Naeno Rocha
AS BOMBAS
Vai-se a primeira bomba projetada
E vai-se outra, outra e outra em recorrência
E se estilhaçam no meio de habitadas
Uurbes, Países, em demência..
As retardadas ogivas que se demoram
E só agora as despertadas, vão
Partem como aves em vôo se entroncam
No desperdício caminho da visão.
Até os corações abotoados ocos
Montados sobre o dorso do mal calisto
Não retornam nunca e fazem pouco
Dos que desdenhados alvos ilícitos
Tendem mesmo à morte o corpo
O bojo ajuntado de farelos iscas.
Naemo
A VIDA RI
Ontem eu vi a vida sorrir,
Vi seus dentes da cor do dia,
E vi seus lábios na cor do entardecer,
Boca molhada como um grito novo.
Ontem vi que a vida existe,
Que a morte não pode com um sorriso,
Por isso é séria e sem graça,
Eu nunca vi a morte sorri.
Hoje a vida continua a rir,
Como se estivesse de bem com ela,
Como se a contivesse um cadim
Refletida num espelho se vendo nítida.
Ainda hoje a vida rir,
Como se a felicidade não acabasse,
Como se uma conquista tivesse galgado,
A de ser vida, em tudo metida.
Ainda agora escutei gargalhadas da vida,
E não se cansa em mostrar-se feliz,
E agora eu sei, está esclarecido,
A vida não tem planos para partida.
naeno
REZA
Puxo ou não puxo a ladainha extensa,
Sem que a pretensa vontade de ganhar,
Apareça em letras, formas. Que apenas
Aconteça um fato, algo pra se calcular.
Baixo ou não baixo a litania das chuvas.
Não que se deseje água ou coisa assim
Apenas um ritual que a alma saúda
E sempre se espera tudo isso de mim.
Desço ou não desço o terço que conta
Uma extensa estória de aves!
De Santas, de DEUS
No começo e também na ponta.
CALMARIA
Horizonte calmo
Sem promessas
Mar sem riscos
O silêncio se contém
E não quebra um graveto.
O barco segue
Sem que se ouça
Os batimentos das águas
Cortadas nos dois lados
Da embarcação.
Tento e não consigo,
Cubro a cabeça com a camisa
E não consigo ouvir
Os batimentos do coração.
Com o cuidado de uma agulha
Vejo o meu lado esquerdo
Subir e descer.
Será minha respiração,
Será do meu coração
Quietos, silêncio das mãos.
MEU OLHAR
Estranham o meu jeito de olhar
Que jeito eu posso dar,
Nos meus olhos e no meu rio.
Acham que quero morrer,
Porque solto meus olhos nas águas
E só os tiro no escurecer.
E que jeito podem dar
Pra darem ao rio uma feiúra
Que eu não suporte vê-lo.
Dizem que sou narciso
Erraram todos os adivinhos,
A beleza que miro
É da água, longe a minha passou.
O rio e eu nos conhecemos
Ele um pingo de uma fresta
Somos irmãos siameses,
Gerados no mesmo útero da natureza.
Quem vê a mim ver o rio
O mesmo ente escorregadio.
Às vezes água, às vezes peixe,
Barca encalhada,
Bandeira do Brasil,
Às vezes ponte,
E sempre amor, perplexidade,
Focos de muita saudade.
EU LA MANCHA
Amar um gesto que de tudo ébrio,
Permite-se no vento afundar,
E dar-se mais, ao que tiver na espera.
A pedra o risco de voltar jamais.
Amar perdido de amor tomado,
Puxado a vil monumento agastado,
A voz já rouca de implorar que deixem
Seus olhos verem se lhe cabe a cabeça,
A altura a forca que se vão largar.
Solto o destino, solta a sorte,
Larga-se sozinho espreitando a morte,
Que antes de abraçá-lo se compadece e chora,
Ainda não é hora, o amor vai se abrasar.
Amar redondo, o mundo circundar,
Cadê Dulcinéia, fugiram meus lugares,
Onde fico, dormem meus cansaços,
E a minha fadiga de me levantar.
Acorda-me amor, amor, com beijos,
Retira a infante veste,
A espada pesa, sinto que a loucura,
Deixara-me louco, por não te encontrar.
Campos, trigais, moinhos ao vento,
Vê-se distante, mais longe, te amo,
Mostra-me antes, dos caminhos limpos,
O lume longe do olhar da bela.
Ó formosura, amar encarnado,
Amor que sinto, corpo atormentado.
DIVAGAR
Também sei sonhar...
Às vezes vejo que em cada ser
Existe um outro que o faz
Sentir, mover-ser, amar, sofrer.
A rosa tem por fora uma cor
Um cheiro, uma forma .
E por dentro, como sinto ser
Também há algo que lhe sustenta
E lhe dar esses movimentos, de tempo
A cor, o brilho, o amor que inquieta.
Dentro do homem reside calada
Mas dona dos seus movimentos
Seus sentimentos, e até sua aparência
Uma alma, invisível, mas que se vê
Por esses rompantes, essas quedas
Que acometem o corpo.
Deus, que existe, dentro de nós
E fora do alcance do nosso olhar
Por habitar o longe céu
E o nosso coração tão perto.
Por isso sonho, ou tenho a certidão
De que Deus, eterniza-se
Pois o que lhe acontece nunca podemos ver.
E dizemos Dele infindável
Como o sonho, de outra forma
Que todos sentem
E que se passa de um para outro
Às vezes iguais
E sempre tão diferentes.
ENTENDER A VIDA
Quando tentamos entender a vida
Nos arriscamos ao precipício de uma estrela cadente
Que perde o seu rumo
E caminha no escuro
Perdida a luz das outras
Que ainda reluzem, mas já distantes.
Quem ao olvidar saber de si
Lembrará a convicção do alheio
Da vida de outros, quem?
Mergulhado em seu mar difuso
Encontra o sentido que os outros navegam?
Sabemos de nós,
Mas não sabemos do nada
E é o nada que somos
Quando convictos disto
Conseguimos avistar uma fresta
Ainda incapaz de caber nossa visão
Somos esses passageiros sem rumo
Ciganos do cosmos estrelas desgarradas
Ora estamos em nosso perfeito sentido
Quando julgamos errantes
Momentos depois dentro da vida
Nos convencemos que ela engana.
REFÉM
Algemada, fruto do meu coração
Consumada, minha própria condenação...
Viver sem ti, é estar sem mim
Mesmo sabendo aonde estou
Certo de que nada sou.
Certo demais,
De que não sou capaz.
Confinado, olhos da minha razão
Fustigada fio da minha canção.
lembro os teus olhos
Entre as vidraças
Te acostumando ao pavor
E eu me entreguei ao sabor
Da mesma pena e da mesma dor.
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naeno*comreservas
LADAINHA
Mãe do Santíssimo, ventre puríssimo,
Rogai por nós.
Mãe do rosário, amor lendário
Rogai por nós.
Mãe dos profetas, mãos tão afetas
Rogai por nós,
Mãe de Jesus, olhos na cruz
Rogai por nós
Ó Mãe do Lourdes,
De amores urdes um manto em nós!
Ó Mãe de Fátima, pedinte enfática,
Rogai por nós.
Vistas do céu, amor de mel,
Rogai por nós,
Mãe dos apóstolos, olhos a postos,
Rogai por nós
Mãe dos meninos, aves sem ninhos
Rogai por nós.
Ó Mãe das Dores, os teus amores,
São sempre nós!
Mãe dos aflitos, a quem assistes
Rogai por nós.
Ó Virgem bela, clara janela,
Rogai por nós
Mãe da esperança, nessas andanças
Chegai a nós.
Ó mãe dos velhos, belos espelhos
Rogai por nós.
Ó Mãe de Deus, nós somos teus
Filhos também,
E disso sabes, pois quantos cabem
No colo teu.
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naeno* com reservas
RUAS AFLUENTES
Ruas da minha cidade
São para elas que o rio acena
Em suas passagens tortas
Procissão dentro da caatinga
Cheio de água, de saudade
Pois sabe que a cada ponto
A volta se é mais improvável
E sua espera é certeza.
Do mar de outras cidades
Que não acena às suas ruas
Molha as suas encostas,
E nunca foi passageiro
Sempre ele vai, ele volta.
Um tubarão de espreita
Que engole o rio, sem pena
O rio que deixou saudades
Que à borda dele passaram.
Rio de minha cidade
Para ele as ruas acenam
Em pontos tão esperados
Que um gesto dista do outro
Que passa afogado em saudade.
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Naeno* com reservas
ATÉ AMAR
Infinitamente belo
É qualquer gesto que tu faças...
Como segurar a presilha com a boca
Antes de arrumar os cabelos.
Quando te declinas a pegar no chão
Um chinelo, um pano, o que te incomoda.
Quando exitas antes de deitar
E abre a porta e vai lá fora
Observar o que pode está fora do lugar.
Ai, amor! Só amando, com o bem que te quero
Sentindo-te ausente, ainda que perto,
E é com esse amor que a ninguém diz nada
Mas que para mim é como divindade.
E nunca duvido, nem sequer pensar
Que ele é demais. Nunca sobrou.
Porque como o ar que me faz falta até na morte,
É muito forte, farto, não sobra e nem falta.
Já me declinei diante de ti
Ajoelhado diante de uma Santa.
E se alguém, que não convém, pensar
Julgar que amor assim não subsistirá
Alucinado, com as estrelas cândidas,
Saiba: é um liberto em queda livre
E que um amor como o meu não conta
Ninguém no mundo que já sentiu, falou.
N a e n o
AMOR E MEIO
Ai, o amor de sempre.
Os mesmos efeitos colaterais
Os mesmos rompantes tardes
Um foco que a todos queima
Dor que dói e a gente ver
Nos lugares onde se mostra
Até onde não pisoteia.
Uma calmaria assolada
Com os danos à nosso sentido.
Amor, desnecessária espera
E dos mesmos a desesperança.
Aquilo do que se diz:
Quem planta, mal apanha
Ou leva o que não apanhou
Ou não apanhou o que levou.
Amor, essa confusão,
Um chega e sai, ao redor das brasas
Um posto de gás incendiado
Das bombas a ameaçar da rua inteira.
E quem assegura que o amor
Repõe danos, que se está assegurado
Quem lucre com seu dissipar.
Ai, o amor elevado sentimento
movimento em trocadilho
A batida dos pratos no apogeu da filarmônica
Desnecessário, mas que, se não fosse
Desmembraria a vida corriqueira
No rumo das manhãs.
Até amanhã, ilusões, até amanhã!
Decepção, depois se vê!
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Naeno*com reservas
MÚSICA
Eu Quero fazer uma música
Daquilo que tem doído
E que eu me lembre de tudo
Como lembro o teu sorriso.
Que a tua boca me prove
Na vida o que mais preciso
Que minha boca te sorve
Toco no teu paraíso.
Em mim pouco, mas comove
Muito já tão esquecido
Tudo o que pranteio escorre
Em rios E tenho descido.
Como garranchos e escoras
De cercados decaídos
E esta letra que chora
Lembrando-te, enternecido.
Quero que essa música toque
Em tudo que tem perdido
Eu quero que te retoques
A maquiagem mexida.
Que te olvides se choras
Porque o que bebo é só isto
E tenho tomado porres
De amargos tão esquisitos
Tenho lembrado piores
Estações já despedidas.
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naeno*comreservas
RECHEIO
O vazio ocupa o homem
Mais que a si mesmo.
Ele é a presença do nada
Por não ser que em si o tudo cabe
Por não ser que em si cabe o tudo.
O tudo completo, em forma de vida e vazio
A falta que é da própria vida.
Do homem que cabe e acolhe o invisível,
A alma se satisfaz disso...
Do homem, do que há nele e não existe
De recheio e do nada.
No entanto o homem não é o todo um nada
Que ocupa a vida, uma essência
E a falta, outra hóspede que o habita.
A descoberta da, mundo e do abandonado.
O homem é completo de vida, nada, vazio,
Vivíveis, fáceis convivas
E quando dorme, o homem e ocupa dos seus sonhos,
Sonhos que permeiam a vida, o vazio, o nada.
E se comunica, causando o caos, a tristeza,
O homem alegra-se com a vida, acordado.
Com o vazio entronizando,
Com o nada acostumado,
Com a vida que lhe deixa atormentado
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naeno*comreservas
PALMA DA MÃO
Eu não conheço a palma da minha mão.
Entre tantos cruzados de linhas,
E mais de um veio principal
Onde descambam as águas dos meus dias.
Não tenho noção do que seja a palma da minha mão,
Reconheço, e já é volumoso
As coisas que toco, a embaralhar meu destino.
Reconheço, quando a espalmo frente aos olhos,
Alguns poros suados, o anel centenário,
A cor, que coincide com a cor do meu corpo inteiro.
Na aventura a que me lancei,
Em me procurar e me achar,
Em algumas partes de mim deu pra ver
Outras nem que eu virasse o mundo o contrário
Daria para medir, saber, esboçar.
Alguém, como eu, desconhece, numa vista frontal
O seu crânio, seu cabelo, tal como tal, são?
Ou conhece seus buracos
Que só na cabeça contam-se sete,
Afora os outros por onde se mete
Nosso temor, dizer explorar.
E os seus encontros de mãos e pernas,
Como uma árvore, quem conhece?
O por trás todo, ninguém sabe o que é.
Sabemos dos outros, também minúcias,
Nada de definido se sabe
O que conhecemos de nós mesmos
Também os ouros conhecem,
E somos mais conhecidos por eles,
Do que por nós, da mesma forma inversa.
Se por fora de nós pouco sabemos,
Imagine um devaneio por dentro.
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naeno*comreservas
POEMA DO CÉU
Se eu vier a nascer de novo
Pedirei ao Deus da vida...
Seja esta a vez da minha morte.
Mandai-me velho, com todo o tempo que terei
E deixai que progressivamente eu regresse.
Largai-me cambaleante como uma criança
Nos seus primeiros passos
Que daí eu desça, remoçando
Com a carga pesada de tudo o que é meu
Das coisas que vi e fiz e repetirei de novo.
E siga esquecendo, desaprendendo
Diminuindo ou aumentando.
Destapados os ouvidos, limpos meus olhos
Que eu ouça e veja.
E que tudo vá se diluindo e consistindo
No olhar atento e sentidos perfeitos de moço.
Mas que eu vá me esquecendo,
E o que eu lembre dure o tempo de esquecer.
Que a mim seja da beleza
De primeiro ver o crepúsculo
Pra só depois ver a aurora.
Que as estrelas e a lua, eu veja antes
Que a luz ofuscante do sol.
Que as mulheres se surpreendam
Com os beijos que sugarei de suas bocas
Que eu siga de tudo esquecendo...
Que as estações se invertam
Da forma como eu venho vindo e indo.
Que eu veja as águas que não se repetem
No mesmo ponto do rio
Descidas distas dos meus olhos, um dia.
Que as chuvas primeiras sejam as derradeiras
E eu já colha antes de plantar, antes de arar.
Que o meu primeiro presente, uma bola furada
Dê-me a alegria de um menino encantado.
Que eu desça ou suba esquecendo...
Desaprendendo, perdendo e sendo o sentimento adulto.
Que de repente eu me veja
No regaço de minha mãe sugando o colostro,
E de tudo esquecido,
Que se abram as portas
Por onde entrei e saí pela segunda vez.
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naeno*comreservas
UMA TENTATIVA
Revolva-se o bom do tempo,
Todo silêncio.
Estanque-se os batimentos dos corações,
As pancadas das águas no fim do mar,
Silencie a abelha em sua arquitetura
Doce, doce.
Clareia e o mundo guisa, e faz barulho.
Quando não se emudece com o teu grito.
Tempo, para o silêncio,
Ou dá uma trégua
Da comoção de se estar vivo.
Vivo e só.
Morto e vivo, uma contracena,
Mentiras reveladas ao vento. Deus,
Feridas sem o vermelho rubro,
Tampa que não cobre a extinta morada.
De vertentes escorra, repúdio –
Tal como acostumaram a morte.
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naeno*comreservas
VAMOS
Vamos, vens comigo
E tudo te mostrarei
As estradas mais limpas
Onde já pisei tantas vezes
As estrelas que pegam em minhas mãos
O meu rosto liso
Do tanto que chorei por tua ausência
Por essa insistência tua
Em não me seguir
De não se dar o trabalho
De sequer ouvir o que digo.
Vem, vens comigo
Daqui eu grito o teu nome
Só que nem sei aonde
Agora tu estás.
Vejo tudo isso em grau de loucura
Por abandono.
O amor destrói um vivo quando quer
Com suas pulsações, suas alucinações
Mas nunca mata a si mesmo
Há a inexistência de oxigênio
De falta de caminho, do vazio
Que nos invade.
Vem, andas comigo
Porque este amor não está em mim
Está em ti.
É com ele que eu quero me acertar.
Morrer, viver
Pouco interessa se eu teamo
Pois o amor nos tira as tripas
Nos decepa o coração
O amor nos destrói por sua própria força.
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naeno*comreservas
FUNDO
Raspo o fundo da panela
A ver brilhar uma cor que desconhecia
E me alimento do ferro
De outras comidas servidas
E me viro ao pote e afundo o copo
E bebo barro diluído.
É a fome e é a sede,
É a minha casa e minha rede
Onde rumino o tempo e a ferrugem.
Já me acostumei com o grude
E disso passo, e lavo o prato,
E a colher com a ponta suja.
E volto em casa, e pego das mãos
O anel que era de minha mãe
A aliança que era de meu pai,
E os guardo atrás do quadro do Coração de Jesus.
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naeno*comreservas
POR TODA PARTE
Meus olhos como que varrem
Toda a extensão da terra
E pela reta do meu ponto
Ao teu olhar que se distrai
Faz da distância inatingível
Um porto pronto a me esperar.
Mas não me esperas e nem vês a mim
Por um sortilégio o vento é que traz
Estas visões dos mesmos jardins
A rosa, o cravo, dentro de mim fazem um vergel
Uma pintura suspensa, esta paisagem e o fim
Dessa esperança e da minha paz.
Todo alucinado enxerga esse cais.
Não, não é de vera esta primavera
Que antecipo ou adio na maluquice
Dos teus olhos flores, e dos meus, quimera
Porque só Deus torna à meninice
Só Ele pode refazer o que era
Que no tempo, vai e vem, resiste
Ao teu lugar. Ver-te quem dera
Poder de novo ver teus olhos tristes
Dentro dos meus na alegria mera
Olhando o cais que ainda resiste
ROSA SOLTA
Alguém deixou uma rosa cair no chão,
Será que foi da rosa a decisão
De não querer se dar
Por uma mão enganadora
Que a usaria como intento
Dizendo coisas ao vento,
Coisas tiradas dos dentes.
- Eu só me dou pelo coração...
A mão é apenas um instrumento
De arrancar-me, de ir,
Se abrir e dar-me.
Mas eu mesma vou
É dentro do coração.
Como as rainhas de antigamente,
Em suas gôndolas cravejadas,
A minha é bem mais guardada,
Eu só ando no coração.
- É, talvez seja por isto,
Por ir servir de remédio,
Ou em engano de assédio,
A rosa se balançou,
Dentro da mão traficante
Debateu-se, largou-se
E caiu no chão.
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naeno*comreservas
ROSAS DO CAMINHO
Eeu dei para a moça que trabalha no banco
Uma rosa de oito pontas.
Era uma rosa singela, tirada de um jardim
No caminho da agência bancária
Ela que andava esquecida de mim,
Com os olhos mais displicentes,
Que tivera antes sobre mim, mais atentos,
Um abrigo, para os meus olhos tão buliçosos.
E por este gesto senti que ela ficou
De vez por outra me notado.
Olhando a mim e a rosa.
Ela não tinha lugar para colocar a rosa,
E eu sugeri seu cabelo
Ela disse que não, que estava em serviço.
Ai meu coração falou: é isso, é isso,
Sugeri que ela a pusesse no decote.
Pior ainda.
Ela sorriu a fechou na mão e disse
Vou mergulhá-lo na água enquanto espera
Eu chegar em casa.
Tenho um vaso esperando por ela,
No criado mudo ao lado de minha cama,
É um vasinho, onde antes de dormir
Faço dormir o meu coração.
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naeno*comreservas
PROCISSÃO
Empurro o tempo com a barriga,
E será mesmo assim,
Que se conduz o andor tão delicado?
Não os paus nem a mão da fortaleza
Mas a imagem frágil da Santinha.
E aonde é que vai dar
A procissão comigo à frente,
Se daqui pra trás é que minha alma tende.
E deixo dia frouxo pra correr,
De mim que bulo em nada,
Nem sou incriminado por um exagero.
Santo leve que aos paus se engancha,
Se a correnteza for, como não espero,
Medonha.
Ligo os meus pensares numa linha tênue
Que faz que me liga
Mas à ponta pende,
Meu corpo monstruoso, indelicado espera,
Não me preparei pra morrer na véspera.
E sigo e toco e vou apartando o povo,
Procurando à frente, o que deixei atrás.
A na discórdia dos corpos do espaço,
Perco o meu provento,
Me perco do tempo,
Que já empurra com sua frente larga,
Do meu pé não deixa,
Minha vida não larga.
O DIA DA ESTRELA
Quando Tu, Criatura de Deus
Tomou assento no elevado
Com a mais nítida permissão
De proteger os teus
Uns esperavam outros se arrastavam
Peça criação da mulher, ateus
E sem saberem que a palavra
Seria a pensada recoberta.
Ante Ti fariseu se desvalorizavam
E urdiam os mais feios capeamentos
Que a celestial Majestosa
Por entre tortos caminhos O protegia deles
Ante a poderosa, que faz a flora.
A rainha entronizada em outro instante
Daqueles repletos de medo e coragem
Dos todos que a vida lhes continuarão
Decreto máximo da proteção, a brisa
E do fogo do vento, em seu coração.
Seu coração o aconselha
Pela Deusa, Deus manifesto preciso