com o que nos faz mal.
A inveja é de fato o pior sentimento desde foi dito "haja luz". Um sentimento tão conturbado que faz facilmente Deus parecer o invejoso e não o Diabo.
Tenho uma percepção artisticamente prolixa. Também consigo ser breve e simples, mas seria um desperdício ser só um pouco de tudo o que eu posso ser.
Tenho medo nenhum
se tiver que chegar, eu chego
se tiver que perder, eu perco
quem tem medo, não tem nada
Sempre que eu perceber que a reciprocidade não está sendo servida na minha mesa, eu me levanto e saio. E vou continuar fazendo isso incansáveis vezes, até me servirem o banquete que eu acredito ser digna.
E eu, amante da reciprocidade, tolero poliamor, poligamia, poliverdades, mas não tolero descaso. Nunca, sob hipótese alguma, faça pouco caso de mim.
A autopiedade é filho mimado. E nós somos pais com a persistente mania em pegar a dor, dar colinho e atenção.
"Mas ta doendo muito, Senhor"; "É sempre tão difícil pra mim"; "Olha só, coitadinha de mim".
E Deus me disse: DEIXA DOER. A dor ensina. A dor faz crescer. A dor educa. A dor corrige filho mimado. Deixa doer!
E para de ter peninha de si própria, pena não pertence a quem é filho de Yahweh, compaixão e misericórdia, sim. Depois que terminar de doer, vai passar. Nada dura pra sempre.
Canibalismo emocional do século 21: a terrível necessidade em buscar no outro aquilo que nos falta. Ou pior, que nos convencemos que nos falta.
O canibalismo emocional é aquela vontade de engolir a falsa autoestima do outro, o falso amor próprio, a falsa beleza, a falsa riqueza, a falsa inteligência e conhecimento de mundo.
O canibalismo emocional é a inveja velada do "não consigo viver sem você" quando na verdade é "queria tanto ser você e ter o que você tem".
Ah Naiana, mas qual é a cura, então? Aceitação.
Libertação. Evolução. Ninguém foi feito pela metade. Temos exatamente aquilo que deveríamos ter e somos aquilo que somos.
Quando eu era criança e acontecia algo ruim, eu dormia. Tinha a sensação de que quando eu dormia, acordava e tava tudo melhor. E magicamente tudo era consertado.
Queria voltar a ter essa percepção de menina, onde descansar e confiar que o tempo cura, era a melhor solução dos problemas.
Eu sei usar "por favor e obrigada", não me considero mal educada ou grosseira, mas diria que sou extremamente temperamental. Mimada pra quem prefere o termo; insuportável pra quem não está acostumado, mas se eu disser que é não, é não e pronto.
Pareço não saber o que quero, mas eu sei do que eu gosto e sei como quero o que eu gosto. Perfeccionista, ansiosa, quero tudo pra ontem e tem que ser do melhor jeito: o meu jeito.
Eu sou sanguínea e passional. Devota, entregue, leal. Eu consumo e eu cobro. Passivo-agressiva: não é bipolar, entenda a diferença.
Megalomaníaca - assumida, disse e repito! E como disse Frida: "pinto a mim mesma, porque sou sozinha e porque sou o assunto que conheço melhor".
Acho que descobri por que cientistas, estudiosos, médicos psiquiatras e necropsos perdem suas faculdades mentais num determinado ponto da vida.
Eles vêem demais, sabem demais. E existe um limite, que exige um certo grau. Tudo o que passa disso, perde o sentido de sanidade, de domínio de clareza. Ninguém foi feito pra ter tanta posse de entendimento sobre o que era pra ser oculto.
E aqui estou eu, como uma estudiosa-fanática-maluca, entre o criacionismo e a astronomia. Um avião planando no limite da gravidade entre a terra e o ar.
Acredito que meu intelecto já atingiu o grau limite de ciência. Eva mordeu o fruto, descobriu que estava nua e desde lá nós somos a evolução do mal da sabedoria. Salomão pediu sabedoria e nós aprendemos com ele a pedir também, mas ele caiu e avisou: "quanto maior o conhecimento, maior a angústia".
A angústia deve chegar com o limite. E eu acho, só acho que cheguei nele.
Ainda que eu me esforce com toda a verdade do meu espírito pra acreditar que existe cura e milagre e redenção e intervenção divina e mistérios inexplicáveis... eu desacredito. Ainda que eu saiba que eu acredito de verdade... eu desacredito.
A ciência é uma maldição! Ciência é o fruto do pecado. O começo da mortalidade. A saída do paraíso. O desacreditar que Deus é perfeito no que diz e estabelece.
Satanás conseguiu convencer a terça parte dos anjos contra a onisciência de Deus, e as vezes eu acho que ele nos convence todos os dias de que somos tão sábios quanto o Próprio DEUS. Porque tomamos conhecimento da imoralidade, da afronta, da heresia e temos prazer em tudo isso.
Porque acreditamos e ignoramos, ou preferimos acreditar no que é tangente e visível aos olhos. "Eu sei que Cristo ressuscitou um homem morto depois de 4 dias, mas não acredito que veria isso nessa vida". A ciência é a quimera das mentes barulhentas, o antídoto da fé.
A ascensão do conhecimento é a queda da humanidade. O distanciamento do Deus que nos criou para sermos simples humanos.
Ninguém sairá ileso do pecado de querer saber.
Deixa o universo invejar nós dois, somos estrelas e astros. Somos meteoro colidindo com sol. Nós causamos estrago e estardalhaço. Há quem diga que vamos conquistar o mundo inteiro, imagina juntos?