Naeno Rocha

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VISIONÁRIOS

O teu coração ateu
Dissertava com as mesmas coisas
E a mesma disposição geográfica, o céu.
A dura paixão de Deus,
Resistência de sua eternidade
Já neste plano, o mundo igual:
Ódio Americano marcado
Nas teimosias, do teu coração
Latino-americano, África-sem-valor.

Restrito, ao plano incompreensivo,
Relutou sem negar o abismo
Que por ele todo tu andarias
Até ao mínimo que te coube
Enquanto os aludidos sábios
Diziam saber do homem
Saber de seus destinos, mais que tu.

Nada, de nascimento
Fé, trabalho e sonho
Do teu quinhão difícil
Contrário à morte, lutador.

Da visão tida, de Deus
Dissestes a todos, uma vez
Será sempre, sempre sem fim
A obra inacabável,
A visão turva, ali, do futuro.
Não, nunca será verdade
A forma como nos permitem
De saber do infindável.

Contrastante dessa possessão
Eu te daria o bom descanso
A ti que comes teus próprios sonhos
Na altura desse outro mundo
Que realiza o homem novo
Em partes mais fundas, agora
Com a desocupação do fosso.

Inserida por naenorocha

"Deus encoraja o meu coração, ele vive triste de medo!"

Inserida por naenorocha

A CIDADE DOS MEUS OLHOS

Já houve um tempo em que da janela,
Se via uma cidade projetada na calçada,
Um espaço curto e fraterno,
Onde as pessoas se acenavam de perto,
Beijavam-se de perto,
Despediam-se de perto,
E se abraçavam várias vezes no dia.
A janela existe com uma fila de jarros,
Com flores silvestres, tiradas dos beirais das serras.
Meus olhos me arremetem ao tempo da Cidade,
Agora esverdeada em sua base,
E colorida em seu cume.
Mas deu noutro lugar diferente.
As pessoas de dispersaram,
Alguns venderam outros compraram,
Pedaços, vãos inteiros de terras.
E tomaram distância umas das outras
Ainda bem que resistiu o amor.
E elas agora se beijam de longe,
Acenam-se de longe,
Despedem-se de longe,
E quase não se vêem.

Inserida por naenorocha

CURTO

O que me faz contar em versos
Ser este prospecto que ninguém ler todo,
É uma pressa que conta a minha alma, em desassossego
É medo de perder-me enquanto me alongo,
Fazendo um simples ponto curvar-se em circunferência.
É um temor cruel de que ninguém me entenda,
Mesmo que não estenda ao que quero dizer,
E disso mais, sendo uma sinopse
Escrita, me utilizando do que de bom aflora.
Agora mesmo não saberia contar,
Que estes versos são escorridos dos dedos,
Que a maravilha perdeu-se com ele,
Pro fundo foi, na areia se escondeu.
Eu escrevo coisas curtas, mas que não são breves,
E elas se alteram conforme anda o mundo,
Nesta marcha lenta, que a todos engana,
E mais faz motivos, e mais guarda lembranças.
Quando escrevo torno na margem da direita,
Não é temendo um louco desgovernado, vesgo
Que do outro lado rasga-se e buzina
É que ser preciso nos dois sentidos impossibilita,
As palavras cruzarem o tempo e a vida.

Inserida por naenorocha

AS HORAS

Enquanto passam-se as horas
Os dias vão se acumulando despejados,
Os anos que conto, são por ali separados.
Os minutos vão-se como penas ao vento,
Deles nada escrevi, não tomei nenhum assento.
Enquanto as horas se apressam,
Eu junto tudo com lentidão.
Tudo quer estar disposto em seus lugares.
A minha cadeira de balanço
O pêndulo onde eu tenho montado
Contando horas,
Contando tempo,
Contado dias,
Remando com o pé nos pedais,
Indo contra e a favor das marés
E o que passa, que eu conto,
Ninguém vê, nem sabe o que é,
A ânsia da espera, o medo da cara aberta,
Cabelos que não sei a cor,
Olhos, que imagino claridade.
E a minha idade, alguém contou,
Todos os segundos
E a hora por chegar...
Por que contaram de mim
Assim, desanimado?

Inserida por naenorocha

TEMPO DE PAZ

É necessário lembrar-se de tudo
A todo tempo tudo seja lembrado,
O levante das mãos, o último abraço,
O primeiro sorriso aberto no mundo.
É preciso de nada se esquecer,
Da casa fechada quando é pra sair,
Das portas abertas quando é para entrar,
Da rosa pesada que entortou o galho,
Olhar se o esteio não a deixou cair.
É imperioso a todo o momento estar atento
Não só aos perigos que vazam dos jornais,
Não às reticências que alguém tem
À tua pessoa e a outras,
Não aos espinhos que protegem flores,
È estar atento ao amor deserto,
O que necessitas, a lágrima certa,
Aos necessitados também do teu amor,
Do amor que ferve, e do que se aquieta,
No fundo acomodado. Os necessitados,
Os fugitivos de seus amores,
Perseguidos ainda, e ainda sentem dores,
Dos malefícios de outrem
O infortúnio da diferença,
Que há olhos que vêem.
É preciso estar atendo aos teus,
Que ele não se tornem olhos de cachorros,
Que vêem preto e branco apenas,
Não previram uma aquarela,
Se sim, assim, eram mais singelos.
È necessário estar atento ao tempo,
Que pra tudo há tempo, amor e lugar,
Pra se fazer o bem, descomprometido e franco,
É preciso andar a uma distância dos barrancos,
Reparar nos flancos, se já é tempo já,
De repor o mundo, a dor, de procriar,
De estreitar-se a cama com um só cobertor,
Esses cuidados todos que Deus nos delegou.
Se fores estéril, que não seja de amor,
Pois não fará falta um filho, do que muito restou,
Poderão ser teus outros estéreis de pais,
É preciso estar atento, no tempo de paz

Inserida por naenorocha

FLORES


Uma flor na sua cor possível
Abre a mão e colhe o sol
E aí se vê nascida
E sua cor. É amarela.
E suas pétalas são longas
E seu galho é marrom,
E o seu perfume desejável.

Uma flor de cor impossível
Combina matizes
Lançando umas sobre as outras
E fica o sol a insistir
Amarelo.
E suas pétalas são longas
E seu galho verde jurema
E o seu perfume é perceptível.

Uma flor que se arranca
Para limpar o lugar das outras
Abre-se e o sol a acolhe
E dá-lhe um amor voluntário
E a leva num relicário
Para enfeitar seu plantio
E muitas delas planta.

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QUISERA

Quisera dormir um sono solto
Encabrestado
Seguro em minha própria crina
E resvalar nas nuvens
Como ave leve
No levante do dia.
Ser teu amor nesta quimera
E cogitar sonhos na primavera
Vendo jardins inteiros
Entregando-nos roseiras,
De puras flores,
De vida e cheiro.
Caminharia contigo até
Nos cansarmos com o dia,
E que ele pedisse uma parada,
E nessa distância
Fosse algum atalho
Rumo dos mesmos pontos
De onde houvesse largado
De tua mão a última ponta de dedo,
Uma vontade de não querer ir.
E nesse engano voltasse a partir
Pro mesmo sonho, a minha vida.

Inserida por naenorocha

BOCA


A boca presume mentiras
Dos dentes que falam verdades.
Há um céu de bom descanso
Estrelas que ardem de brilho.
A boca se espanta com o beijo,
E beija as bordas do mundo
É ela que se faz distante e fecha-se
Numa soberba contração, dormindo.
Fico com a boca por uns dias, calada,
E fecho-me em meu coração
Clausura aberta,
Esperando que tua boca incerta,
Finque no fundo da minha.
O que regurgitas.
Amor, amor, amor,
Não queiras quem já andou perto,
De uma boca, do seu ventre quente,
Dizer não, porque coça o desejo
De um mergulho lá das estrelas,
E dividir bem no meio a terra,
Matar suas feras,
Pelos seus dentes.
Queda, boca ao meu destino
Aprofundo-te no silêncio,
Apenas, passando perto.

Inserida por naenorocha

MAR MORTO

Na procela os ventos se quietam
E passam horários de ponteiros livres,
Rodopiam as horas porque o tempo embala
O mar bravio que se separa.
Deixando à tona superfície velhos lunáticos
Com talheres de ouro, candelabros de prata.
No mar das tormentas
Temperou-se o vento
E não quebram ondas
Por sobre os rochedos,.
E virão peixes à superfície,
Entregar-se aos pesqueiros
Como no milagre.
E serão partidos ao meio
E o resto será jogado
Pra que outros peixes comam,
Na confortável areia.
Rompeu-se o mar,
E o farol faz um rastro fino
Que agora é um caminho
Não marés, não mares, não águas.
As praias serão habitadas
Por pássaros silvestres amazônicos,
Ou babilônicos que aportarão aqui.
Calma demais caminhará a onda
Porque sabe, vem e não volta mais.
Aqui há sede, a sede dela,
Onde se perpetua um deserto calmo,
De cá agora se vê Portugal.

Inserida por naenorocha

GUERRICA


Com a investida das feras
E a procissão silenciosa das formigas
O predaor toma distância de proximidades.
Esperneia,
Faz como quem vai desistir,
Hiptoniza.
E já se aproxima de mim
Sou um Colizeu, só ruínas
De espada e esporas,
E um lastro podre sob os pés.
O inimigo é uma fera larga
E eu prentenso em minha defesa
Não o olho, estou na luta.
Nas tendências de gestos, embaraçosos.
Na fricção do joelho na outra perna,
O lamento do golpe acertado.
E o tempo conta. Desce a linha da sombra
E vai o rival crescendo e eu descendo.
Pobre de mim, tudo que vem é contrário,
É doloroso, é arbitrário.
Armas que não se negociou,
Surgem de todos os lados do meu escudo,
E se renova o seu fulgor,
E eu me abato, e saio,
Caçando becos, olhando lados.
E não feri, mais que em mim dói.
É preciso lutar contra este deus mortal,
Que não se cumpre, por gestos nem palavras.
O que faz de mim,
Ou o que permite que dele, faça.
Somos dois exaustos
Escorados pelas cabeças,
Pelas tabelas. E a prenda bela,
A recompensa, saiu pra retocar o rosto,
Enquanto o díspare roedor,
Deu mais uma volta
E volta foi, de não voltar. Foi lavar-se na foz da rua.
Eu marquei o chão com a minha cor.
E o devaneio por embates,
De ser guerreiro embainhado, escudado,
Piorado em meus prós e contras.

Inserida por naenorocha

O TEU SORRISO

Foi o teu sorriso aberto à minha frente
Que despertou em mim uma vontade
De querer entrar e morar lá dentro,
De ser conhecedor de ti, no profundo,
E permanecer o meu tempo de mundo.

Foi o teu sorriso claro que encantou minha alma,
E ela se largou primeiro no mesmo impulso de ficar
Por ai, amando-te por dentro,
Sendo um órgão teu, puxando pra ela,
Os cuidados de tua vida.

O teu sorriso abriu-me a porta e a visão,
De um lugar seguro,
E minha vontade era ficar em tua boca,
Morando em ti. Entrar tirar as roupas,
Um desabrigado, que encontrou um lugar.

Um sorriso desses de mil faróis acesos,
De paixão cativa, mansa, hospitaleira,
Uma brancura que pra todo lado dá,
A sensação de que estão mudando,
Pra outro espaço branco, o céu.

Inserida por naenorocha

AURORA

Mesmo antes de se projetarem os homens
Já a aurora de olhos róseos
Surgia todas as manhãs
Como experimento, por obrigação.
Como fora antes dos tantos olhares.
A minha aurora baixa num cordão suspenso,
Um fio tênue, leve e só a ela se vê.
E pelos ventos descidos, frios.
Ela se posta, se assenta no chão.
E num rompante se dissolve,
Absorve-a inteira o sol, na sua vez,
Como uma clareira, buraco claro
Farol de carro dentro da noite.
Desde o princípio o sol tem esse papel e acata a ordem.
Não falha nunca e recebe o dia
Das mãos da aurora
E se entrega à tarde, se adiantando,
Que não o recebe e aguarda a noite
Um manto negro que tudo cobre,
Vazando apenas pelos poros do corpo, as estrelas.
Como se vê, são sempre claros
Os cumes do mundo e tudo ao céu,
Como tem luzes ante a cobertura,
Que prima o céu.
Logo vem a aurora, na sua hora.

Inserida por naenorocha

TARDE



A tarde estava cinza e feia,
Oscilante em seu humor de tempo.
Entre o crispar das folhas sentenciadas,
Às sombras ligeiras e ardentes,
Iroconicamente posta sob a copa das árvores,
Da mesma forma como se concebera fossem,
Frias e acolhedoras.
Mas aquela tarde era desigual,
Uma tarde que veio enfear as outras.
Ninguém mais lembrava
Que existiam tardes belas,
Por causa daquela.
Imponderada, indesejável, chata.
E todos ficaram saudosos das manhãs,
Mas ela insistia em se demorar naquela tarde,
A tarde repulsiva e cinza, cinza de resto de fogo,
Que ainda fumegava,
E prometia ir ao tempo em que durasse o seu tempo,
E mais além,
Confundir a noite e meter-se adentro.

Inserida por naenorocha

EIS-ME



Aqui me vedes, aqui me tendes.
Com todos os defeitos de antes
Com todos os contados dentes
E tudo esperando o instante.

Completo em meus defeitos vistos,
Um absurdo que se engole seco
Eu que dos modelos disto
Roçando a barriga nos becos.

Sou eu este ser temível e dócil,
Que beija e a minha boca adoça
Uma marca que perdura e coça
Que nunca me extingo, um fóssil.

Como a madrugada, ou uma ameaça,
E que venha o dia e o sol renasça,
Um cúmplice do tempo uma morrasca
Do que foi uma fruta, apenas casca.

Inserida por naenorocha

REVÉS

Se a vida se obtém com a morte
Por enquanto aqui na terra
Somos vivos que não falamos,
Não amamos, não sentimos,
Vivos sem sentido, sem sentimentos.
E não expressamos reações
De dores, angústias, amor e ódio.
Passamos um infindo ócio,
E nada realizamos, nada enxergamos.
Partidos de um vácuo extenso,
Pingentes leves que à frente nunca tendemos,
Só ao chão, o lastro processador,
Quando caímos.
Se a vida é após a morte
E desta razão os homens mortos
Ressuscitam, contrariando
A própria consciência divina.
Que ao seu juízo somos todos vivos.
Mas como a morte que se anuncia
É vida, é morte, a nossa condição na terra,
Somos mortos de olhos abertos
Zumbis criadores, mostos que vivem,
Mortos que temem o revés,
A vida.
O homem vive da morte e espera
A vida numa condição de passado.

Inserida por naenorocha

FALA

Sei pouco do que pensam que sei
Se falo a evitar o silêncio
Que se veste das vestes da morte
É que temo estar morto, e sem saber
Falando sei que estou vivo,
Estando calado, quieto, forjo um sorriso
Só para verem que ainda estou vivo.
E por desatino assim determinei pra mim,
Que a vida é a fala. Tanto que o morto cala,
E o seu silêncio definitivo é escabroso,
Afigura-se uma vontade de não mais falar
Estampada no seu rosto.
Também não e dado a quem já foi,
Deixar sua voz, outras palavras
Que tinha por dizer.
A morte é uma surpresa
E se percebe quando a boca se fecha,
E o coração se cala, como se tanto fez,
O que fez e sentiu, e tanto faz
O que não resta mais.
Qualquer estória, em qualquer pé
É um bom motivo pra parar,
A sua história fica pra quem bem quiser,
Falar, contar.
Calou-lhe a voz, foi-se a foz
Que espargia palavras, vida,
Que vida é falar.

Inserida por naenorocha

QUANDO

Qando, amor,
de novo eu vou te ver.
Não suporto mais
tanta saudade.
Eu dei, prá contar o tempo,
pra sonhar com o vento
que o teu cheiro traz.

Quando, amor,
de novo, é que eu vou ter,
teu corpo inteiro,
enchendo o meu abraço?
Aí eu, estarei no céu,
tirarei teu véu,
choro nunca mais.
naeno

Inserida por naenorocha

LEMBRA

Por todas as ruas,
Onde ando sozinho
Eu ando sozinho, com você.
E você que nem se lembra mais,
Se lembra?
Do jeito que eu fui, tão dedicado, meu amor,
Vejo com saudade,
A rua, a cerca,o espinho, a flor.
Tantos gestos fizprá lhe falar, lhe ver sorrir,
Você selembra?

Ainda ando sozinho,
Eu já nem sei se ando,
Eu ando sonhando como você.
E você que nem se lembra mais.
Se lembra?
Do jeito que eu sou,tão complicado, meu amor,
Fico encabulado, quando vou pegar uma flor,
E há tantos gestos mais,
Pra lhe falar, e essa canção
Prá você lembrar.

Inserida por naenorocha

MORENAS MAGRINHAS
feito pra minha mãe

Fui morena magrinha, jeitosa,
Toda roupa me vestia bem.
Todo brilho de luzes, de ouro,
Combinavam com os olhos qeu tenho.

Toda flor era bem no cabelo,
Todo homem a me arrodear,
Os olhares, os mais sedutores,
O jeito mais tolo de me conquistar,

Nem parece, sou eu bem de frente
Do espelho que mora em meu quarto,
Me achando apressada no tempo
E me vendo mal acostumada.

Como as rosas tão murchas no vaso
Recurvadas, dizendo que a vida
É uma herança constantes de odoeres,
De belezas, Morenas Magrinhas.

Inserida por naenorocha

O homem perde muito tempo, vida, perguntando-se de onde veio, quando mais próspero e proveitoso seria perguntar-se aonde irei?

Inserida por naenorocha

FOMOS

Éramos dois donos dos mesmos sonhos,
Éramos de nossa mesma luta diária,
Éramos de amor, uma grande colônia,
Que se refazia nas noites por mãos solidárias.

Éramos de pão e vinho, de um Deus que se doara,
Éramos como a flor e o espinho, ali chegados,
Eram nossas dores partidas ao meio, choradas,
Eram nossas as mesmas lágrimas, que nossos olhos molhavam.

Éramos como mãos seguras no mesmo cabo,
A força depreendida, o que realizávamos,
Do estampido amor, dínamo, do tempo arado,
Fomos os plantadores dos primeiros ramos.

Fomos até hoje crepúsculo, e manhã nascente,
Somos complacentes das dores que passam os outros,
Somos com a faca e bainha, que se cabem,
A não deixar espaço, e somos o ferro e o couro.

M O I S É S

Progressivamente o silêncio foi tomando conta do mundo, onde caminhavam com passos leves aqueles itinerantes que já procediam de vários lugares do mundo, e tinham passado pelos mesmos pontos, para de onde estavam, davam. O guia sumira do meio de todos e tomara a parte inclinada do cheia de cratera, do lado direto, que já fora confundido com o mesmo lado esquerdo em suas voltas atormentadas.
Todos quietos esperavam o retorno de Moisés, que fora ao encontro de Deus, se atualizar de novas instruções, de como deviam ser guiados a um lugar completamente distante e cada vez ficando mais e mais longe. Uns variavam e juravam que aquele ponto onde estavam assentados para aquele resto de dia e a noite inteira, ele já conhecera nas tantas voltas que Moisés lhes impusera darem, para que se cumprisse o tempo determinado por Deus que durasse a caminhada.
O que se considerava era o tempo não o vão caminhado. Mesmo que tivessem de dar várias voltas no mundo. O homem haveria de purgar-se dos seus erros, de suas de atos e coisas, so que Deus abominava. Por isso agora lhes castigavam duplamente. Todos estavam mais velhos, alguns mal conseguiam trocar um passo, outros nasceram e cresceram na ambulante e não sabiam ao certo como era o mundo que alguns lhes tentavam fazer entender. Para eles o mundo era uma gangorra sem controle, que nunca lhes davam parada para descanso e que o descanso que teriam seria o daqueles velhos lá de traz, chagas e poeira por todo o corpo. Falta de forças, voz rouca e só provavam do maná de Deus, por alguém sempre lhes trazerem, ordens expressas de Moisés.
De repente Moisés aparece por entre os blocos de barro, descendo com pouca habilidade, enquanto alguns abaixo, ficavam, muito ansiosos, fazendo os gestos que era para ele fazer lá encima, como que lhe ajudando a descer. De uma escorregada final, que levantou muita poeira, Moisés saltou no caminho plano onde se encontravam os outros, em condição de miséria.
Havia uma ala já praticamente dissidente de Moisés, que lhe lembravam, da preocupação que tinham, porque Deus só se preocupava com o maná. O leite e o mel. No entanto, diziam, que não haviam ainda visto por parte de Deus a preocupação com a saúde, o estado de ânimo de nenhum, e isto lhes deixavam em condições de desproteção, uma vez que nem só de comida vive o homem, expressão que Cristo viera a utilizar muito mais à frente, mas essencialmente da palavra de quem da boca de Deus. E Ele não lhes falava, não lhes aparecia, e havia uma distância muito grande entre a fila de desertores e o seu Deus. Muitos já ficaram abatidos pelas intempéries do tempo, pelos malefícios dos esforços repetidos, das dores sentidas dentro, muito profundamente.
Moisés se recompunha, pegara das duas bandas de uma laje que havia se partido na queda final do guia. E lá, estampado, de forma clara e magistral, uma forma de pena para aqueles coitados.
naeno*

Inserida por naenorocha

Como Sou

Sou, como sou, poeta
Vivo numa linha reta
Num paralelo de mim.
Vou, como sou, sozinho
Um rio que não se encontra
Que faz a curva no estio
E se deságua na sombra.

E eu sou igual a outros
Atordoados, despertos.
Que vêem o céu refletido
E acham a lua perto.
Sou como uma saudade
Carícias na minha idade.
Eu gosto do pranto
De ver chorar.

NO MUNDO

Quando eu sair pelo mundo
Assobiando essas cantigas
Que por amor aprendi.
Andando por caminhos ermos
Entre os cupinzeiros demarcados
Entoando os meus delírios
Que no meu violão arpejo.

Quando eu andar pelo mundo
Chorando dessas cantigas
Silvando, que pássaro serei?
Aprendendo com a falta dela
Eu acho até que mereço
Contar por meus sofrimentos
Em lugar nenhum ainda dei.

Ficando eu pelo mundo
Lembrem de mim como eu sou
Um passarinho roçando o rosto
Nos galhos molhados da chuva
Sibilando um canto lindo.
Lembrem de mim na canção
Não me tomem por assombração
E terá doído mais um desgosto.

Inserida por naenorocha