Murilo Melo
Não vale a pena. Não quis continuar do lado de gente mesquinha, sem humildade, sem coração. Fiquei tão só, aos poucos, sem companhia mesmo. Fui afastando, ignorando essas pessoas que em nada acrescentavam. Quando dei conta, não ficou quase ninguém. Às vezes, nos feriados principalmente, fico na dúvida se a campainha está com defeito, porque ninguém vem me visitar. Então deixo a porta aberta, escancarada. Mas ninguém vem.
Nesses últimos dias resolvi pensar mais em mim. Tô dando um tempo disso de amar por inteiro, de viver pro outro, somente pro outro. É que cansei de amores imensos. Amores que, muitas vezes, mal cabiam dentro de mim.
(…) De uns dias pra cá andei chorando à toa. Como pouco, sinto náuseas, tenho febre emocional. Também me entreguei ao cigarro e percebi alguns nódulos espalhados pelos meus ombros. Algumas vezes também acordo assustado no meio da noite e perco o sono.
Hoje cedo, logo que acordei, prometi que dessa vez não vou querer que as coisas aconteçam ao meu modo. Já está claro pra mim que eu sempre quero tudo de uma vez e acabo ficando sem nada em todos os finais.
Não sinto nenhuma mágoa, não sinto nada. Não odeio ele. Só sinto pena por não ter dado certo. E não consigo entender o que levou a não dar.
Preciso viver um desses amores doídos, doidos, perigosos, contidos, rasgados, que dominam, corroem, devoram e enlouquecem logo por completo.
Acabei me entristecendo aos poucos. Não aguento todo esse peso do mundo, entende? E, de tão vago, não sei sequer dizer do que se trata, o que ou quem foi o culpado por tudo isso. Penso que eu também não sou a vítima. Mas queria deixar claro que isso é o que menos importa. Sei que vou sofrer por um bom tempo, talvez não tenha cura.
E justamente quando eu consigo me afastar, quando eu consigo tirar da cabeça, e chego a pensar que me desapaixonei, você volta, me envolve e me faz voltar.
Você não sabe da metade. Aliás, você não sabe de nada. Muito menos que eu passo a maioria das noites preocupado com você.
Há um tempo eu venho pensando em desistir, sair dessa loucura, mas só hoje eu tomei coragem. Não vale a pena continuar.
De uns tempos pra cá, fui percebendo uma frieza que não existia. Não digo pelo clima — Salvador faz um calor danado —, mas por tudo o que anda acontecendo comigo.
E lá vou eu, mais uma vez, mudar minhas roupas, meu cabelo, renovar gostos e conceitos. Acreditando que, algum dia, as outras coisas possam também mudar.
Passei também a não atender celular. Com o tempo, já não marquei mais nada e fui cortando papo. Não queria mostrar que estava tudo bem, porque não estava.
Lamentei porque não chegou a acontecer nada. Porque se ao menos tivesse acontecido, isso o que eu sinto faria mais sentido.