Murilo Melo
(...) Não o culpe se não der certo. Não se preocupe, não se culpe, se ocupe. Se você acordar desse sonho, é isso mesmo, flor, coloque na cabeça que acontece. É coisa do tempo, é coisa da vida, é como capítulo de novela. Um dia tem que acabar.
Resolvi sumir por um tempo, me afastar, deixar essas coisas de lado. E agora estou tentando tirá-lo da cabeça. Ainda não sei se tudo isso é descanso ou desgraça.
Você sabe que não fui eu quem desisti. Sabe que eu fiquei e ficaria até os últimos dias da minha vida.
Ando muito antipático, um tanto antissocial e com a estranha sensação de que nada de novo chega. Eu canso das coisas radicalmente, ignoro com facilidade. Meu comportamento é tão vago, que nenhum psicólogo sabe sequer dizer do que se trata.
Eu me pego te ligando, te procurando nos lugares, te pedindo em qualquer pedido. Vem sendo um desafio cumprir o que eu prometi deixar de fazer.
(...) A saudade mora no beijo de chuva que não aconteceu, no retrato que não tiramos, nos sonhos perdidos no travesseiro (...).
Confesso que acabei ficando puto da vida com todos os textos doces que escrevi sobre ele. Tão puto, que eu já não conseguia mais dormir e comer direito.
(...) A testa sente falta dos beijos de boa noite e a cintura sussurra o aperto dos seus braços. Tem muito espaço no guarda-roupa e isso me irrita, me preocupa, causa agonia. Penso que dia desses você volta, então deixo o espaço vago. Acho que não é preciso me adaptar com a sua falta, você volta, eu sei, eu sinto (...)
Era só mais um idiota que ficava rodeado de amigos também idiotas, falava besteira e comentava das meninas que passavam. Mas alguma coisa nele, que eu não sei ao certo explicar, me chamava atenção como um vício.
Eu nunca vou entender porque de tantos desencontros, de tanta falta de coragem, de tanto deixar pra depois. Ninguém nunca vai conseguir me fazer entender porque você é tudo o que eu quero e pedi, e eu sou tudo o que você quer, tudo o que você pediu; mas a gente não dá certo.
E de repente atrasado. E de repente com sono. E de repente cansado de tudo. E de repente feliz. E de repente cheio de ideias. E de repente cheio de planos. E de repente com saudade. E de repente ele. E de repente não é mais ele. E de repente sem ninguém. E de repente... Eu já nem sei o que vai acontecer com o meu corpo. Todo dia é um desespero. Será que um dia me encontro no meio de tanta bipolaridade?
(...) Me enxergo no reflexo do espelho e não vejo nada além de palidez e cansaço. As cores se foram.
Eu queria encontrá-lo em um daqueles barezinhos que ele frequentava na Odilon Santos e dizê-lo que agora não dói mais. Planejei sentar em uma das mesas da Casa de Tereza, pedir um drinque, olhá-lo e disparar um riso alto com os meus amigos. Queria mostrar que eu estava bem, recuperado, cheio de vida e fôlego. Mas depois, por uma razão que desconheço, pensei que não seria necessário tudo isso. Ele sempre foi bem esperto. Veria só de olhar nos meus olhos que era tudo mentira, mais uma encenação barata.
Aí foi que finalmente eu me dei conta que, toda vez que te vejo na rua, mesmo depois de quase sete meses distante, eu sempre me derreto e me apaixono por você. Dei conta que sempre estive pronto pra começar algo, pra dormir e acordar vendo aquele sorriso doce, enorme, indispensável. Eu só queria poder te ter além desses acasos da vida, mas é que pra mim é difícil aceitar as coisas desse jeito, é difícil aceitar ser a sua segunda opção.
Eu disse “Não se preocupe comigo”, enquanto na verdade eu queria gritar “Por favor, cuida de mim só mais um pouco”.
E eu, apesar de tantos desamores, continuo acreditando que algum dia - nem que seja por tão pouco, nem que seja por quase nada - alguém se apaixone de verdade e as coisas finalmente deem certo. É como um "dane-se" pra mim mesmo. Vou continuar tentando, conhecendo, quebrando a minha cara.
Porque seria burrice demais perdoar o mesmo erro pela terceira vez. Compreendi, de uma vez por todas, que não dá pra ficar tentando fazer suco com fruta podre.