Naeno Rocha
A educação é a única arma com a capacidade de construir e reconstruir o mundo.
Levada a sério a educação para todos, estaremos entregando aos que gostam de armas de destruição, uma arma poderosa, capaz de estirpar a burrice e diminuir as desigualdades. Além disso, com excessão da religião, só a educação é capaz de proporcionar a aparoximação, de de modo infinitamente mais proveitoso.
A LUA
Quando ela passa tão suavemente,
Enche de amor os olhos da gente
Quando ela vai, quando ela vem
Clareia tudo e a gente sente.
Linda, como se fala ainda,
Dela que todos chamam de bela
Dona dos sonhos dos poetas,
Desvia o barco da procela.
Quando ela falta, a gente fica
Sentindo o mundo tão vazio
Claro, e ela a mais bonita
Claro clarão pelo infinito.
Bela lhe chamam e ela se exibe
Tela de Deus, a mais bonita
Claro clarão de amor, se diga
Nela tudo que é luz se mira.
Quando ela chega tão levemente
Treme o meu coração la dentro
Quando ela parte tão vagamente
Deixa molhados os olhos da gente.
SE FALTARES
No dia em que saires embora
Levarás também, os meus sonhos
Que em todos ele tu estais!
Sem a tua companhia.
E quando fores sem mim
Terás levado também minha alegria
É de mim, eu me conheço...
Não saberei mais ser alegre!
Levas, de todo querer necessário
A proteção dos meus braços...
Quem sabe das noites, de frio
Tu mesmo, neles te protegerás
Como guardiões teus, na nevasca.
Não deixes pra trás palavras
De amor e preces, porque pressinto
Elas serão as únicas palavras que direi
As únicas palavras que direi.
E suavemente, soltas as minhas mãos
Dedo por dedo, célula por célula
Porque elas estão apegada às tuas, por ti
De tal maneira, que será o susto
O pânico em que me deitarei longas noites
Tentando esquecer-te
E a lembrar-me de minha vida.
Por minha vida tudo suportarei!
E saibas:
Sei de amores quadrilheiros
Sei de amores pelos outeiros
Sei de amores pelos luzeiros
Sei de amor pelos Cruzeiros.
E a minha vida será a mesma.
Vida de Deus.
PARTIDA
Quando eu te deixei aqui
Eu mais fiquei que saí,
Na mão direita uma rosa
Tirada de onde eu nem vi.
Quando eu te deixei aqui
Eu nem fiquei nem parti
Na mão uma rosa molhada
Medo que nunca te vi.
E o meu coração
Escorava as mãos
Segurando a porta
Fechando as saídas.
E um grande avesso
Sentiu pela vida.
E a lua me apontou o dia
Como se não queria,
Testemunhar, tardia
Me dava as mão.
Meu amigo,
As estrelas têm apontado sempre o teu coração,
No teu derredor,
Como Luzes que aos homens
Parece não se pode criar
Ssequer sentir os seus fluidos angelicais.
Mas onde tu estás elas incidem.
Agora mesmo por onte passas
Elas te seguem, porque emanam de ti.
Eu te tenho como um das boas coisas
Que encontrei na vida.
POR ACASO
Não estou esperando nada
É chato talvez pensar assim
Mas falar da forma que digo
É cristalina veridicidade.
Nenhum ônibus trazendo um amigo
Ou uma encomenda que fiz
Parece que estou falando atrasado
Atravessado por um pouco caso.
Aqui sentei porque o assento
E não trago nenhum carnê
Para receber, pagar, levar
Ou apenas levar sem pagar porque é meu.
Não está valendo nada
Nenhuma coisa ansiada
Algo a mim direcionada
Também não estou esperando nada.
REZA
Puxo ou não puxo a ladainha extensa
Semm que a pretensa intenção de ganhar
Apareça em letras, formas. Que apenas
Aconteça um fato, algo pra se calcular
Baixo ou não baixo a litania das chuvas.
Não que se deseje água ou coisa assim
Apenas um ritual que a alma saúda
E sempre se espera tudo isso de mim.
Desço ou não desço o terço que conta
Uma extensa estória de aves!
De Santas, de DEUS
No começo e também na ponta.
EU TE DIRIA
- Mira os teus ouvidos nos martelos
E suas toscas investidas na bigorna.
Olha nos passarinhos distantes
Aqueles que cantam soltos.
E nos tristes, os que se chamam encantados,
Que dedilham a lira e as estrelas, dançam.
Tudo isso é mudo e surdo
Mas perceptíveis à alma quieta
- Olhas no verde mais intenso, porões da mata.
Dos vales que eu nunca vou pisar.
E saberá de minhas vontades
Aquelas mais desertas, além, além
As que eu quero tirar da minha visão
Que só farei quando aprender a voar.
Mirava o retrato que me fala
Nas vezes que o procuro na gaveta da saudade.
É mesmo um castigo,
E condenado fui, já, tantas vezes.
Relia um poema de Fernando Pessoa
Que ele construiu, perdido dentro das pessoas.
As venturas da lua e o que a gente escuta
Quando era Jesus Cristo falando
A voz que a gente decifra quando quer.
Segredava baixo em seu ouvido,
E se me acordasse
Me elevaria ao seu guardião.
Mas a palavra lembrada em tempo
Eu me obrigaria a falar.
Falava do velho camponês,
Que guarda zeloso seu rebanho,
E veio o vento tão impetuoso
E não arrastou nem um do seu ganho.
Citava a contravenção do tempo
Levando escondido em seus bornais
Amores que a gente pensa uma vida
Encontrar, amar, pra depois separar.
LÁGRIMAS
SABE AMOR
Sabe, amor
Sem ti, a vida espera
Num canto esquecida.
Os meus olhos só se alegram
Quando te vêem de perto
Colada aqui em mim.
Sabe amor
Pense em toda armadilha
Em todas me alcei
Querendo te encontrar
Como faz um bicho displicente
Levado pelo cheiro
Da inconfundível flor.
E se eu chorei
Não cabe a ninguém
Não choro por alguém
E se a vida passa vagarzinho
Eu fico no meu ninho
A proteger meu amor
TENTANDO
Foi assim
Quem me chamou foi você
Do fundo da minha vontade
Eu não podia enxergar
Que amor não é por bondade
Mas eu errei em te dar
Entre beijos e cuidados
Cuidando de me querer.
E, então
Não olhar mas eu vi
Tinha esquecido os teus olhos
Andando na mesma estrada
E àquela hora ainda estava
Esperando por você
Tua falta me apertava
Eu não mais queria ser nada.
Ai
Eu me larguei pelo mundo
Um homem bom, que no fundo
Me apontava o nariz
Quando me vi eu já estava
Andando morta a saudade.
E armado noutra cidade
O circo me faz feliz.
Daí, então
Procurei não notar mais você
Nossa amizade perdida
Achava que você nunca me quis
E lá pro fim pude entender
Só fingia não lhe vê
Pensando sorrir poder
Vendo na vida um brinquedo.
SIMPLES
Eu não construo poesia
Como quem faz uma casa de praia
Ela se arma onde bem quis.
Na aparência como se vê no espelho.
Esqueci-me das palmeiras de babaçu
Postas na área de entrada
Fazendo um caminho
Que por airoso fica na areia.
Nunca premeditei uma poesia
Como quem virtualisa um amor alado
Desengonçado e trabalhoso.
Como o que sentiu fazer
A primeira maravilha do mundo.
Nunca imaginei a poesia
Como quem idealiza um amor
Não amo as poesias que faço.
Antes, às vezes as odeio e rejeito.
Elas me consomem tudo, o tempo,
Toda afeição de que tenho, traço.
As poesias que têm saído
De meus inventos,
Das rimas que persigo, imerso
Vem do universo.
Vem como chuva
Vem como anjos que voam ao léu.
TEMPO DE PAZ
É necessário que se lembre de tudo
A todo tempo tudo seja lembrado,
O levante das mãos, o último abraço,
O primeiro sorriso aberto no mundo.
É preciso de nada se esquecer,
De se trancar a casa quando vai sair,
De se abrir a porta quando é para entrar,
Da rosa pesada que entortou o galho.
É imprescindível a todo momento se estar atento
Não só aos perigos que vazam dos jornais,
Nem às reticências que alguém tem
À tua pessoa e a outras,
Não aos espinhos que protegem flores,
Permanecer vigilante ao amor deserto,
O que necessita, a lágrima certa,
Aos necessitados também do teu amor,
Do amor que ferve, do que se aquieta
No fundo, acomodado.
Os necessitados, os fugitivos de seus amores,
Perseguidos ainda, e ainda com dores,
Dos malefícios de outrem, o infortúnio da diferença,
Que há olhos que vêem....
É preciso estar atento aos teus,
Que pra tudo há tempo, amor e lugar,
De repor o mundo, a dor, de procriar,
De estreitar-se a cama com um só cobertor,
Esses cuidados todos que Deus nos delegou.
Se fores infértil, que não seja de amor,
Pois não fará falta um filho
Que poderão ser teus outros estéreis de pais,
É preciso estar atento, o tempo é de paz.
PALMA DA MÃO
Eu não conheço a palma da minha mão.
Entre tantos cruzados de linhas,
E mais de um veio principal
Onde descambam as águas dos meus dias.
Não tenho noção do que seja a palma da minha mão,
Reconheço, e já é volumoso
As coisas que toco, a embaralhar meu destino.
Reconheço, quando a espalmo frente aos olhos,
Alguns poros suados, o anel centenário,
A cor, que coincide com a cor do meu corpo inteiro.
Na aventura a que me lancei,
Em me procurar e me achar,
Em algumas partes de mim deu pra ver
Outras nem que eu virasse o mundo o contrário
Daria para medir, saber, esboçar.
Alguém, como eu, desconhece, numa vista frontal
O seu crânio, seu cabelo, tal como são?
E conhece seus buracos
- só na cabeça contam-se sete-
Afora os outros por onde se mete
Nosso temor, dizer explorar.
E os seus encontros de mãos e pernas,
Como uma árvore, quem conhece?
O por trás todo, ninguém sabe o que é.
Sabemos dos outros, também minúcias,
Nada de definido se sabe
O que conhecemos de nós mesmos
Também os outros conhecem,
E somos mais conhecidos por eles,
Do que por nós, da mesma forma inversa.
Se por fora de nós pouco sabemos,
Imagine um devaneio por dentro.
TE ESPERO
Te espero desde o início do começo
Desde o tempo dos lampiões de gás
Desde o primeiro samba, a estação derradeira;
Fostes sempre o meu amor tristonho e sensato
Por ti me embati com a vida
Matei mitos intransponíveis
E fiz de pedras quentes flores orvalhadas.
A terra tocou o céu
Com a grande cauda de fogo
Mares se juntaram pra te refletirem inteira
No começo do nosso fictício amor.
Dura e sublime criatura
És o modelo renascido
Das tantas mulheres invisíveis
E ao mesmo tempo, mansa e de carícias
Nosso amor corre para uma luta
Ao toque de valsas muito antigas
A abertura do sol será a nossa estrada
Desvanecidos de paixão
NINGUÉM
Quero ser ninguém no aprendizado
Da vida que começa com o meu choro
Quero passar alheio aos olhares
Também não quero ouvir comentários
Sobre quem olha pra outros lados incisivos
Desejo não sejam sobre mim aquele embuste
E meus olhos se aproximam da frente
Incontestável lugar que causei
E minha cara, falhos dos meus olhos
Marcam cortes profundos como veios
E me tornam o olhar pequeno e rude.
OS MEUS PROVEITOS
Eu amo tudo o que fiz
Porque eles me apontam agora
E sabem do meu nome
E se compõem de um tanto de mim.
Eu amo o que não fiz
Porque eles me apontam o jeito da feitura
E minha cabeça racha-se em pensar
Será mais bonito, terei mais sabido
E tudo o que eu fiz
Para me felicitar ainda mais
Se deram às pessoas do mundo
E muitos delas falam de mim
E sabem do meu nome.
Tudo o que eu ainda não fiz
Agora está pra ser feito
E eu já tenho os modelos
Um depósito cheio de manequins provadores
E o que eu vou fazendo
Vou sabendo em que cabeça caberá
Como uma coroa encomendada.
ACONTECE
Chamaram pelo meu nome e eu atendi
Mas não havia ninguém daquela voz
Não encontrei ninguém na sala
Enganei-me pensando: vem da rua
Só que era domingo o dia triste
Quando as pessoas dormem
Umas por sobre as outras
No conforto e na preguiça próprias do dia.
Ninguém bateu à porta e quis entrar
Sentado à minha frente
Discutimos futebol
Falamos de poesias.
Posto o espelho no meu quarto
Fui ver o meu rosto, meu aspecto
E ninguém ocupara o espelho
Especioso retocava os meus sinais.
“Amigo é aquela pessoa que deixa o que traz na mão a largar tudo no chão, só para te abordar com um abraço enfalço”.
“O homem incompleto
É o que deve ser o mais feliz.
Ele tem o que buscar
Com o que se ocupar
Procurar a matéria
De que se faz o humano
É história para cinema cibernético.”
“Me citaram o conceito da vida e me falaram de suas matérias e do seu destino. Ai eu perdi o encantamento que tinha por ela.”