Naeno Rocha

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O amor requer mil jeitos de se chegar e dar, e um vai ter de começar.

Inserida por naenorocha

Não acredito mais no amor
Assim jurado e não cumprido
Minha resposta é sempre verdadeira
Prefiro ir só no meu caminho.

Inserida por naenorocha

Se alguém quizer me ver chorar
Fale o seu nome uma vez
E me recorde aquele tempo amargo
O grande mal que você fez.

Inserida por naenorocha

PICASSO

Quem observa a invenção de Picasso
Ver linhas, curvas, traços, compasso.
Sente a ligadura de pontos, a largura
Do corpo desproporcional e ver algo
Incomum na terra, uma paz desenhada.
Ele como que escancara o consciente
Mostrando à vista o inconsciente
Pelos homens tão temidos, uma aquarela.
Quem ler Picasso ver a genialidade
Comum dos escolhidos e sente a dimensão farta
Do juízo agoniado pela maldade.
A idade da razão soterrada no alvoroço
Ou a comoção manifesta ao coração,
Como se não fosse ele, mas dele toda a razão.
Quem determina o caminho
Por onde se esvai os pincéis, é Picasso
E por se saber, foi o que foi, é o que é
Um gênio que ainda não foi enterrado
Posto que ainda não morreu
E certamente nunca morrerá.

naenorocha

Inserida por naenorocha

NUDEZ

Belo o teu corpo absoluto, nu.
O que não te revelas, despida,
Vê-se forma a beleza mais nítida,
A cor do teu olhar, de extremo azul.
Linda quando andas displicente,
Sem perceber que no teu redor,
Choram por ti, todos os olhos cheios deste pó.
Um alucinante vestígio que escapa,
Como uma réstia de luz no telhado,
És assim, a gota, o tudo que faltava,
A transbordar as taças dos embriagados.

Belo este teu corpo sólido, imenso,
Em consistência e beleza cândida,
Que nem a lua num fogaréu de incensos,
Se tem mostrado, com o apelo, lânguida,
Fosse eu teu um protetor de luz,
Me postava em riste, em tuas posições,
Sombreando a pele, que a mim seduz,
E te revelando tudo, todas as emoções.
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naenorocha*comreservasdedomínio

Inserida por naenorocha

LUZ

Que mulher é essa
Que chega trazendo o dia,
Acomodado em seu regaço,
Todos os sonhos malogrados,
E sem mostrar nenhum apego, no solo enfia
Como a pouco tivera um parto sangrento,
Desses indesejáveis, pesadelos,
Que não lhe deu tempo
De tomar nos braços o alijado rebento,
Trouxe-o para fora, e límpida,
O expôs à aurora.

Que mulher é essa
Que cuida de todos os sonhos,
Que se predestinou dar o melhor de si a nós,
Poucos merecedores, do tanto que somos rasos,
E por mais vezes agimos como um ser ignóbil,
Assim, por bondade não vê, que somos pele
Do mesmo tanto que somos carne
Desprovidos de coração.
O tempo que Ela presenciou, tempo que era,
De indumentárias de santos e sem ação,
Que justificasse o transtorno ao amor dela.
Que mulher é essa
Que traz nos braços o alvor
E semeia no tempo, a que as almas se vejam
A que os homens não errem os caminhos agora,
E não tropocem, a cair, sobre seus erros próprios.

Inserida por naenorocha

DESAFORTUNADO

Eu conheci a casa de um desafortunado
Nela vivi quase toda minha vida,
Apanhei gravetos para os invernados,
Puxei gavetas e guardei retratos,
Um arquivo morto de mim retirado.
Eu andei por dentro da casa cumeada
Tropecei pelos atalhos, cadafalsos
Troquei uma vida, que me dera, inventada
Por uma que eu vi de perto, andando enfalço.
Fui o primeiro desordeiro do motim.
Não tive nunca uma gota de raiva,
E foi assim, andando dentro e fora dos pântanos
Que hoje dou graças à sorte fora de mim.
A imaculada virgem, mãe da Conceição
O meu amparo, de quem mais eu vi nos olhos,
A minha amada, o tempo todo cortando a rota
Dos desamados, sempre me trouxe por sua mão.
Fiz pisoteio até o cultivo dos desgarrados,
E vi a festa da colheita das formigas,
E disso eu disse, com o coração e alma aflitos,
Não me descanso, mesmo quando estou sentado.
E da lavoura que os cupinzeiros demarcavam,
Umas espigas de milho bem debulhadas,
Pus o sabugo como mastro da bravata,
E lutei só, com Conceição, nela amparado.
Olha-me Deus, no que escrevi,
Eu relatei a minha vida e Vos traí,
Era um segredo até à outra por vir,
Até cansar, e cansado, aqui cair.

Inserida por naenorocha

ACASO

Acabo de gritar que te amo
E te desvendastes uma montanha vazada
Passaram-se minhas intenções, quietas
Meus malogrados gestos de amor.
Ainda balançam as folhas
Essas me amam!
Do teu desprezo não tiro nada
Nem acresço, por não dispor
De um pingo sequer, a por no olho
Para que não vejas minha choradeira
Voltando a nascente as ilusões desfeitas.
E fica cheio meu coração novamente
Um coletivo de vexados passageiros.

Acabo de falar para o silêncio
Que calado assim te amo
E a resposta que eu tento
Não sai, não se concebe
E mais real fica a ilusão
Do teu corpo formado de nuvens
Singrando o céu inatingível.
Procuro por Deus e Ele, calmo
Responde-me, fincando na minha alma
Que o amor é meu, que o amor sou é eu.

Inserida por naenorocha

AMANDO
Amor é a recompensa de quem encalça
Com os quatro cantos dos olhos
Passando por cada pelo, a luz .
É este amor, que se ganha, cego
Uma recompensa do fim do mundo
Passantes trovões que não enfeiam
As tardes, em tempo, de verão.

O que vale o preço e a pena
Dos segundos contado das horas
Arrepiado furor, que já se espera
Amando, amado, pela boca.
Amor é o que se colhe
No ínfimo tempo, tempo de choro.
Tantos riem também da mesma dor,
Que se puxa pelos olhos, o amor.

Inserida por naenorocha

AMANDO

Ontem as vinte e duas horas e quarenta minutos
Horário oficial de Brasília
Eu estava ardendo em febre, suando.
E na tiragem dos meus ais contados
Uns vinte e tantos mil, falei, lagrimei
Aos teus ouvidos.
E de febril, o meu remédio
Tomei por tantas horas, em tantos goles
Até me embriagar e cair sobre o teu corpo.
Amando-te libertino, suei
A febre não passava
Passavam-se tempos recorrentes
Já pela madrugada, ainda eu te desejava.
E pela manhã, eu te ordenhava
À hora da voz do Brasil
Em meu delírio, uma poldra branca
De crinas alvas e esvoaçantes
Carregava-me sobre seu dorso.
E eu galopei por mais dez horas
Sobre um leito de areia fina.
E nas esquinas por onde andei
Espantava-me o medo, de cair
Por tua cabeça,
Quando te inclinavas a me beijar
Fazendo. Aproximadamente
Um tempo impreciso, imenso
Sem que o espólio se cruzasse.
Eu seguro na tua crina
E nos meus flancos te segurando

Inserida por naenorocha

AMAR

Amar é fogo de onde se tira brasas.
Amar é um desejo de ser despejado
Acenar aflito à condução já atrasada.
Amar é pender de um lado,
E do outro desapoiar-se
Amar é dose, tirada da boca aberta
É ímpar, o primeiro numero.
Amar é dar a cara dos dois lados,
A moeda que não cai em pé.
Amar é armazenar amor,
Amar é algo provocador
Que não se contém, como dor,
Uma vontade de ser doador,
De sangue de amor e flor.
Amar é da primeira pessoa,
É transitivo a ela, e só.
Amar é querer conjugar, colar ou meter-se,
Dentro e fora.
Fora e dentro, é amar.
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Naemo*com reservas

AMOR

Difícil falar do amor.
Ele fugidio, abstraído, confuso
Um nome dado a um sentimento
Sintomático da Silva
Dos sobrenomes todos da vida.
E de que forma este vulto toca na gente
Acompanhando a multidão dos tristes
Na legião dos rebelados
Rompidos a sangue e fogo
Com suas práticas sentenciadas?
Difícil dirigir-se a ele
Pairar sobre as montanhas
Às vezes ir muito além
E gritar por muitos nomes
Até que se explane o nefasto
A má obra, peça inacabada
E como se anunciarão seus dentes
O seu semblante como se verá?
Algo deplorável, compassivo à dor.
Desconfiável, improvável que assim se mostre.
Achegando-se como uma presa astuta,
Pulando de galho em galho, irritadiça
Fazendo caras e bocas, brincando à toa
De nada ouvindo, tudo calando,
O amor vem das visões de barcos,
Em pleno mar, que ora aparecem,
Ora escondem por trás das ondas,
Em descompasso, com os olhos turvos
Que sobem e descem desesperados.
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naeno

Inserida por naenorocha

MEUS OLHOS

Meus olhos não dão conta de vêem
O tanto de silêncio ajuntado
Encima de tudo, camada espessa,
Massa profunda, cheiro sem cor.
Meus olhos não cabem a visão
Dos teus, simulação de vertigem,
Porta fechada, desabrigo,
Corda fornalha, os meus tição.
E não dão conta da claridade
Luz de eletricidade,
Sem tamanho.
Nem choram o tanto dos teus,
Lembrança que me faz tentar,
Um choro, um pingo... Não sai.
Meus olhos não são do mesmo tamanho
Da solidão, sol a pino,
Quando de um galho de cima
Um passarinho me lembra
A calma do teu amor,
A lentidão do teu beijo,
O interesse regressivo,
Por ti, que já contei em resposta.
Por mais que eu abra os meus olhos
Tentando a visão do que sei,
Envolto em mim, passeia e queda,
Não, em altura, em largura
Em comprimento e fundo,
Eles decifram a visão do mundo compacto,
Que minha vida é.
Um alqueire, talvez menor,
Uma testada, talvez, menor,
A casa dos anões, talvez menor,
Mesmo em sendo, meus olhos,
Ainda são muito menores.

Inserida por naenorocha

OLHO PRA TI

Olho tudo em ti, todo o teu corpo
E me revelam uma limpeza
Que fizeram no céu.
Estrelas em devaneios, tontas
Que caíram e te pontilharam de sinais
Os quais poderia alcançar, até por minhas mãos
Tua nudez não mostra tua displicência
Ou um sono de noite.
Há nuvens que te cobrem
E um branco espesso
Em que às vezes me afundam
Ao palmilhar o tamanho
Da mais bonita visão desses tempos.
Tua boca aberta, não me deixa certo
De que meu nome tu pronuncias
Ou se tu te comunicas com o teu feitor.
Tu não és invenção, nem criação
De um quadro onde o artista
Aspergiu água em vez de fazê-la
Olho pra tanta beleza e não te sinto indiferente
Então não és o mistério que busco
Quando já estou muito perto do sol
E perigosamente me exponho
Para admirar, mais confuso ainda
A tua beleza difusa em perfeição.
Propositadamente deitastes
Na cama onde durmo,
Do meu lado de costume.
Mas só te faço alvo dos meus olhos
Não buscaria mais que isso,
Fosses tua beleza estampada só pra mim.

Inserida por naenorocha

FAROLEIRO

Eu faço versos como quem
Num farol, um plantonista,
Vê o céu muito além
E perto de mim uma vista.

Se vestem meus versos de espumas,
Uma nudez quase mostrada,
E os barcos que olho enfumam
Suas velas na alvorada.

Quanto mais claro vejo o amor,
Quanto mais densa a letra escoa.
Amor tem de ser motivo, uma dor.

Quanto mais turvo olha-me o vazio,
Mas me transformo em amor,
Meus poemas são desvarios.

Inserida por naenorocha

BICHO

Chamamentos de amor pelo silvo
Deixa o coração em polvorosa
Ficam os nervos de flor em pele
Com as mãos estiradas, em oferta.
Uivos de amor, quando é saúdo
Um cio de ardores pelo olhar
Um raio imprevisto, um pasmo
De não se querer acordar.

Amor será te amar, vitória!
Ou se volta a mão sem nada
Ou se fica aí por dentro
Latejando desarmado.

Quais das feras, a mais temida,
A onça no seu grunhido,
O cravo no escuro sumido,
Quem mais te bota medo?
E quem mais tira
Da nossa coragem inconsiderada
Dos nossos jeitos arquétipos,
Terá um mais presente e omisso,
Mas à mostra e invisível,
Que o amor.
A dor que queima e abrasa,
Um ferino que não cala
A ponta perto, o arpão.
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naeno

Inserida por naenorocha

EU E DEUS

Se me lembro alguma coisa pedi a Deus,
Que me deu a boca e antes de abri-la prometeu,
Que quem pedir mais leva, os cofos
Que se teceu.

Se me anina esta proximidade dele,
Muito mais me santifica pisar seus mesmos rastros,
E quando só, penso está sozinho, deste.
Eu me aceno, na pressa de Deus.

E o que me anima é o mesmo acima.
Autoriza o sonho, relaxa com a rima,
Deixa-me à vontade, para ser saudade.

Para ser da terra, o passo que eu escolher
Se quero viver, terei de morrer.
É só valer a vossa vontade.

Inserida por naenorocha

Falar com Deus é muito simples. Consiste em ficarmos diante dEle, apenas O contemplando, pois tudo o que queremos falar Ele já sabe no silêncio e na mesma calma Ele se fará ser ouvido, entendido por ti.

Inserida por naenorocha

O AMOR QUE SOBE

O céu se lança sobre mim como o teu vestido.
Um arrepiar de amor, correndo em nós.
Chega o sol e segue para a lua.
Grito o teu nome por todo o espaço
Para te acordar quando dormes.
És quem traz o meu ar
És tu quem floreira a terra
És tu quem desvia do fogo
És tu quem murmura nas águas.
És tu quem respira e vive por mim.
No teu corpo revive a estrela extinta
A água dos rios, dos mares é a tua saliva
O fogo se abranda nos teus cabelos.
Quando te abraço, estou envolto da única mulher.
Lua e Sol,
Origem berço, espaço.
No teu corpo ando da terra ao céu
Ele é um estandarte da desejada vitória.
Teu nome reconcilia todos os mundos.

Naeno

Inserida por naenorocha

O SILÊNCIO

O momento esperado, o silêncio das ondas.
O sobressalto que o mar não tem mais para agora
Enseja com a minha coragem e minha própria tormenta
De navega-lo, remando o meu amor
Singrando, faltando-me a visão do porto.
Ainda não me digas
Se pernoito ou sigo
Deixa-me ver teus olhos na manhã
A minha pressa são a claridade nova
A tua boca falando por mim
E o mar não me diz nada assim
Do modo impenetrável
Como via a minha alma
Que já se alenta e se acalma, e se detém
Fintando a tua face docemente
Do que já virou fagulhas
O mar é só um refletor
Uma lembrança mais perto
De todas as manhãs que vão chegando
De todos os sins que de tua boca
Correm no vento e vão se espalhando
Pingando este céu de águas
Molhando os meus olhos de esperança.

Inserida por naenorocha

FESTA

O amor quer fazer uma festa
E não vê espaço onde possa
Espalhar mesas e cadeiras
E deixar um espaço para os que dançam.
Seu corpo solto, de um amor criança.
O amor quer brincadeira, quer fuzueira.
Deixar cair de sobre os ombros
Os encargos da dor, do ressentimento.
Pudesse o amor ter calma e só amar.
Batuca os dedos no granito frio
Das encostas do parapeito
Perto da veia que trinca o coração.
Aqui o amor tem morado.
Quando se sente dono, mas tem demorado
Em amar, o exercício dos calejados.
O amor quer a festa, que já comece
O ritmar da dança.
Bate coração faz força na mão.
E começa por uma sonata de Mozart.
Mozart que fica quarto em quarto.
O salão da festa, ganha espaço, avança
Mas o amor não gosta, não queria amar.
E se contrai mais que se esvai
E o coração quer a alegria dele
Já riu sozinho, até o espelho
Já se barbeou ainda cedo.
O amor madrugou fazendo planos
Para no dia seguinte juntar-se
Aos todos amantes,
E ensinar-lhes de entusiasmos
O que está em voga
Fora e dentro, pelos corações.

Inserida por naenorocha

O POETA

Como não! Ser hoje mesmo
Me agarro nesta caneta
Para um poema dançar
É porque há muitos anos
Você levantava os olhos
Olhou com força pra mim
Depois levantou os braços
Me abraçou tão carinhosa.
Como não... se nem um dia
Pude esquecer-te quimera
Se a função sair batuta
Deveremos a você.
Se assente aqui, faz favor
Neste luar destinado
Às pessoas de destaque
No lugar de honra mesmo.

Inserida por naenorocha

TEMPO

O tempo tece a roupa que vestimos
É o destino suas mãos habilidosas,
Que em tudo muda os feitios, as aparências.
E o acabamento, a amarração firme
Dos pontos atravessados, ponto a ponto.
É este denominado assim porque,
Não é sujeito e também sujeito a nada
Mas tudo rege elevado da gente
E de cada um sente tirar, sente faltar.
Não é preciso um tratado de filosofia
Pra se chegar à conclusão efusiva
Que uma tesoura corta uma lágrimas
E que uma agulha segura a mão
De acalmar, de diminuir a enxurrada
O tempo urde, enquanto o tear manipula
E a catapulta armada investe-nos
À vontade é atravessar desertos,
Sobrevoar mares, ir mais que o tempo
Dele se iludir, e se enganar de novo.
Caçadas dentro de mim, já risquei fósforos
Iluminado o teu olhar me aquieta
Quando me diz é por ali a estrada,
Sinto-me desmotivado, me sinto imortal.
Se o tempo esconde os presságios bons
Os alentos das dores, que não nos põe na mão,
As duas feridas, de uma ferida a outra
Quatro chagas dissipando-se nos dois lados.
O tempo impune, não sei o quê,
Aprendi chamá-lo com este nome falso
Mas que existe e na passagem rouca
Pensa-se tudo, se corre da estrada.

Inserida por naenorocha

O TEU OLHAR

O tu olhar tem a mansidão do dia
Nas derradeiras horas do poente
Amarelando o céu de repente
À beira do abismo de uma note fria.

As horas passam vagarosamente
Em teu olhar onde mora a nostalgia
De um fim de tarde pleno de poesia
No qual o sol recolhe-se cautelosamente.

Em teu olhar agoniza o segredo
Que o silêncio esconde e guarda do teu medo.
Como se o resguardasse sua própria sorte.

São teus olhos ternamente enamorados
Carinhosos, tristes, brilhantes e apaixonados
Que inventam até esta paisagem forte.

PEDIDO

Uma coisa peço a Deus, e peço incessantemente,
Ser na minha velhice o mesmo moço que sou
Não com o mesmo viço, os olhos no mesmo brilho,
Não com a desenvoltura física,
Com as mãos pesadas de agora,
Com os mesmos cabelos na mesma cor,
Não com a mesma voz altiva,
O andar desenvolto, com os mesmos anos que conto,
Tampouco que o tempo pare para que eu permaneça só,
Com o mesmo olhar malicioso,
Com as ambições que alimento,
Não quero ser o velho renitente contra os feitos da vida,
Não ser jovem ardente, de sonhos imediatos, meus,
Nem desejar que o mundo me veja como um prodígio,
Alguém que rompeu as leis e permanece,
Incólume às intempéries do tempo.
O que peço a Deus e já faço inconscientemente,
É ser capaz das mesmas boas ações,
Dos sonhos, do bem querer, da alegria
Que sinto com a alegria dos outros,
É ser este mesmo moço formoso,
Preparado pra declinar.

Inserida por naenorocha